sexta-feira, 2 de julho de 2010

Visõe - Luiz Tatit

Visões - Luiz Tatit

Vendo daqui, é um avião
Vendo daqui, é um passarinho
Quem vê daqui vê assombração
Quem vê daqui vê só um bracinho
Quem vê daqui vê bem o mar e o sertão
Quem vê daqui em vez do mar vê um pomar
Não vê sertão, mas vê certinho
Vejo aqui a luz que tomou conta
Que avermelhou de ponta a ponta
Quem vê daqui aprenderá
Que o mesmo sol renascerá
Só pra depois se retirar
Virá, irá
E aí?
A lua vem
E aí?
A lua vai
E aí?
E volta o sol
É sempre o sol
O sol e só
O sol é lei
É lei
O sol é rei
É rei
É um farol
Só dá o sol
O sol e só
É só o sol
É só
Solando só
Sol e só
Quem vê daqui não vê o fim
Quem vê daqui não vê inteiro
Mas é capaz de ver de longe
Uma agulha no palheiro
Quem vê daqui não sente falta de visão
Não sente falta de vizinho
Quem vê daqui
Não tá sozinho
Nem cabe em si
Vejo um caminhão no seu caminho
Leio uma versão do seu versinho
É uma luzinha que vai daqui
É uma ilusão que vem daí
E a luz do sol tocando em mim
Luz
Pra quê?
Pra reluzir
Pra quê?
Pra refletir
O quê?
Tudo que vi
---
Sol
Pra quê?
Para solar
Pra quê?
Pra colorir
O quê?
O que vivi
---
Som
Pra quê?
Para somar
Pra quê?
Pra ressoar
O quê?
O que senti
Som e sol
Tocando em nós

Sol: clarão
Som: clarim
Vemos as florestas triunfantes
Transformadas em capim
E uma enorme banda
Reduzida a um clarim
---
Luz, ação
Som assim
Quem olhar daqui
Inda vê gente
Desejando ser feliz
E daqui
Só vê uma parte do nariz
Quem olhar daqui
Vê muita coisa acontecer
É, daqui não vê


Essa cançaõ é de um compositor do qual gosto muito mas que não é muito conhecido por aqui, em São Paulo suas composições são mais difunditas. Sugiro que vocês procurem alguma gravação ou vídeo de alguém cantando, indico uma cantora chamada Ceumar.

Eu gosto dela por muitos motivos: se ouvirem, vocês perceberão que ela é um diálogo; ou seja, são duas pessoas expondo seus pontos de vista, expressando aquilo de seus olhares alcançam e a diferença entre estes. Essa diferença é explicitada a partir do uso de "diminutivos" e "aumentativos" que ao serem cantados soam como antônimos.

Essa música nos faz pensar como estamos impregndos de uma certa visão e que esta nos constitui enquanto sujeitos. No entanto, devemos considerar que essa visão foi contruída através de inúmeros processos e que portanto, pode ser desconstruída dando lugar a algo novo. Pôr em análise tais processos nos faz questionar certas naturalizações e suas resonâncias. Com efeito, devemos nos lembrar sempre do quanto esse lugar que ocupamos, enquanto futuros psicólogos, é aquele que enuncia um discurso e por isso uma visão. Considerar a potência desse posicionamento ético é colocar em análise nossa visão enquanto sujeitos e, potanto, pôr em análise nossa própria escolha pela Psicologia.

2 comentários:

  1. Estamos impregnados não de certa visão, mas estamos impregnados de muitas visões. E o pior, não nos damos ao trabalho nem de parar e ver se concordamos ou não, muitas vezes e a maioria de nós até reclama, diz que poderia ser diferente, mas nada faz para que seja, ou quando tem a chance, escolhe não fazer. E não faz porque o que é novo exige tempo, exige esforço e dedicação, porque o que é novo exige no mínimo adaptações de soluções antigas, dá trabalho, cansa... Deveríamos nos permitir mais esse exercício de enfrentar o novo, de desconstruir o que está dado, o que está impregnando nossa visão.

    Marcelle Melo

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