segunda-feira, 5 de julho de 2010

A resistência de uma turma!


Há algumas aulas venho me questionando porque a resistência e insatisfação da turma quanto ao conteúdo apresentado na disciplina, e mais ainda, porque de certa forma me parecia que o conteúdo não avançava. Na aula do dia 22/06 essa questão ficou mais clara pra mim. Esta aula foi a que o professor falou sobre a Análise Institucional e Práticas de Pesquisa.
A impressão que eu tenho é que o novo, de fato, nos leva a um estranhamento, e um julgamento deste como esquisito, e desta forma é mais fácil colocá-lo de do que tentar entender. O estranhamento na disciplina parece ter começado no sujeito colocado em debate, ele foi o nosso primeiro estranhamento. Nós já entramos na faculdade com uma visão de sujeito que tende a uma estagnação da sua forma de pensar, aquele que passa pelo desenvolvimento e num a certa etapa da vida já não tem porque mudar, ele caminha ao encontro de um ponto que possa estabelecer uma forma fixa de ser e pensar, e se essa forma for de alguma maneira transformada, este sujeito tem algum desvio. Sendo assim, não paramos pra pensar em tudo que nos atravessa a todo momento, nos tirando de um possível engessamento- este sim pode ser patológico- e nos levando a pensar e reavaliar aquilo que nos era dado como certo. Os nossos processos de escolha passam por essas forma de pensar, de ver o mundo, e que não são os mesmo durante a vida, e não é por mudar a nossa visão que isso quer dizer que nossas escolhas estejam erradas ou ainda que não podemos fazer novas escolhas.
A nossa formação acadêmica também é causa desse estranhamento que a disciplina nos causou, somos levados por essa formação a nos ver, enquanto psicólogos, num patamar de neutralidade e muitas vezes de superioridade, que não cabe na proposta da disciplina onde somos não só causadores de atravessamentos mas também sofremos atravessamentos por nossa prática.
Esses estranhamentos pelo qual passamos na disciplina, podemos observar em outros diversos aspectos de nossas vidas se pararmos pra observarmos como agimos, deixando de naturalizar nossas tomadas de decisões, e para isso que isso se torne mais fácil, a análise de nossos processos de escolhas se apresenta como uma ferramenta. Nos falta disposição muitas vezes para mudarmos de lugar, somos uma minoria dominante, com saberes construídos de forma heteronormativa,e tendemos a isolar o que vemos como estranho, a julgar e apontar. Estamos sempre focando no objeto e nunca na lógica. Não vemos nossas maneiras de ser e pensar como construídas e datas historicamente, impossibilitando que possamos ver também além delas, ou mesmo pensar em modificações da mesma.
Eu também me sinto coagido ao ter que escrever no blog, mas acho que precisamos nos sentir mais seguros e capazes de sustentar nossos discursos. E se em algum momento percebermos que não estamos corretos o que nos impede de reavaliar este discurso e refazê-lo?!

8 comentários:

  1. Concordo com você Nilton, mas acho também que houve um estranhamento acerca do incômodo que o estranhamento pode causar. Estamos acostumados a ouvir um tipo de discurso que traz outra concepção de sujeito. Ao ouvir um novo conceito, considero normal incomodar-se ou resistir. Refiro-me ao desânimo do professor, tutores e monitores em relação a essa resistência. Concordo que existe um problema de leitura dos textos (que para mim é um problema de alunos de graduação e não da UFRJ), mas acredito também que parte dessa resistência deveria ser esperada pelo professor. Essa resistência também está relacionada a todo um contexto de educação, onde ser bom aluno e ir a uma instituição, ouvir o que é passado por outro que detém o saber, assimilar o máximo possível e se possível tirar 10 na prova!! Ficamos anos e anos vivendo essa lógica e quando chegamos no curso de graduação, principalmente num curso de psicologia, onde há uma ebulição de conhecimentos em construção, somos convidados, por alguns professores a nos questionar e criar novas possibilidades. Ressalto aqui, que essa forma de conceber a transmissão do conhecimento, também contamina alguns professores, que empurram “goela a baixo” sua forma de conceber o sujeito e teorias que defendem como se fossem verdades únicas e absolutas. Somos convidados a assumir esta postura passiva muitas vezes... Acho que aquele professor que se propõe a assumir uma postura diferente deve estar pronto para desagradar, produzir resistências, que com certeza afetam as pessoas e por isso produzem tudo que produziram nas aulas. Além disso, acho um período de menos de 4 meses é muito pouco para chegar a conclusões se valeu a pena ou não produzir este tipo de discussão, às vezes as coisas que ouvimos fazem sentido muito tempo depois, ou refazem seu sentido diante de novas coisas! Por isso, não desistam de dar essa matéria nos próximos períodos, e quem sabe podem inserir uma reflexão sobre a escolha sobre a forma como o conhecimento nos é transmitido? Bem é isso... para mim valeu a pena!!
    Marta Montenegro

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  2. Gisele de Oliveira e Souza6 de julho de 2010 às 16:11

    Concordo um pouco com o Nilton, houve uma resistência muito grande de uma parte da turma sobre a disciplina, mas não acho que foi a maioria. Muitas vezes ouvi alguns questionamentos em sala com o objetivo de auxiliar na construção de um entendimento sobre a teoria, em outros momentos via claramente os questionamentos como uma forma de provocar embates e desestabilizar ou desacreditar a teoria que estava em questão e a prática decorrente desta. Acredito que o novo causa estranhamento, mas principalmente nós como psicólogos precisamos estar menos fechados em nossas concepções e teorias, principalmente ao lidar com sujeitos tão diferentes e estranhos a nós em nossa prática. Muitas vezes na faculdade vi pessoas defendendo calorosamente uma teoria, no entanto não estamos aqui na faculdade (não só aqui) para nos limitarmos a uma teoria ou a uma forma de conceber o sujeito, podemos eleger ao longo de nosso percurso uma forma de perceber esse sujeito, mas sem nunca esquecer que existem muitas outras que são igualmente válidas para pensar este mesmo sujeito.

    Gisele de Oliveira e Souza

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  3. Concordo plenamente com o que a @Marta Luiza falou, acho que ouve um erro com as implicações que essa proposta traria para a turma e no tempo que teríamos para trabalha-las. Acredito que a grandiosidade do tema necessitaria de mais tempo para ser melhor explorada.

    Ao longo da faculdade temos intermináveis matérias que tratam de Psicanálise, pelo menos 3 períodos tendo aula no fundão, 2 aulas semanais de Psicopatolgia, 4 horas de estatística, mas somente entre 1~2 horas para fazermos toda uma reestruturação do modo que entendemos o ser humano e seus processos de escolha. Disciplinas como TCC e Humanista-Existencial tem direito a aulas de 4 horas semanais, imagino que seria tão importante como termos mais tempo para discutirmos.

    O problema da leitura dos textos é um problema que ronda o IP há anos, todo período os alunos e professores enfrentam a mesma questão. Acho que algumas vezes esquecemos que a própria UFRJ está inserida dentro de um contexto maior, e que o próprio aluno tem uma vida fora da
    faculdade. Imagine o que é para um aluno que faz estágio de 6 horas diárias em uma empresa, ter quer ler o texto de 6 matérias ao mesmo tempo, se preocupando ainda em ter uma vida social e ainda se manter saudável.

    O aluno no final acaba fazendo uma escolha.

    Devo estudar para passar na matéria ou me esforçar para ser efetivado? Devo tentar um bom estágio agora logo no começo da faculdade para ter um bom currículo ou devo me concentrar em não ter matérias pendentes?

    É claro que existem muitas outras possibilidades de escolha, só queria por em perspectiva que os problemas que enfrentamos na sala de aula estão dentro de um conjunto maior de fatores que devem ser relevados.

    o/

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  4. Concordo plenamente com o que a @Marta Luiza falou, acho que ouve um erro com as implicações que essa proposta traria para a turma e no tempo que teríamos para trabalha-las. Acredito que a grandiosidade do tema necessitaria de mais tempo para ser melhor explorada.

    Ao longo da faculdade temos intermináveis matérias que tratam de Psicanálise, pelo menos 3 períodos tendo aula no fundão, 2 aulas semanais de Psicopatolgia, 4 horas de estatística, mas somente entre 1~2 horas para fazermos toda uma reestruturação do modo que entendemos o ser humano e seus processos de escolha. Disciplinas como TCC e Humanista-Existencial tem direito a aulas de 4 horas semanais, imagino que seria muito interessante termos mais tempo para discutirmos.

    O problema da leitura dos textos é um problema que ronda o IP há anos, todo período os alunos e professores enfrentam a mesma questão. Acho que algumas vezes esquecemos que a própria UFRJ está inserida dentro de um contexto maior, e que o próprio aluno tem uma vida fora da
    faculdade. Imagine o que é para um aluno que faz estágio de 6 horas diárias em uma empresa, ter quer ler o texto de 6 matérias ao mesmo tempo, se preocupando ainda em ter uma vida social e ainda se manter saudável.

    O aluno no final acaba fazendo uma escolha.

    Devo estudar para passar na matéria ou me esforçar para ser efetivado? Devo tentar um bom estágio agora logo no começo da faculdade para ter um bom currículo ou devo me concentrar em não ter matérias pendentes?

    É claro que existem muitas outras possibilidades de escolha, só queria por em perspectiva que os problemas que enfrentamos na sala de aula estão dentro de um conjunto maior de fatores que devem ser relevados.

    o/

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  5. Fernanda Grisolia Rimes7 de julho de 2010 às 19:42

    Acredito que na faculdade de psicologia existem aquelas pessoas que defendem as teorias que mais simpatizam e acreditam que as outras vertentes da psicologia estão equivocadas e não possuem uso dentro das práticas profissionais.
    Muitas dessas práticas, a meu ver, são instigadas pelos próprios professores do instituto que a cada aula travam um embate contra outra teoria que não seja de seu agrado.
    É claro que possuímos nossas preferências, mas é necessário pensar além. Não se pode descartar algo sem antes tomar conhecimento profundo deste para perceber que aquele conteúdo realmente não deve ser aproveitado. Creio que esse seja o grande problema do novo. Na verdade, o problema seja o velho, a tradição e a falta de conhecimento sobre o novo. Nós, profissionais de psicologia, precisamos estar mais abertos a aprender e fugir do comum.

    Fernanda Rimes - DRE: 106026720.

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  6. Acredito que a resistência da turma não ocorreu devido a uma não identificação com o tema proposto pela disciplina. É claro que quando as pessoas se inscreveram na turma não imaginavam a proposta que seria trabalhada, tão diferente do "ideal" quando refletimos sobre o assunto. Creio que o que gerou toda essa resistência, além desse desalinhamento de expectativas, tenha sido a proposta de avaliação. A perspectiva apresentada foge ao comum, pois exige uma aceitação da mudança no que se refere a um instrumento consolidado na sociedade - a prova - reforçado até então como uma ferramenta de grande valor ao proporcionar a análise do certo e do errado. Ao sugerir o blog como avaliação, a disciplina desconstrói essa relação bem sucedida levando os alunos a questionarem o que seria avaliado e como seria avaliado, visto que agora não há a expectativa da resposta certa, não há um padrão.

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  7. Eu também estranhei muito no começo da disciplina, poisem todas as outras disciplinas tendemos a ter uma idéia pré-determinada de como será a matéria, antes de a fazermos. Em geral, é comum ver as pessoas perguntando umas as outras como é o professor, ou as formas de avaliação de uma determinada disciplina, e desse modo, a impressão que tenho é de que nos sentimos mais seguros assim. Entretanto essa disciplina, por ser inédita nos dificultou uma dimensão a cerca de como seria, e foi nesse âmbito, a meu ver que o estranhamento iniciou-se. A partir desse contexto, todas as idéias diferentes das de costume causaram estranhamento, e em muitos uma sensação de desconforto.
    O mais engraçado, é que a prova, por exemplo, é um tipo de valiação criticado por muitos dentro do IP, entretanto, quando se tentou fugir dela, através do Blog como avaliação, não obteve-se aderimento satisfatório.Concordo com muitos dos comentários acima, no que tange a um certo desconforto de escrever para um blog, mas tal desconforto é compreensível, quando remete-se a algo novo, o "sentir-se à vontade" vem com o tempo, com a adaptação (ou não).
    Acho que o principal problema é que, talvez não tivemos tempo suficiente para nos adaptar a
    tantas informações diferentes.
    Todavia, pelo menos a meu ver, a disciplina foi incrível, e lamentaria se ela deixasse de existir, por que ao contrário da maioria das disciplinas do IP, ela nos proporcionou questionamentos abertos, e além disso um contato com o novo, o qual pode não ter sido suficiente para fazer com que nos adaptemos, mas que foi suficiente para ver o novo também como uma possibilidade de escolha, assim como o sujeito não só como algo determinado, mas prncipalmente, como algo em constante processo de transformação (como tudo na vida!).

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