sexta-feira, 9 de julho de 2010

O que permeia a escolha?

Esta é a pergunta fundamental para nosso curso, e, no entanto, não é simples de ser respondida. Dedico este texto a responder a mesma de acordo com diversas perspectivas teóricas, que, independente de terem sido abordadas em sala de aula ou não, são interessantes para o estudo. Para tanto foram utilizados o existencialismo, a psicanálise, a psicologia evolucionista, e, por fim, uma das aulas de Deleuze onde ele se dedica a falar de Spinoza, um neerlandês que influenciou Schopenhauer, Nietzsche e Bérgson, dentre outros, e que, direta ou indiretamente, esteve muito presente em nossas aulas.

Para a psicologia evolucionista, todas as escolhas são guiadas a partir de uma “memória ancestral”. Isso significa que nossas escolhas são baseadas em escolhas que se mostraram eficientes para nossos antepassados. Em tempos antigos, fazer uma escolha ruim significaria prejuízo grave, e em muitas das vezes, morte. Então, só sobreviveram e passariam suas características os indivíduos que soubessem escolher bem, dessa forma passando sua programação adiante. Ou seja, a programação de fazer boas escolhas foi sendo passada até os dias de hoje. Assim sendo, existe um determinismo evolutivo que permeia as escolhas.
Para a perspectiva psicanalista, toda a escolha humana tem base inconsciente. Este inconsciente seria um determinante sobre o sujeito. Todas as ações, idéias, pensamentos e qualquer atividade humana seriam uma forma do inconsciente se expressar. Esta força determinante seria segundo Freud um “leão que não pode ser domado”, ou seja, ele sempre vai estar presente guiando as escolhas do sujeito sem que ele tenha ao menos a certeza de saber o que o “leão” deseja. Dessa forma, quando o sujeito acredita estar fazendo escolhas, ele estaria por completo imerso dentro do jogo do inconsciente, que manipularia tudo que permeia o ato de escolher sem deixar claro para a pessoa nenhum traço de sua presença ou influencia. Freud se dedica então a compreender o funcionamento do inconsciente.
Sartre por sua vez critica qualquer determinismo. Para ele, o ser humano é livre. Livre por não ter um objetivo essencial, sua existência não tem um sentido apriori. Sua essência é construída por ele mesmo, e mesmo se houvessem sinais no mundo de um objetivo maior, o homem decifraria estes sinais como lhe aprouver. Dessa forma, Sartre pensa portanto que o homem, sem qualquer espécie de apoio, está condenado a cada instante a inventar o homem. Portanto a angústia existencial compreende o compromisso diante de um mundo que eu não escolhi mas ao qual estou para sempre atrelado e todas as escolhas éticas que surgem desta relação.Assim sendo, todas as minhas escolhas definem quem eu sou, e estou condenado a fazê-las individualmente, tendo total responsabilidade sobre as mesmas.
Já para Spinoza, o que permeia as escolhas é o afeto. Para ele, toda escolha é motivada por paixão. Ele critica o racionalismo por acreditar que o homem, apesar de ter a razão que supostamente o diferencia dos outros animais, ainda é um mamífero, portanto, animal. Não é portanto, um ser de exclusiva razão mais um ser complexo, onde o afeto tem grande papel. Deleuze diz que para Spinoza:
“O afeto não se reduz a uma comparação intelectual das idéias, o afeto é constituído pela transição vivida ou pela passagem vivida de um grau de perfeição a outro, na medida em que essa passagem é determinada pelas idéias; porém em si mesmo ele não consiste em uma idéia, ele constitui o afeto.”
Para exemplificar o que está explicando, Deleuze utiliza um exemplo. Existem duas pessoas, Paulo e Pedro. De Paulo eu gosto, de Pedro não. Isso equivale a dizer que quando eu vejo Pedro, sou afetado de tristeza; quando eu vejo Paulo, sou afetado de alegria. Dessa forma, quando eu passo da idéia de Pedro à idéia de Paulo, a minha potencia de agir, ou seja, a minha motivação é aumentada; quando eu passo da idéia de Paulo à idéia de Pedro, minha potência de agir é diminuída. Sobre essa teoria de variação contínua constituída pelo afeto, Spinoza irá determinar dois pólos, alegria-tristeza, que serão para ele as paixões fundamentais: a tristeza será toda paixão, não importa qual, que envolva uma diminuição de minha potência de agir, e a alegria será toda paixão envolvendo um aumento de minha potência de agir.
Para Spinoza, inspirar paixões tristes é necessário ao exercício do poder. Nessa construção, a relação com nossa aula é clara. Quem tem mais poder inspira paixões tristes à quem tem menos poder. Ou seja, as escolhas difíceis, que necessitam de motivação, de potência de agir, deixam de ser vistas como escolhas difíceis e passam a ser entendidas como escolhas impossíveis, por culpa da paixão triste instaurada.
Para estas paixões instauradas Spinoza emprega o termo "automaton". Segundo ele, nós somos fabricados como autômatos espirituais, ou seja, é preferível dizer que são as idéias que se afirmam em nós do que dizer que somos nós que temos idéias. Então, enquanto autômatos espirituais há o tempo todo idéias que se sucedem em nós, e de acordo com essa sucessão de idéias, nossa potência de agir ou nossa força de existir é aumentada ou é diminuída de uma maneira contínua, sobre uma linha contínua, e é isso que nós chamamos afeto. Afeto portanto que vem a ser a variação contínua da força de existir de alguém, na medida em que essa variação é determinada pelas idéias que ele tem, influenciando assim em suas escolhas.

Quanto a assinatura, não entendo o porque de colocar nome, mas como parece ser a regra, o humilde texto acima foi escrito por Pedro Menezes Moraes. A bibliografia é quase tudo o que eu já li, me especial o link: http://www.webdeleuze.com/php/texte.php?cle=194&groupe=Spinoza&langue=5
Por sorte, minha internet não me traiu nesse último momento e vou conseguir postar. Gostei muito do que eu já li aqui, tem alguns textos de ótima qualidade!

Nenhum comentário:

Postar um comentário