sábado, 3 de julho de 2010

Para Concluir...
Iniciei minha trajetória na temática da orientação vocacional no ano de 2007, quando me candidatei a uma vaga de estágio em um pré-vestibular comunitário – PVC Almirante Negro. Nunca havia tido nenhuma experiência com esta proposta, sabia que este era um campo de atuação para psicólogos, mas dentro de minha formação ainda não havia estudado nada a respeito.
O que inicialmente parecia apenas uma oportunidade de estágio que complementaria minha formação acadêmica se tornou um grande desafio profissional, uma vez que percebi a necessidade de me implicar em questões que dizem respeito não apenas a Psicologia, ou pelo menos não aquela Psicologia desimplicada que até então conhecia. Trabalhar no pré-vestibular comunitário com estudantes de origem popular demandava pensar uma Psicologia que estivesse criticamente implicada com questões de ordem política, econômica, histórica e cultural.
Logo percebi que uma prática tradicional, baseada no levantamento de perfis a serem comparados com estereótipos profissionais, não se adequava aos pressupostos que sustentam o movimento dos pré-vestibulares comunitários. Estes investem na promoção de uma educação crítica, na crença de um sujeito que, possivelmente poderia ser visto com descrença social, mas a partir de perspectiva de implicação ativa e construção contínua é convidado a empoderar-se de sua existência.
Assim, a perspectiva tradicional ou estatística por um lado, não atende aos objetivos do pré-vestibular comunitário, e por outro não fazia sentido dentro da concepção de Psicologia que eu decidi me aproximar. Isso me conduziu a buscar outros pressupostos teóricos para a orientação deste trabalho. É nesse sentido que gostaria de destacar as contribuições desta disciplina, não apenas no que diz respeito à possibilidade de pensar uma nova forma de intervenção através da proposta de Frotté (2001) da Análitica do Vocacional, mas também no que se refere a um reposicionamento da Psicologia, nesta discussão destaco as contribuições de Abreu e Coimbra autoras do texto: Quando a clínica se encontra com a política.
Apesar de muitas coisas parecerem mais claras, ao longo da disciplina percebi que como eu, outras pessoas se angustiavam com a questão da escolha. Entender o homem como um ser a ser construído a partir de uma relação de caráter dinâmico e dialético estabelecida com o âmbito social é muito mais fácil do que pensar a questão da escolha, pois parece que ao tematizarmos isto, estamos pregando uma liberdade irrestrita e delegando ao sujeito a condenação de exercer-se.
Acredito que para a elaboração deste trabalho - orientar vocações - é de extrema relevância que o profissional tenha clareza das concepções de sujeito e escolha que delineiam sua prática. É sob esta motivação, e em concordância com a conclusão de Bohoslavsky (1977) de que a orientação vocacional está comprometida não apenas com aspectos clínicos, mas também filosóficos, pois coloca em questão à liberdade humana que decidi buscar estabelecer um diálogo com os pressupostos existencialistas.
O existencialismo consiste em um movimento filosófico e cultural que surge no período entre guerras no eixo intelectual entre a Alemanha e a França. Sua principal contribuição ao assunto que discorremos consiste na possibilidade de fundamentar uma nova concepção de homem, a qual está sustentada pelo pressuposto de que a existência precede a essência, apenas o homem não está predeterminado quanto ao seu sentido, só ele é livre. Concebendo a existência humana enquanto contingência, ou seja, liberdade e indeterminação, esta implica escolha e responsabilidade.
Busquei, através deste relato, posicionar-me frente ao que considerei as maiores contribuições desta disciplina. Lastimo o fato dela não ter sido bem avaliada pelo professor, já que este manifesta o desejo de não oferecê-la novamente. Espero que isto seja repensado, pois suas contribuições para minha formação foram grandes.

Até breve,
Carla Freitas

4 comentários:

  1. Camila Carla Monteiro de A. Rocha4 de julho de 2010 às 21:50

    Oi Carla, considero suas palavras muito sinceras e encontro aqui um espaço para dividir um pouco da minha opinião também. Confesso que inúmeras vezes questionei até que ponto o que estava aprendendo na disciplina era algo novo, pois sentia que os temas estavam embasados em teóricos, a meu ver, muito interessantes, mas que não havia muito o que falar em termos de psicologia que não parecesse um discurso repetido a favor da desnaturalização e contra o reducionismo que “chove no molhado”, por assim dizer, algo de uma positividade, de um sujeito irrestrito que me incomodava bastante, pois via uma ingenuidade nisso tudo que me deixava com um pé atrás. Acho que seu depoimento sobre sua experiência com o pré-vestibular comunitário demonstra bem que tomamos caminhos diversos em nossas vidas, às vezes bem diferentes do que imaginávamos, por mais que tenhamos planos nada garante que se realizem e muito menos que se tivessem se realizado isso seria o melhor para nós. Afinal, o que é o melhor para nós? Existe isso sequer? Posso dizer que essa disciplina não foi o que pensei, mas nada garante que o que pensei fosse melhor do que o que tivemos e posso afirmar que nessa disciplina diversas vezes me questionei sobre o que buscava na psicologia, o que está por trás da minha prática nos estágios, que tipo de psicóloga pretendo ser e quem é esse sujeito que chegará até mim. Essa disciplina quebrou com o que pensava que deveria ser uma disciplina de Tópicos Especiais em Psicometria G de Análise do Vocacional da Psicologia da UFRJ, mas não de um jeito ruim. De forma alguma foi repetitiva e definitivamente a tal crise de que tanto se falou foi feita e algo importante se ergueu junto a ela, demos opiniões, falamos, construímos, discutimos. Não acho que a disciplina deu errado, pois superou a si mesma e a seus planos. E o que é dar certo? Corresponder às expectativas? Tais questionamentos já dizem muito do que estou querendo passar. Discutimos sobre as escolhas, os critérios de escolha, se sempre é possível escolher e no final das contas isso tudo me afetou bastante, pois concordo com muita gente que nem sempre escolher é um verbo disponível, mas compreendo que há processos de escolha, critérios eleitos por detrás de nossas escolhas, que nos passam como verdades, como naturais e talvez nunca sejam questionados. Mesmo que as escolhas para alguns sejam feitas por um critério econômico, o importante é saber que há esse critério por detrás dessa escolha, por mais que ela pareça inevitável e que por escolher de outra forma acarretasse mudanças aos sujeitos que são inimagináveis, acho que não podemos dizer que não existem outras formas de escolher, é injusto e determinista. A matéria me foi relevante sim, as discussões que tivemos foram estressantes, mas potentes demais para serem entendidas como erro.

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  2. Camila Carla Monteiro de A. Rocha4 de julho de 2010 às 21:58

    Oi Carla, considero suas palavras muito sinceras e encontro aqui um espaço para dividir um pouco da minha opinião também. Confesso que inúmeras vezes questionei até que ponto o que estava aprendendo na disciplina era algo novo, pois sentia que o que falava parecia um discurso repetido, a favor da desnaturalização e contra o reducionismo, que “chove no molhado”, por assim dizer, e que parecia trazer um sujeito irrestrito que me incomodava bastante, pois via uma ingenuidade nisso tudo que me deixava com um pé atrás. Acho que o depoimento sobre sua experiência com o pré-vestibular comunitário demonstra bem que tomamos caminhos diversos em nossas vidas, às vezes bem diferentes do que imaginávamos, por mais que tenhamos planos nada garante que se realizem e muito menos que se tivessem se realizado isso seria o melhor para nós. Afinal, o que é o melhor para nós? Existe isso sequer? Posso dizer que essa disciplina não foi o que pensei, mas me questiono se o que pensei seria melhor do que o que tivemos e posso afirmar que tal questionamento faz parte do que foi potencializado nessa disciplina, na qual diversas vezes me questionei sobre o que buscava na psicologia, o que está por trás da minha prática nos estágios, que tipo de psicóloga pretendo ser e quem é esse sujeito que chegará até mim. Essa disciplina quebrou com o que pensava que deveria ser , mas de forma alguma foi repetitiva e definitivamente a tal crise de que tanto se falou foi feita e algo importante se ergueu junto a ela, demos opiniões, falamos, construímos, discutimos. Não acho que a disciplina deu errado. E o que é dar certo? Corresponder às expectativas? Discutimos sobre as escolhas, os critérios de escolha, se sempre é possível escolher e no final das contas isso tudo me afetou bastante, pois concordo com muita gente que nem sempre escolher é um verbo disponível, mas compreendo que há processos de escolha, critérios eleitos por detrás de nossas escolhas, que podem nos passar como verdades, como naturais e talvez nunca sejam questionados. Por mais que uma escolha pareça inevitável e que escolher de outra forma pudesse acarretar mudanças aos sujeitos que são inimagináveis, acho que não podemos dizer que não existem outras formas de escolher, é injusto e determinista. A matéria me foi relevante sim, as discussões que tivemos foram estressantes, mas potentes demais para serem entendidas como erro.

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  3. Gisele de Oliveira e Souza6 de julho de 2010 às 17:11

    Não tive contato no decorrer do curso de Psicologia com a temática de orientação vocacional, com este campo de atuação. Por isso, acredito que a experiência de ter cursado essa disciplina foi tão rica para mim, pois o primeiro contato que tive não me ofereceu um modelo pronto para atuar neste campo, mas me mostrou que atuar junto ao processo de escolhas é muito mais complexo que qualquer outra disciplina de orientação vocacional poderia me oferecer. Esta disciplina me mostrou uma nova postura teórica e clínica, oferecendo novas formas de olhar a Psicologia. Por isso, acredito que as contribuições que ela me forneceu foram muito além das expectativas que eu poderia ter construído. Muitas vezes me senti confusa diante de algumas questões, pois a disciplina me afetou e provocou reflexões, e acho isso muito importante. Terminanos muitas disciplinas no IP acreditando que fechamos uma idéia a respeito de uma temática, mas, ao contrário, essa disciplina suscitou mais questões. Considero que por este motivo ela foi além das minhas expectativas.

    Gisel de Oliveira e Souza

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  4. Assim como a Gisele, também não tive contato com Orientação Vocacional ao longo do curso de graduação. Mas ao término da disciplina passei a questionar não só essa atuação do psicólogo, mas a ética que envolve qualquer prática da profissão.

    A desconstrução de um modelo foi proposta e possibilitou a construção de um novo olhar por parte de nós, futuros profissionais. E não só na Orientação Vocacional, essa estranheza pode ser aplicada em qualquer área e prática realizada.

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