quarta-feira, 30 de junho de 2010

Blog ou Não-Blog: Eis a Questão!

Não haverá mais a ferramenta do blog como avaliação nas próximas aulas do professor Pedro Paulo, esta foi a decisão a qual ele chegou após os protestos da turma. Bom, não vou dizer aqui que essa decisão tenha sido correta ou errada, afinal não cabe a mim julgar por ele. O objetivo deste post, portanto, é apontar o que há em comum entre um professor que tenta usar um novo método de avaliação, um sem-teto que vai ao RioSul e um aluno muito pobre que quer tentar o vestibular: é a aposta na singularização! Juntamente com suas potencialidades, riscos e dificuldades.

O blog foi perfeito, uma vez que serviu como exemplo claro daquilo que estivemos falando durante toda a matéria! Embora boa parte da turma não tenha aprovado a idéia, ela não deixa de ter pontos positivos, e negativos também, claro, assim como teria uma prova convencional. Realmente, é uma ferramenta inovadora, e por isso causa incômodo, já que nos obriga a deixar a zona de conforto, pois não estamos acostumados a ela. Esse incômodo é, em parte, semelhante ao que sente o aluno que, indo contra aquilo que lhe é imposto, quer tentar medicina, principalmente do ponto de vista do professor, que decidiu pela ferramenta. É o incômodo da tentativa de singularizar! Nós, alunos, no caso do blog, atuamos mais ou menos como atua a sociedade no caso do aluno pobre, estranhando.

É interessante notar também que, diferente da prova (originalmente seria prova + blog pra avaliação na matéria), que não foi questionada em nenhum momento, o blog foi bombardeado de críticas, e pouco foi visto do lado positivo dele. Não quero ofender ninguém, mas acho até que determinados argumentos não cabiam. Lembrei do caso dos sem-teto indo ao RioSul, quando uma vendedora argumentou que eles não comprariam nada, logo não deveriam estar ali, sendo que essa nunca foi uma questão quanto aos outros clientes. Acho que esse acaba sendo um movimento comum quando uma força instituinte (criativa, inovadora - o blog por exemplo) é lançada: logo surgem as forças instituídas (reprodutoras, conservadoras) para fazer oposição. É essa idéia que a sociedade carrega que as coisas têm uma forma natural de ser - professor aplica prova, sem-teto não vai ao RioSul e pobre não tenta medicina.

No fim das contas, o professor cedeu à pressão, vencido pelas forças instituídas, aderindo ao modelo que diz que professor deve dar prova ou trabalho. Nisso, acredito que ele próprio tenha esquecido dos pontos positivos da proposta singular. No entanto, uma pergunta não foi respondida na última aula, quando uma aluna colocou que o blog, desde o início, não tinha dado certo: "O que é dar certo?" Eu tenho um blog, por exemplo, que nunca teve tantos posts e nunca recebeu tantos comentários quanto esse (e talvez nunca receba)! Fora isso, agora que a matéria está chegando ao fim, muita gente está entrando, postando e comentando. Também tem que, naquela aula onde houve uma grande discussão de grupo, muito foi esclarecido por meio dessa ferramenta. Mesmo assim, muita gente ainda vai preferir a prova porque está "mais acostumada". E assim segue a nossa rotina.

Para ilustrar, uma historinha:

Numa realidade paralela à nossa, no planeta Água (curiosamente com mais terra que água), onde todas as avaliações eram feitas por meio de blogs, o professor Paulo Pedro tenta lançar um novo método de avaliação: a prova.
- Alunos, nosso método de avaliação será por meio de uma prova.
Os alunos são tomados de um incômodo geral por nunca terem feito dessa forma. Uma aluna pergunta:
- Mas como funciona essa tal de prova, professor? É que nem o blog?
- Não! É diferente. Nela haverá uma pergunta e você deverá responder.
Outro aluno questiona:
- Ué, professor? E se eu quiser falar sobre algo que não está na pergunta?
- Você deve ater-se somente à pergunta! Se falar sobre algo além, eu posso descontar uns pontos seus por fugir ao que está sendo pedido. Além disso, vocês não podem usar gírias nem abreviações, devem escrever de forma totalmente formal, ok?
Alguns alunos coxixam, comentando o estranhamento. Uma outra coloca:
- E como comentamos sobre algo que um colega escreve?
- Vocês não fazem! Se olharem a prova um do outro, eu darei nota zero!
- Que absurdo, professor! Quer dizer que não podemos desenvolver as idéias em conjunto?
- Não! De maneira nenhuma!
A turma começa um falatório geral, discordando da proposta. Um aluno próximo à porta, pensando na questão de aprender em conjunto, questiona:
- Mas, professor, quer dizer que pra saber o que meus colegas escreveram eu vou ter que esperar que o senhor entregue as provas e perguntar um a um o que disseram? No blog a gente não precisa desse trabalho todo!
- Bom, se vocês quiserem, eu posso pendurar as provas de vocês no mural, assim todos poderão conferir.
A turma gosta da idéia do mural, mas ainda não se conforma com o método. O professor completa:
- Ah, esqueci de dizer. Vocês não poderão consultar a bibliografia.
Nisso, a turma explode de protestos. Enfurecida, uma aluna coloca:
- Professor, isso não faz nenhum sentido! Na nossa prática como profissionais, sempre poderemos ter acesso à bibliografia! Por que isso???
- Assim eu poderei avaliar se vocês realmente sabem a matéria.
- Mas isso é muito relativo! E se a pergunta for sobre algo que eu não saiba tanto?
- Estude tudo e decore muito pra não ocorrer isso, ora!
Após muitos protestos, inclusive com argumentos sobre a caligrafia dos alunos, que alguns não se sentiam à vontade por mostrar aos outros, o professor dá fim à discussão:
- Não quero mais saber de reclamações! Eu decidi e está decidido! (esse professor era rígido, diferente do nosso equivalente aqui)
Ao final do debate, uma menina do fundo coloca:
- Gente, queria só colocar que sou a favor da prova ao invés do blog, pelos seguintes motivos...
E tal como no nosso equivalente aqui, a menina colocou argumentos interessantes, deixando o professor satisfeito porque alguém havia aderido à idéia e fazendo com que os alunos contra pensassem nos pontos positivos por um momento, embora não tenha alterado a opinião deles. Entretanto, o autor deste post (eu, Flavio) não foi criativo o suficiente para pensar quais os pontos positivos sobre a prova que essa menina teria dito à turma e ao professor.

--
Flavio Rangel

Verbo SER

Que vai ser quando crescer?
Vivem perguntando em redor. Que é ser?
É ter um corpo, um jeito, um nome?
Tenho os três. E sou?
Tenho de mudar quando crescer? Usar outro nome, corpo e jeito?
Ou a gente só principia a ser quando cresce?
É terrível, ser? Dói? É bom? É triste?
Ser; pronunciado tão depressa, e cabe tantas coisas?
Repito: Ser, Ser, Ser. Er. R.
Que vou ser quando crescer?
Sou obrigado a? Posso escolher?
Não dá para entender. Não vou ser.
Vou crescer assim mesmo.
Sem ser Esquecer.

Carlos Drummond de Andrade


O que Drummond teria achado da Análise do Vocacional?
Poesia? Talvez...
Só sei que seria muito interessante fazer grupo com ele!


Livia Fortuna do Valle

terça-feira, 29 de junho de 2010

É crucial para nós psicólogos pensarmos em que lugar e de que forma na nossa prática profissional colocamos os testes psicológicos: se o utilizamos para replicar padrões moralistas, que atendem às demandas capitalistas, reducionistas e normatizadoras ou se escolhemos ter um olhar mais contextualizado do sujeito, como sendo construído historicamente, por uma série de atravessamentos de questões políticas e culturais. Qualquer que seja nosso posicionamento entre esses pólos, devemos ter em mente que o compromisso ético está indissociável da ciência, e devemos ficar atentos ao que temos produzido na nossa prática profissional, das ferramentas que temos utilizado, e com que finalidade elas foram criadas e utilizadas na história.

Nathália Ramos Pereira

Ou isto ou aquilo

Ou se tem chuva e não se tem sol,
ou se tem sol e não se tem chuva!

Ou se calça a luva e não se põe o anel,
ou se põe o anel e não se calça a luva!

Quem sobe nos ares não fica no chão,
quem fica no chão não sobe nos ares.

É uma grande pena que não se possa
estar ao mesmo tempo nos dois lugares!

Ou guardo o dinheiro e não compro o doce,
ou compro o doce e gasto o dinheiro.

Ou isto ou aquilo: ou isto ou aquilo...
e vivo escolhendo o dia inteiro!

Não sei se brinco, não sei se estudo,
se saio correndo ou fico tranqüilo.

Mas não consegui entender ainda
qual é melhor: se é isto ou aquilo.

Cecilia Meireles (Ou isto ou aquilo, Editora Nova Fronteira, 1990 - Rio de Janeiro, Brasil.)



Particularmente, eu considero fenomenal esse poema de Cecilia Meireles. Ele pode servir como uma ferramenta para questionar os processos de escolha.
Há dois pontos sobre ele que considero principais e gostaria de comentar aqui. Em primeiro lugar, ele tematiza diversas escolhas cotidianas, tais como comprar um doce ou economizar dinheiro, colocar luva ou não. Essa tematica traz à tona a existencia de uma necessidade constante de se escolher. Essa seria uma das poucas coisas que não escolhemos. Frente à vida, não há como não escolher nada. A não-escolha não é uma escolha possivel, está ai uma impedimento.
Em segundo lugar, ele delineia um processo de escolha que, obrigatoriamente realiza um duplo papel: por um lado, abre possibilidades de escolha, e, por outro, as encerra. Ou melhor, enquanto o processo de escolha cria possibilidades, ele também faz com que o sujeito, ao escolher uma dessas possibilidades, escolha simultaneamente a negação de todas as outras. Escolher um "sim" para algo, é escolher um "não" para diversas outras opções.

Essa é uma tematica que percorre as discussões sobre o escolher, e que considero importantissimas se queremos entrar no campo dos processos de escolha.

Veronica Gurgel

domingo, 27 de junho de 2010

Educação "Vestibulesca"

"Boa escola é aquela que segue os modelos dos cursinhos. Aquelas que não se ajustam estão condenadas à marginalização: instituições inúteis, não preparam para os vestibulares. (...)
Outras (inteligências), segundo denúncia de Hermann Hesse, são simplesmente assassinadas. Os exames vestibulares encontram-se entre os feiticeiros que fazem dormir muitos tipos de inteligência e entre os assassinos que matam muitas outras. são, assim, culpados de bruxaria e assassinato... (...)
Havendo (os alunos) desenvolvido com sucesso o tipo de inteligência necessária para passar nos vestibulares, que pressupõe haver sempre uma alternativa correta, entre as várias apresentadas, sua inteligência não conseguia conviver com uma situação de incertezas, em que cada decisão é sempre uma aposta (...)"

(ALVES, Rubem. Disponível em: www.rubemalves.com.br/vestibulodecoisanenhuma.htm)

Nira

terça-feira, 22 de junho de 2010

Vestibular

Ferreira Gullar

Paulo Roberto Parreiras
desapareceu de casa
trajava calças cinza e camisa branca
e tinha dezesseis anos.
Parecia com teu filho, teu irmão,
teu sobrinho, parecia
com o filho do vizinho
mas não era. Era Paulo
Roberto Parreiras
que não passou no vestibular

Recebeu a notícia quinta-feira à tarde,
ficou triste
e sumiu.
De vergonha? De raiva?
Paulo Roberto estudou
dura duramente
durante os últimos meses.
Deixou de lado os discos,
o cinema,
até a namoradinha ficou sem vê-lo.
Nem soube do carnaval.
Se ele fez bem ou mal
não sei: queria
passar no vestibular.
Não passou. Não basta
estudar?

Paulo Roberto Parreira
a quem nunca vi mais gordo,
onde quer que você esteja
fique certo
de que estamos do seu lado.
Sei que isso é muito pouco
para quem estudou tanto
e não foi classificado (pois não há mais
excedentes), mas
é o que lhe posso oferecer: minha palavra
de amigo
desconhecido.
Nessa mesma quinta-feira
em Nova York morreu
um menino de treze anos que tomava entorpecentes.
em S.Paulo, outro garoto
foi preso roubando carros.
E há muitos que somem
ou surgem como cometas ardendo em sangue, nestas noites,
nestas tardes,
nesses dias amargos.

Não sei pra onde você foi
nem o que pretende fazer
nem posso dizer que volte
para casa,
estude (mais?) e tente outra vez.
Não tenho nenhum poder,
nada posso assegurar.
Tudo que posso dizer-lhe
é que a gente não foge
da vida,
é que não adianta fugir.
Nem adianta endoidar.
Tudo o que posso dizer-lhe
é que você tem o direito de estudar.
É justa sua revolta:
seu outro vestibular.


Isabella

Manoel de Barros - Livro sobre o nada



"A expressão reta não sonha.
Não use o traço acostumado.
A força de um artista vem de suas derrotas.
Só a alma atormentada pode trazer para a voz um formato de pássaro.
Arte não tem perna:
O olho vê, a lembrança revê, a imaginação transvê.
É preciso transver o mundo.
Isto seja:
Deus deu a forma. Os artistas desformam.
É preciso desformar o mundo:
Tirar da natureza as naturalidades.
Fazer cavalo verde, por exemplo.
Fazer noiva camponesa voar - como em Chagall.
Agora é só puxar o alarme do silêncio que saio por aí a desformar."


Yasmim de Menezes França

segunda-feira, 21 de junho de 2010

Jovem

Gostaria de postar aqui o trecho de um texto que fiz para meu blog pessoal. Nesse texto, eu falo sobre o processo de escolha profissional, no qual estamos envolvidos mesmo depois do vestibular. Acredito que a universidade intensifica esse processo de escolha. A universidade muda nossas cabeças, nossa forma de ver o mundo, e assim mudam os nossos caminhos.


Muita alergia. Poucas horas de sono. A expectativa foi grande. A ansiedade também. O medo nem se fala. Insegurança. Mas é aquela insegurança profunda, é algo como “o que estou fazendo aqui?”. Tantos imprevistos que parece que as coisas conspiram para dar errado. Mas aprendi a usar o imprevisto a meu favor. O imprevisto se tornou previsto. Mas o que eu não esperava era ver algumas pessoas saindo da sala no meio da apresentação. Será o tempo apertado? Ou será esse tema polêmico?

“Vá se acostumando”, ela disse. Acostumar-me? Mas nem sei se é isso que quero. Estou tomando outro caminho, quase sem querer. Um caminho não esperado, tenso, inseguro, que não me é prático, e eu tenho mania de prática. Talvez as duas escolhas sejam um erro. Ouvindo tanta gente falar, aqui, eu fico perdido e entediado. Às vezes não entendo o que essa gente fala. Dois mais dois é igual a quatro, e pronto.

Talvez a preferência por uma aparente praticidade e pelo supostamente certo e imediato retorno financeiro venha de uma cultura familiar, de certo modo de criação. Junto a essa preferência, está a idéia de que minha vida é curta demais para trilhar mais de um caminho e que escolher o trajeto errado é, portanto, um tempo perdido ou, mais do que isso, uma vida perdida. Contudo, num insight, me deparo com o fato, a evidência, de que ainda sou jovem, ainda tenho muito que viver e, portanto, tenho tempo e direito de trilhar caminhos errados.

Sim, por mais velho que às vezes possa parecer, eu sou jovem. E me sentindo jovem, torna-se mais leve o fardo do erro.


Rafael Reis.

quarta-feira, 16 de junho de 2010

Devir-ser

Para pensar um pouco sobre rizomas, grupos e devires, e nossa própria implicação-devir (se há), uma imagem que achei na internet:



O ser é.
O devir devém.


Ana Chacel

terça-feira, 1 de junho de 2010

Implicação e culpa


Certo incomodo me acompanhava já há algum tempo, mas, de certo modo, ele ganhou forma nas discussões das últimas aulas – e me parece importante, pelas traduções que tenho feito, reportar-me a ele também aqui no blog. Não sei se serei clara em tudo que gostaria de dizer, mas muito do que escrevo tem relação com a busca de uma coerência conceitual.

Pôr em análise os processos de escolha é, ao invés de solucionar questão, tornar mais complexo o cenário (tirando a escolha do lugar de objeto e entendendo ela própria como um processo). Parte-se, então, de um entendimento sobre o sujeito, visto não como um individuo homogêneo dotado de uma essência dada de antemão e constante, mas como um agenciamento coletivo de enunciação, referindo-se a uma subjetividade que é indissociável da noção de produção. Um subjetividade que não é só particípio, mas gerúndio, à medida que ela não foi construída historicamente (e, portanto, concluída), mas está em se fazendo . Um sujeito que é, portanto, coletivo, que se constituis por / em uma multiplicidade de atravessamentos. E, nesse ponto, me parece prudente e interessante aproximar Deleuze e Guattari, Foucault e Latour, me apropriando das noções utilizadas por esse último, para dizer que esse sujeito é ele próprio uma rede ao mesmo tempo que também faz parte de uma rede. Um sujeito que é coletivo e que (na falta de uma palavra melhor) compõe um coletivo de humanos e não humanos.

É nesse âmbito que eu vejo com muita cautela que se possa dizer que, em última análise, tudo é escolha (até a escolha da escolha). Distanciar-me disso, entretanto, não significa afirmar que os processos se dêem em termos de determinismos históricos (que, a meu ver, parece um repaginamento da dualidade causa-efeito, deslocando o que determina, por exemplo, de uma essência humana para um social exteriorizado, separado em algum momento), desimplicando o sujeito e culpabilizando “o mundo”. Entender que tudo é escolha aloca no sujeito toda a responsabilidade. Sem se atentar, culpabiliza-se o sujeito, assumindo um entendimento, diria até, solipsista que apaga a dimensão coletiva, isola esse sujeito da rede de que ele faz parte. E, muitas vezes, negligencia até mesmo que esse sujeito é coletivo, é também ele uma rede de múltiplos agenciamentos, atravessamentos, nós. (E a discussão que Felipe e Veronica trazem se coloca também como muito importante)

Acho mais interessante pensar que em tudo há escolha, entendendo que toda ação é política, que todo sujeito está implicado, mas não como o único vetor ou como o vetor mais importante, mais substancial, por si só. Diz-se que o bater das asas de uma borboleta pode produzir um furacão do outro lado do planeta, mas isso, por acaso significa a necessidade da caçada e extermínio de todas as borboletas como prevenção? As ressonâncias da queda do muro de Berlim não se deram pela queda do muro em si, mas pelas articulações das quais esse muro era também um actante. Se o muro caísse hoje ou vários anos antes de 1989, as ressonâncias seriam as mesmas? As escolhas seriam as mesmas? E as condições de possibilidade? E os critérios? E esse sujeito que escolhe? É possível dizer que se tratava só de uma questão de escolha daquele que deu a primeira marretada no concreto? Ou, até mesmo, das escolhas em cadeia, ou melhor dizendo, escolhas relacionadas de todos os que escolheram derrubar uma parede e o que ela significava? Na falta de uma expressão melhor, acredito que há algo que está para além do sujeito, que ele não escolhe, mas com o qual ele está implicado macro e, sobretudo, micropoliticamente. Por em análise os processos de escolha é torná-lo mais complexo. Nem culpabilizar o sujeito, nem culpabilizar o mundo, mas entender a escolha em seus múltiplos atravessamentos – que implicam e que também estão para além do sujeito, sem naturalizações ou determinismos. É pensar que esse algo também compõe essa escolha que não é objeto, mas sim processo – e processo coletivo.


Jéssica David