terça-feira, 6 de julho de 2010

"O que ser e o que não ser, eis a questão"

Desde a nossa infância escutamos: "O que você vai ser quando crescer?" e essa pergunta, colocada nessa fase de nossas vidas, nos permite vagar de profissão em profissão, permitindo que o encanto direcione a nossa escolha. Mas, com o passar do tempo, crescemos e então é necessário decidir o futuro profissional de forma séria, mergulhando no mundo do trabalho e na estrutura social de uma forma geral. Nesse momento, todo o encanto e a fantasia que rondava a infância na escolha de uma profissão se perde e ficamos diante de dúvidas, que atravessam nosso processo de escolha. Isto é, de um momento para outro, jovens se deparam com diversas questões que persistem na decisão de uma profissão.

Diante desse panorama, há uma grande procura do serviço de Orientação Vocacional com muita ansiedade pelo direcionamento de caminhos. A busca é por uma solução e de um “veredito” que estão seguindo na direção certa. O que considerar na hora de escolher? Dinheiro? O prazer? A carreira dos pais? O mercado de trabalho? A aptidão?

Em virtude dessa demanda, de jovens que visam respostas prontas, é necessário produzir um campo de problematizações. É nesse sentido que problematizar a prática da Orientação Vocacional e criar outras formas de experimentar a escolha profissional, escapar ao que já está construído, ao que está dado, promovendo diferenças, torna-se um trabalho de fundamental importância.

Em outras palavras, seria colocar em questão o próprio processo de escolha, tentando produzir outros sentidos para a escolha profissional. Isso não significa a construção de um novo modelo de Orientação Vocacional, mas suscitar acontecimentos que promovam uma ruptura com o que já está colocado e propiciar a revelação de outras possibilidades de vivenciar a escolha profissional.

Porque não promover um convite ao estranhamento, ao olhar curioso, construindo outros mapas de vida? Porque não fugir dos aprisionamentos, potencializando os jovens a criarem novas possibilidades de escolha?



FROTTÉ, M. D. Analítica do vocacional: percursos e derivas de uma intervenção. 2001. Dissertação (Mestrado em Psicologia) – Instituto de Ciências Humanas e Filosofia, Universidade Federal Fluminense, Niterói.


Letícia Barros Cândido

2 comentários:

  1. Fernanda Grisolia Rimes7 de julho de 2010 às 19:31

    Me lembrei de uma aula que achei muito interessante na disciplina: o documentário que foi mostrado sobre os sem teto (creio eu) indo ao Rio Sul. O processo de escolha ficou muito claro durante o vídeo. Como os sem teto preferiram escolher ir a um shopping da zona sul carioca a lazer e passeio a se manter estagnados aos locais de origem. Por outro lado, foi interessante ver a reação dos vendedores de lojas, dos seguranças e dos consumidores que estavam no Rio Sul. Foi um grande estranhamento para eles ver dezenas de sem teto entrando no shopping para conhecê-lo. Esse estranhamento só ocorreu uma vez que o habitual não é esse, o habitual são pessoas de classe média e classe média alta irem a esses locais, os sem teto romperam com essa institucionalização e produziram uma singularização, uma forma de libertação do que é imposto através das micropolíticas e relações semióticas. Afinal, o shopping é um lugar público onde, teoricamente, entra quem quer. Na prática, perceberam que não era bem desta maneira que funciona o sistema.

    Fernanda Rimes - DRE: 106026720.

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  2. Lendo o seu comentário Letícia, sobre as dúvidas que envolvem o processo de escolha de uma profissão na adolescência e uma valorização dos serviços de Orientação Vocacional na qual verificamos "a busca é por uma solução e de um “veredito” que estão seguindo na direção certa", lembrei na minha época de vestibular. Chegar nesse período de optar por uma carreira no vestibular sem uma definição me fez procurar a Orientação Vocacional que era oferecida na escola. Eu e todo o grupo estávamos ali em busca de uma certeza, uma definição que nós próprios não conhecíamos mas esperávamos que as psicólogas pudessem perceber. Alguns critérios de escolha voltados as profissões foram colocados em análise, mas o convite ao estranhamento não era a proposta. Ao final todos os alunos receberam um laudo que apresentava listadas as áreas de grande e baixo interesse, um perfil de personalidade e uma conclusão que indicava a carreira e uma especialização. A reação dos alunos foi interessante pois a maioria ficou insatisfeita com o resultado, a sensação era que as profissões mencionadas pelo alunos ao longo do processo foi simplismente transferida para a conclusão do laudo.

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