sexta-feira, 9 de julho de 2010

Demanda e Análise vocacional

Na última aula da disciplina, o professor trouxe a questão da devolutividade obrigatória do psicólogo. Achei muito importante discutirmos questões relativas à regulamentação da nossa profissão porque é algo de que praticamente não se escuta falar no curso de psicologia e que ainda é algo muito desconhecido entre os alunos e profissionais da área, infelizmente.
Além dos esclarecimentos muito precisos sobre os instrumentos do qual o psicólogo dispões para efetuar a devolutiva, a discussão sobre essa prática me fez pensar na disciplina como um todo.
Pude observar que muitas dúvidas giravam em torno das demandas feitas ao psicólogo e sobre como respondê-las.
Se pararmos para pensar sobre o assunto, talvez a demanda seja uma das grandes questões do psicólogo, uma vez que permeia esta profissão de forma muito proeminente e particular. Ao psicólogo são endereçadas demandas constantes, mas isso não é exclusividade desta profissão. A maioria dos serviços prestado surgem para atender uma demanda. A questão que me parece singular na Psicologia são as possibilidades de resposta aos pedidos que são feitos a um profissional desta área.
Em muitas profissões, o trabalho consiste em justamente tentar proporcionar ao cliente exatamente o que foi pedido. Quanto mais precisa e eficiente a resposta melhor, afinal “o cliente tem sempre a razão”.
E na Psicologia? Será que atender a demanda inicial que nos chega é a melhor forma de prestar nossos serviços?
Me parece que em algumas situações, é justamente quando o psicólogo não atende o pedido, pelo menos não da forma esperada, é que faz um bom trabalho. Me pergunto se não é esse o caso da Análise vocacional...
O serviço de análise vocacional, orientação vocacional, ou outros nomes que possa vir a receber, cumpre seu papel melhor quando responde ao que lhe é pedido? Ou pelo contrário, sua potência está em não responder o que lhe é demandado?
Não estou questionando a obrigatoriedade da devolutiva de forma alguma. Acredito que algum retorno precisa ser dado ao paciente/cliente. A questão que coloco aqui é se essa resposta deve ser aquela que o paciente espera ouvir.
Quando um estudante procura um psicólogo para lhe ajudar a escolher uma profissão, muitas vezes espera que este profissional, tido como qualificado e especializado no assunto, lhe aponte qual caminho seguir. Alguns profissionais parecem acreditar que esta é o seu papel e terminam por decidir, após a aplicação dos testes mais variados, qual é a profissão que cabe a este ou esta jovem cursar. Se não são capazes, ou não julgam pertinente, dizer a profissão exata pelo menos demarcam uma área ampla de atuação ou quem sabe elencam algumas possíveis profissões. Sem querer desrespeitar esses profissionais e seus testes, essa não me parece ser a melhor resposta.
Estou chegando ao fim do curso e sinceramente não me sinto capaz de escolher por alguém. Quem pode conhecer melhor sobre si do que o próprio sujeito? Se me perguntarem qual profissão seguir, sinto muito, mas não tenho a resposta. Talvez seja melhor perguntar ao polvo alemão que vem fazendo sucesso acertando os resultados dos jogos na copa, de repente o molusco também é bom em desvelar vocações. Ele certamente acertou mais placares no bolão do que eu.
Não acredito em vocações pré-determinadas assim como não acredito em polvos videntes. Por outro lado, compreendo a tentação de responder ao que nos é perguntado. Não é fácil suportar a o sofrimento do outro. O sofrimento é legítimo e querer ajudar também. Sustentar a posição do problematizador talvez seja mais difícil do que a do solucionador, mas me parece que pode vir a ser mais gratificante quando bem sucedida. Fiquei me perguntando se o incomodo que tomou conta da turma não teria algo a ver com essas questões... afinal estamos todos experenciando a dificuldade de escolher uma profissão, uma escolha que precisa ser refeita a cada dia. Eu partirculamente já estou na segunda tentativa e cá entre nós, que ninguém nos ouça, mas tem dias que tudo o que eu mais quero é que alguém escolha por mim. Será que o polvo topa?

Marília Gavilan

6 comentários:

  1. Eu continuei sem ver sentido nisso...até que as nossas aulas começaram e eu reparei que ela não inventava aquelas atividades aleatoriamente na cabeça dela, que tinha um porquê daquilo. E eu vi o quanto é importante mesmo a gente se atentar mais a determinadas coisas que nós não nos damos conta no nosso dia-a-dia, ver que nós adotamos certos discursos sem pensar - o que, como havia dito pelo próprio Pedro Paulo: criticar somente por criticar, para ser diferente, fugir da produção capitalística não é inteligente. As pessoas tem o direito de pensar da mesma maneira, mas devem entender porque concordam com determinado tipo de pensamento. Realmente fiquei aliviada quando eu ouvi isso, pois não era somente na faculdade que eu ouvia pessoas defendendo idéias que não se assemelhavam nem um pouco com suas práticas e que não se esforçavam para que isso acontecesse.
    A concepção de que o sujeito está sempre em construção, que não é algo pronto e dado me cativou. Sou dos primeiros períodos da faculdade e ainda não tinha tido oportunidade de ver assuntos referentes a isso. Me lembra muito um poema da Lya Luft:

    Não sou areia
    onde se desenha um par de asas
    ou grades diante de uma janela.
    não sou apenas a pedra que rola
    nas marés do mundo,
    em cada praia renascendo outra.
    Sou a orelha encostada na concha
    da vida, sou construção e desmoronamento,
    servo e senhor, e sou
    mistério.

    A quatro mãos escrevemos o roteiro
    para o palco de meu tempo:
    o meu destino e eu.
    Nem sempre estamos afinados,
    nem sempre nos levamos
    a sério.

    Acho que um dos textos que mais deixou claro e concretizou a idéia de construção (e possível desconstrução/modificação, justamente por não ser algo dado) foi aquele retirado do livro História Social da Criança e da Familia.

    Outra questão muito importante que foi abordado várias vezes durante as aulas foi a dúvida entre apoiar aqueles alunos de baixa renda a escolher profissões que teoricamente não condizem muito com a realidade social deles, por n motivos ou tentar fazer o outro substituir aquela escolha por um curso mais fácil. Uma questão delicada, onde não podemos ficar somente idealizando e ignorar determinados aspectos importantes. Creio que se trabalhar todos os pontos-chave com pessoa, sem o intuito de tentar convencê-la a mudar de idéia, mas ao mesmo tempo pensar de maneira crítica o que ocorre ao seu redor, é válido sim apoiar.
    Enfim, gostei muito de ter vivenciado a matéria, o que não exclui meu sentimento de angústia algumas vezes - assim como ocorreu na minha própria orientação vocacional antes de entrar para o IP. Entendi que o intuito não era nos dar uma fórmula pronta de como fazer orientação/análise vocacional, pois não existe uma algo pronto para tal - e a própria disciplina mostrou isso ao longo das aulas.

    Vanessa M. S. P. Carneiro

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  2. Acho que um dos textos que mais deixou claro e concretizou a idéia de construção (e possível desconstrução/modificação, justamente por não ser algo dado) foi aquele retirado do livro História Social da Criança e da Familia.

    Outra questão muito importante que foi abordado várias vezes durante as aulas foi a dúvida entre apoiar aqueles alunos de baixa renda a escolher profissões que teoricamente não condizem muito com a realidade social deles, por n motivos ou tentar fazer o outro substituir aquela escolha por um curso mais fácil. Uma questão delicada, onde não podemos ficar somente idealizando e ignorar determinados aspectos importantes. Creio que se trabalhar todos os pontos-chave com pessoa, sem o intuito de tentar convencê-la a mudar de idéia, mas ao mesmo tempo pensar de maneira crítica o que ocorre ao seu redor, é válido sim apoiar.
    Enfim, gostei muito de ter vivenciado a matéria, o que não exclui meu sentimento de angústia algumas vezes - assim como ocorreu na minha própria orientação vocacional antes de entrar para o IP. Entendi que o intuito não era nos dar uma fórmula pronta de como fazer orientação/análise vocacional, pois não existe uma algo pronto para tal - e a própria disciplina mostrou isso ao longo das aulas.

    Vanessa M. S. P. Carneiro

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  3. não acho o papel com o login e a senha...então vou colocar aqui mesmo!)

    Desde o início das aulas eu - inevitavelmente - comparava o que nós discutíamos com o que eu havia passado durante a minha Orientação Vocacional. Ou Análise Vocacional, enfim. Conheci este último nome somente pela matéria, já que não havia visto essa expressão no mercado ainda - e continuo sem ter visto. Talvez, mesmo que possua um formato totalmente diferente, este tipo de serviço prestado pelo psicólogo ainda seja chamado assim para um melhor entendimento do público sobre o que está sendo oferecido. Isto ocorreu comigo: foi mais uma análise vocacional do que uma mera orientação.
    É muito complicado lidar com as expectativas das pessoas que participam, já que há uma pressa ligada a vários fatores, como não "perder" tempo, encontrar algo que possa fazer o resto da vida, encontrar uma maneira de ganhar (muito) dinheiro, ser "alguém" na vida....enfim, uma série de argumentos que, como tudo (ou quase tudo) na psicologia, são construídos! E não necessariamente só pelo capitalismo e blablabla. Meu caso, por exemplo: fui criada para ser médica. Eu (achava que) gostava, cresci no hospital com a minha mãe, queria ser tão boa quanto eu acho que ela é. Sempre que nos encontrávamos com alguém, sempre havia aquela fatídica pergunta: "vai ser igual à mamãe quando crescer?". E eu realmente queria ser. Tudo começou a mudar no cursinho pré-vestibular, pois eu descobri que não era simplesmente estudar muito para passar. Era estudar principalmente matérias que eu odiava (leia-se física e química). Com o tempo fui desanimando, desanimando....até que passei a ficar em casa o tempo todo, sem fazer nada. Enquanto meus pais pagavam meu cursinho. Sim, eu tinha possibilidade de escolher em qual curso estudar, se eu ia fazer turma especial ou não...mas chegou um momento em que nada disso adiantava muito para mim. Aí, surpreendentemente, minha mãe fala: você quer fazer orientação vocacional? você não pode continuar desse jeito em casa...tem que escolher alguma coisa para fazer, mesmo que não seja medicina.
    Minha psicóloga já oferecia esse tipo de serviço, então resolvi fazer com ela, já que me conhecia e eu achava que não ia precisar ficar falando muito, o que iria interferir no tempo total e - segundo meu pensamento na época - isto ia encurtar o tempo e eu saberia mais rápido o que deveria fazer da minha vida.
    Os primeiros encontros foram angustiantes...até eu chegar na parte que a palavra "profissão" era citada, demorou. Eu sinceramente não via muito sentido em ficar falando várias coisas que não estavam diretamente ligadas ao trabalho.

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  4. ok, ficou invertido e confuso...hahaha...mas relevem, o blogger ficou louco!

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  5. Gisele de Oliveira e Souza9 de julho de 2010 às 17:35

    Como a Marília falou, sempre temos a impressão de que temos que atender a demandas, o nosso cotidiano é meio assim, mas o psicólogo têm que analisar a demanda antes de qualquer coisa. Vejo muito isso no estágio, como minha equipe trabalha com crianças, os pais muitas vezes vêm com as demandas das mais absurdas possíveis para a criança, mas nós não estamos no papel de aceitar e concordar com aquilo, temos que analisar essa demanda e para definir como será o trabalho. Por isso que acho o nome análise do vocacional muito pertinente, pois não é função do psicólogo orientar a escolha, mas sim problematizar essa escolha, o sujeito é quem tem que ponderar seus critérios de escolha e finalmente escolher.

    Gisele de Oliveira e Souza

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  6. eu acho que o polvo nao e de nada ficar adivinhando tempo e espaco isso para mim e misticismo coisa contraria a DEUS A IDOLATRIA de um DEUS ESTRANHO E DESCONHECIDO NO MUNDO SOBRENATURAL QUEM ACREDITA NELE ESTA CONFUSO E CONDENADO AO INFERNO COMO TORMENTA E PRATICA DE BRUXARIA SE E QUE VAMOS CONSIDERAR ISSO PARA O LADO ESPIRITUAL DE NOSSAS VIDAS; CLARO QUE NAO DE MANEIRA NENHUMA E QUANTO A FROID ALGUMAS TEORIAS EU CONSIDERO COMO GANHO OUTRAS APENAS DESCONSIDERO E DELETO DE MINHA MENTE.E LEMBRE-SE JESUS CONDENOU E CONDENA ESSAS PRATICAS DE ADIVINHACOES.DEVEMOS TER UMA AUTO CRITICA SOBRE TUDO ISSO E NOS REFLETIRMOS.

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