domingo, 4 de julho de 2010

Lourau/Rolnik/Freud

O texto “O cartógrafo”, de Rolnik (1989), adotado na disciplina, me fez pensar em muitas coisas. Aliás, coisas que eu já vinha me questionando desde que tinha lido o texto “Pequeno Manual de Análise Institucional”, de Lourau (2004), e também desde que o Profº Pedro Paulo citou que não havia a disciplina “Análise Institucional” na UFRJ, o que prejudicava o entendimento dos alunos acerca da linha teórica adotada na disciplina. Concordo com a crítica ao currículo de nosso curso de Psicologia na UFRJ, que, de fato, não é diverso – no sentido de abordar diversas linhas teóricas e diversas “psicologias” – mas, pelo contrário, é bem focado em matérias de Psicanálise, por exemplo, o que acaba deixando buracos na nossa formação, que deveria ser mais ampla e plural, a meu ver.

Bem, pensando nessas questões, comecei a refletir sobre algumas diferenças e aproximações entre o método da cartografia e o método psicanalítico. Claro que fui pensando coisas e, lendo os textos, pude perceber alguns pontos, mas não sei se cabem as comparações – particularmente, pensar desse modo me interessa, uma vez que tenho identificação com a Psicanálise e quis tentar entender como articular esses dois modos de pensar o homem e, inclusive, se cabia uma comparação, ou se eram incompatíveis.

Penso, então, logo no que foi dito no início da disciplina que a Análise do Vocacional não seria entendida como desvelamento de uma personalidade do sujeito, de uma vocação, ou mesmo que não se trataria de entender processos inconscientes que motivam os sujeitos em suas escolhas, mas sim colocar em análise os processos de escolha, propor dinâmicas em que questões para a discussão possam surgir. Nesse sentido, me remeto a Lourau (2004), que diz que o surgimento de uma crise é a condição para se fazer uma Análise Institucional e que a análise não é o oposto da ação; a ação é a análise, ou seja, o fato de se colocar em questão esses processos de escolha – não só da profissão, mas de muitos outros que possam surgir no encontro – já é ação.

Outra pontuação que gostaria de fazer, na linha de pensar a cartografia e a psicanálise, seria com relação a uma passagem do texto de Rolnik (1989) que diz que o cartógrafo – que não “revela” sentidos, mas os “cria” – também pode ser chamado de “psicólogo social” – quando se quer enfatizar que psíquico e social andam juntos –, ou de “micropolítico” – quando sublinhamos o aspecto político da prática –, ou de “analista das formações dos desejos no campo social” ou “analista do desejo” – quando se trata de associar com a Psicanálise e “contaminar o cartógrafo e o micropolítico com o know-how da escuta psicanalítica do invisível e, inversamente, contaminar o psicanalista com a sensibilidade do cartógrafo micropolítico à relação entre o desejo e o social” (ROLNIK, 1989, p. 75) – ou, por fim, de “esquizoanalista” – quando a intenção é frisar a análise do desejo nas suas linhas de fuga.

Rolnik coloca que o “psicanalista cartógrafo” toma emprestado de Freud a escuta de cartógrafo, ou seja, o analista, sendo alguém já iniciado, pode dar língua ao movimento invisível dos afetos (ROLNIK, 1989). Contudo, é importante frisar que Rolnik (1989) diz ser a análise ilimitada, não se chegando nunca a um “ponto de embarque, ponto de origem, terra natal” (p. 81) e o psicanalista cartógrafo deve se perguntar sobre o modo de produção de subjetividade em que sua escuta se dá, ou seja, não considerar de antemão, por exemplo, o modelo da histérica da psicanálise, mas pensar que figura de mulher está aparecendo em sua clínica.
Bem, coloquei algumas questões e articulações que ficaram para mim e acho que poderia ser interessante se as pessoas também pudessem dar suas opiniões sobre isso.

Abs,
Carolina F. Cibella de Oliveira.


LOURAU, R. Pequeno Manual de Análise Institucional. In ALTOÉ, S. (org.) René Lourau: Analista Institucional em Tempo Integral. São Paulo: Hucitec, 2004.

ROLNIK, S. “O Cartógrafo”. In: Cartografia sentimental: transformações contemporâneas do desejo. São Paulo: Estação Liberdade, 1989.

2 comentários:

  1. Carol, achei interessante pensar sobre isso. E como você me parece ter tentado fazer aproximações com a clínica, fiquei pensando mais especificamente nessa clínica num contexto de escolhas. Acredito que a aposta que deve ser feita seja a aposta de uma clínica política, uma clínica de resitênia ao Biopoder; resitência aos modos de sujeição, que a todo momento nos dizem como devemos ser e existir. Para que se possa resgatar a autonomia dos sujeitos,será preciso não apenas escolher uma coisa em detrimento de outra, mas traçar um processo de escolha, onde se torna indispensável a criação de uma maneira nova de exisitr; escolhas que criam modos inéditos de existir, que cria diferença, e permite novos modos de subjetivação. Construir esse processo de escolha, acredito que se trata de alargar um problema e não soluciona-lo necessariamente. E apostar nessa clínica de resistência ao Biooder é de certa maneira apostar na potência dos processos de singularização.

    Camila Machado

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  2. É, Camila... acho que é por esse caminho que vc colocou que devemos pensar a clínica praticada pela Análise Institucional. Seu comentário ajudou a clarificar um pouco mais sobre essa linha teórica...

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