sexta-feira, 6 de maio de 2011

O Grupo como instituição

O grupo se configurando como uma instituição, na qual se destaca o círculo, o laço e o número restrito de participantes, erige uma tentativa de solução para o impasse entre o indivíduo e a sociedade? Terá ele conseguido romper o dualismo paternalista de nosso tempos? Estará habitando o entre aquilo que pode devir dos encontros ou, ao contrário, terá ele também sucumbido ao antagonismo substancializador do indivíduo e/ou da sociedade? (Regina Benevides de Barros)
Na última aula, os depoimentos das estagiárias acerca do trabalho de análise do vocacional na Maré evovou esta ambiguidade que li no texto da Regina sobre Grupo.
De um lado, foi muito vívido e transparente a importância que tem na experiência de cada estagiária a realização da intervenção, na forma de grupo, nos cursos comunitários.
Entrentanto, a enunciação de seus discursos me fez ser atravessada por inúmeras advertências de Foucault sobre a reprodução automática dos valores de criminalização de classe preconizados em nossa sociedade do controle.
Parece-me que não é o dispositivo grupo a via de despojamento dos processos de subjetivação enunciados em nosso cotidiano, pois pude perceber o quanto de assistencialismo e de paternalismo nos constitui quando se quer pensamos ou agimos em ambientes desassistidos.
Muito da fala das estagiárias me mostrou o quanto não está presente uma equidade entre estas e os moradores da Maré, o quanto há de um nós e um eles, um de lá e um de cá. Em que ponto se perdeu a capacidade de se entender que somos todos um, uma espécie entre tantas outras convivendo no mesmo espaço e na mesma época a compartilhar sua expressão individual, que nada mais é do quo social.
Pois é na sociedade e no grupo que se deve buscar uma explicação para a vida individual. Estará, a partir daí, implantada a ideia de um amente (ou consciência) coletiva que se diferenciará da mente (ou consciência) individual, sendo que é a primeira que dá existência à segunda. O indivíduo pensado fora da sociedade e/ou do grupo é uma abstração (Durkheim).
Contudo, parece enigmático considerar que promovemos um reducionismo absurdo dos grupamentos sociais a que pertencemos a ponto de eliminarmos a noção de todo e passarmos a ser incapazes de rever este postulamos e nos percebermos como iguais, como um todo e assim podermos nos posicionarmos lado a lado.

(Luciana Pucci Santos)

2 comentários:

  1. Não sei se entendi bem o que você quis dizer, mas, eu particularmente, acho a idéia da igualdade muito perigosa. Ela pode não dar lugar a diferença. Podemos até pensar em igualdade de direitos e deveres, ainda que as formas de se botar isso em prática sejam quase impossíveis. Mas o delicado para mim é achar que somos todos iguais porque somos da mesma espécie. Acredito que somos intensamente constituídos pelo nosso sexo, classe social e raça. Existem mil outros aspectos também, mas, enfim... acho mais rico reconhecer e valorizar a diferença (entre o que você chamou de nós e eles na fala das estagiárias) do que aplacar esse conflito na suposição da igualdade. Isso seria,por exemplo, se interessar pela experiência do outro que viveu o que você nunca vai experimentar, e também o oposto. Trocar, complementar, pensar o que ainda não tinha sido pensado, para além de comparações.
    Carla Pessanha

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  2. Lu,
    O "nada mais é do que o social" me parece ser o contrário, pois este já é tudo!
    Se na fala das meninas não apareceu a igualdade que esperávamos é o caso de pensarmos se essa igualdade de fato existe. Como foi dito em suas falas, a favela, por exemplo, tem cor. E o que isto significa para aqueles que moram e os que não moram naquele lugar? O que siginifica estarmos circunscritos por características que nos distinguem de determinados grupos e ao mesmo tempo nos categorizam em outros? Isto me faz pensar sobre a luta dos casais homoafetivos pela legalização do matrimônio. Este apelo é um dos inúmeros exemplos que nos ajudam a refletir sobre a busca pela equidade que você citou.
    (Juliana Lara)

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