terça-feira, 3 de maio de 2011

Grupo

(Debora Navarro)

Saindo um pouco do tema das escolhas e falando sobre o tema "grupo", gostaria de compartilhar algumas ressonâncias que o nosso trabalho tem causado sobre mim.

Eu sempre fui meio "anti-social", só gostava de brincar sozinha, comigo e com a minha imaginação louca, e sempre tive um certo medo de interagir. Na medida em que fui fazendo amigos, esse medo cessou um pouco, mas logo foi voltando devido a más experiências com "amigos" que me magoaram de vários modos, em grupo - seja voltando as pessoas contra mim, seja dois grupos de amigos diferentes se juntando e se "esquecendo" de mim. Na faculdade, encontrei um ambiente no qual eu podia me sentir a vontade e querer de fato conversar com as pessoas, e conhecê-las, me conectar com elas - coisa que, apesar de tudo, é o que considero nosso maior bem como humanos, viver pela riqueza da partilha. Ainda assim, me resguardava no quesito trabalho em grupo, e tive bastante dificuldade de lidar com a idéia de formar um grupo para esta matéria. Nem me importei com a questão de se expôr, porque acho que é isso que é belo de se fazer (é aí que se dá a comunhão da partilha, da troca...).

Gostaria de dizer que simplesmente me apaixonei por essa abordagem de deixar fluir a discussão no grupo, sem objetivo a ser alcançado, estar totalmente aberto às questões que surgem ali, no momento. Achei isso tão simples, tão essencial, tão mágico: exatamente porque traduz o lindo universo caótico no qual pulsa a vida, sempre em movimento, eterna autopoiese de destruição e construção. Analogicamente, na mitologia indiana, esse método traduz Shiva na sua maior expressão. Nos afastando de pretensões científicas de progresso, nos aproximamos de uma forma mais viva de terapia - não de um tratamento propriamente dito, mas de uma forma de lidar com o caos de cada dia, produzindo subjetividades de modo criativo. Assim, multiplica-se a vitalidade naquele espaço, e esse vibrar da borboleta pode ser ouvido do outro lado do mundo.

Em resumo, esta disciplina me ajudou (e está me ajudando) a descobrir uma nova forma de enriquecer a vida em geral: o borbulhar do grupo disposto a se colocar de dentro para fora, de modo que a individualidade deixe de ter essa importância fumegante que caracteriza nossos dias de hoje. Essa "transcendência" se mostrou, para mim, algo que Nietzsche remete ao que deveria significar vida para todos nós: um quadro que eu gostaria que se repetisse para a eternidade.

Um comentário:

  1. Que coisa boa de se ler num domingo a noite... Brigada!
    Faz a gente pensar na vida! :)
    Essa parte que vc fala "...coisa que, apesar de tudo, é o que considero nosso maior bem como humanos, viver pela riqueza da partilha" me lembra a postagem da Kim, logo antes da tua, em que ela cita o dito popular "viver é muito arriscado".
    Acho que viver é arriscado exatamente pq estamos sempre em relação. Assim também acontece com as escolhas, que sempre incluem outras vidas (mesmo que minimamente) e talvez por isso seja tão dificil fazer uma!
    Acho que ser / lidar com gente é uma angustiante felicidade.... e talvez seja isso que faz com que a vida tenha sentido e intensidade!

    (Ana Marcela Terra)

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