quarta-feira, 8 de junho de 2011

Ser ou não ser, eis a profissão...

A discussão de ontem e o texto do Papalagui foram essenciais para mim como forma de sintetizar vários aspectos do trabalho que viemos desenvolvendo no grupo. O Tuiávii estranha o papalagui, olha, com olhos de homem que é, uma outra forma de ser humano, a forma do papalagui, do ocidental, a nossa forma de ser no mundo.

Ao nos observar, Tuávii percebe que a profissão é um aspecto muito importante de nossas vidas, central e paradoxal. Nós podemos dizer aqui que é uma forte forma de subjetivação a que estamos submetidos. Ao nos olhar, porém, ele o faz de um lugar de fora e pode dizer o que significa a profissão em nossas vidas e na nossa sociedade sem possuir as raízes históricas que nos atravessam dando-nos uma falsa impressão de naturalidade para esse fenômeno.

Ele fala do imperativo de se ter uma profissão, afirmando que somente ela seria capaz de lhe conferir o direito de ter uma atividade no mundo. Em que medida nós estamos presos a isso? Será que nós também não acreditamos e agimos como se somente nos fosse dado o direito de agir no mundo de acordo com nossas profissões? Será que não contestamos aquele que se atreve a plantar sem ser jardineiro ou outro que ousa cantar sem ser músico profissional, alegando que tudo isso seria perda de tempo, que eles deveriam mesmo era fazer todos os dias e praticar exaustivamente suas profissões, e somente elas? Será que nós não estamos nos reduzindo e reduzindo o outro a uma profissão? E, se isso for realmente verdade, já pararam pra pensar quanto vida estamos aniquilando a cada dia? Preciso pensar mais nisso...

Paula Rubea.

5 comentários:

  1. Gostei muito do post! O título está perfeito! Acho que todos nós precisamos pensar mais nisso. A sociedade olha com maus olhos certas profissões e escolhas, e nós, como parte integrante desta sociedade, tendemos a fazer o mesmo sem refletir muito sobre isso. Ao mesmo tempo, nos prendemos às profissões como se fossem tudo na vida e como se nos representassem por inteiro 100% do tempo. É difícil pensar sobre isso...
    Rafaela Cruz

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  2. Paula, acredite, não é só você que precisa pensar mais nisso! Aliás, dias atrás recebi uma "piada" por email, dessas que vem com muitas outras, mas me chamou a atenção a forma como as nossas "atividades" podem ser colocadas.

    Sessão de terapia de grupo

    Quatro pacientes estão reunidos na sala, com o seu terapeuta.

    O terapeuta pede que se apresentem, que digam qual é sua atividade e comentem por que a exercem.

    O primeiro diz:
    - Me chamo Francisco, sou médico porque me agrada tratar da saúde e cuidar das pessoas.

    O segundo se apresenta:
    - Me chamo Tales, sou arquiteto porque me preocupa a qualidade de vida das pessoas e como vivem.

    A terceira fala:
    - Meu nome é Maria e sou lésbica. Sou lésbica porque adoro peitos e bundas femininas e fico louca só de pensar em fazer sexo com mulheres.

    O quarto, um mineirinho, diz:
    - Sô Tunico e inté gorinha achava qui era pedrêro, mais cabei de discubrí qui sô é lésbico...

    Ok, a piada não é engraçada. Mas me fez pensar coisas para além de sua graça, como por exemplo, a de ser para além de uma profissão.

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  3. Paula, muito boa sua reflexão.
    Concordo quando você fala desse imperativo de ficar numa profissão e de criticar quando alguém que "não é qualificado" tenta "se meter na profissão alheia". Como levamos isso tão a sério.
    E mais, essa ideia de que a atividade dá significado à pessoa começa tão cedo que parece realmente que a vida está sendo aniquilada.
    Muito antes do vestibular isso aparece. Começa quando o adolescente termina o Ensino Fundamental e precisa escolher se vai cursar algum técnico, e se for, qual será. Como se essa escolha fosse determinar toda a futura vida, como se fazer um curso técnico de eletrônica impossibilitasse escolher a faculdade de música. E, o pior, é que quase impossibilita mesmo, pois o critério do dinheiro e do status entra em jogo e condena uma pessoa por "jogar fora" toda sua "inteligência" para exatas e fazer música, que "não dá dinheiro".

    Imira

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  4. Essa reflexão é para vida toda. Nascemos e escutamos desde cedo nossos pais falar: "o que vocês querem ser quando crescer?"; e se não damos uma resposta padrão: veterinário,médico,juiz...começamos a ser "pressionados" por nossos pais a cerca disso.
    Acho que a profissão é desde sempre algo enraizado em nossa modo de ser, os nossos pais trouxeram isso com eles e repassaram isso para nós, mas será que também iremos repassar isso para os nossos filhos? Será que quando eles tiverem cinco anos não iremos fazer a mesma pergunta que fizeram para nós, sobre o que gostaríamos de ser? Porque respostas como: eu quero ser feliz, ou eu quero ser grande, não são aceitas pelos "grandes". Vou pensar bastante nisso.

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  5. Também me identifiquei bastante com o seu post, Paula! É assustador como é fácil repetir padrões sem pensar muito a respeito, e como é importante (principalmente pelo curso que a gente está fazendo) a gente se manter alerta e se vigiar o tempo todo para não cair em costumes automáticos...

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