terça-feira, 26 de abril de 2011

reflexões pós grupo

Gente, hj falamos um pouco sobre o que fazer quando alguém que atendemos nos diz coisas "absurdas"... coisas que vão de encontro ao que acreditamos, pensamos, vivemos.
Entendo que não somos neutros e que devemos lidar com esse fato. E só se aprende a lidar com isso na prática, não tem jeito! Acho que ainda vamos levar muita porrada até aprender (desculpem o termo!).
Creio que um passo importante e inicial nesse caminho desafiador - de tentar entrar no mundo do outro/a e entender com ele/a como faz pra desatar os nós da vida - é a gente entender qual é o lugar que ocupamos no mundo.
Acredito que se entendendo melhor (dos gostos, desejos, sabores, classes...) a gente consegue saber até onde podemos ir no relacionamento com o outro/a que nos pede essa "ajuda" ingrata que a Psicologia demanda.
Lembrei desse vídeo-clip engraçado, mas que mostra muito da realidade em que a maioria de nós vive e do lugar de onde muitas vezes falamos!

http://www.youtube.com/watch?v=d8O0Zk5N-e8 (não consigo inserir o vídeo aqui! se alguém conseguir coloca aqui por favor!)

Divirtam-se, refletindo!

(Ana Marcela Terra)

4 comentários:

  1. Marcela,
    uma vez ouvi de uma professora uma frase que acho que ilustra muito esse caminho desafiador que você coloca, ou seja, essa nossa construção e reconstrução de nós mesmos no espaço terapeutico enquanto pessoas atravessadas por diversas "linhas" que não possuem, portanto, neutralidade.
    A frase, ou melhor, a indagação que a professora nos fez foi: "Hoje entra no seu consultório uma mãe dizendo que está sofrendo demais porque não sabe se compra carne para o filho que tem anemia ou arroz e feijão para todos da família comerem (inclusive,outros dois filhos não anêmicos). Horas depois, uma outra paciente se queixa de muito sofrimento porque não sabe se passará o final de semana em Paris ou em Nova Iorque. Como você lida com essas duas mulheres? O sofrimento da primeira é maior do que o da outra?"

    Nesse momento, fiquei sem palavras para responder. Quase arrisquei dizer que a primeira mulher sofria muito mais, justificando seu sofrimento pela incapacidade gerada pelas desigualdades sociais. Foi aí que a professora falou que não poderíamos considerar a primeira mulher "mais sofredora que a outra", precisávamos considerá-las como sujeitos e assim oferecer nosso trabalho.
    Essa análise voltou à minha cabeça quando vimos o filme há duas semanas atrás e concluimos, que de maneiras diferentes, ambos os grupos de crianças estavam trabalhando. Precisei, novamente, questionar-me sobre tal posição, para poder compartilhar a mesma concepção.
    E sei que isso poderá/ acontecerá mais vezes, quando ouvirmos que alguém quer estudar matemática para gerenciar melhor o tráfico, ou quando alguém disser que é a pessoa mais infeliz do mundo porque não pode ir a uma festa sem comprar um vestido novo de sei lá quantos reais, ou outros milhões de exemplos que irão bater de frente com nossas concepções, nossos valores.
    Assim como você, acredito que isso se dará na prática, tomando muitas "porradas", mas também pode ser facilitado através de grupos que compartilhem tais anseios como essa disciplina, e obviamente, do nosso esforço de reflexão sobre nós mesmos enquanto psicólogos.

    (Imira Fonseca)

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  2. Em relação ao comentário da Imira, gostaria de levantar a seguinte questão, que muito se assemelha ao problema colocado pela professora por ela citada: Será que podemos falar de desejos supérfluos? Gosto de pensar que não: o problema trazido pela primeira mãe é tão legítimo quanto o outro. Agora: por que será que a primeira mãe tende a nos sensibilizar mais?
    João Pedro

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  3. Ana Marcela, aqui a letra do video que você postou:
    Classe Média
    Max Gonzaga

    Sou classe média
    Papagaio de todo telejornal
    Eu acredito
    Na imparcialidade da revista semanal
    Sou classe média
    Compro roupa e gasolina no cartão
    Odeio "coletivos"
    E vou de carro que comprei a prestação
    Só pago impostos
    Estou sempre no limite do meu cheque especial
    Eu viajo pouco, no máximo um pacote cvc tri-anual
    Mais eu "to nem ai"
    Se o traficante é quem manda na favela
    Eu não "to nem aqui"
    Se morre gente ou tem enchente em itaquera
    Eu quero é que se exploda a periferia toda
    Mas fico indignado com estado quando sou incomodado
    Pelo pedinte esfomeado que me estende a mão
    O pára-brisa ensaboado
    É camelo, biju com bala
    E as peripécias do artista malabarista do farol
    Mas se o assalto é em moema
    O assassinato é no "jardins"
    A filha do executivo é estuprada até o fim
    Ai a mídia manifesta a sua opinião regressa
    De implantar pena de morte, ou reduzir a idade penal
    E eu que sou bem informado concordo e faço passeata
    Enquanto aumenta a audiência e a tiragem do jornal
    Porque eu não "to nem ai"
    Se o traficante é quem manda na favela
    Eu não "to nem aqui"
    Se morre gente ou tem enchente em itaquera
    Eu quero é que se exploda a periferia toda
    Toda tragédia só me importa quando bate em minha porta
    Porque é mais fácil condenar quem já cumpre pena de vida

    Natália Ferreira

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  4. Sobra a letra dessa música, fiquei pensando nesse trecho:
    " Toda tragédia só me importa quando bate em minha porta"

    Fiquei pensando nas implicações do psicólogo com a sociedade e dos efeitos que sua prática produz. Como psicólogos não estamos "a parte" dos acontecimentos do mundo...Como a Ana Marcela disse, não somos neutros...
    Sobre isso tem um texto muito bom, tem tudo a ver com essa discussão e poderia até fazer parte da disciplina:
    "O efeito Foucault: Desnaturalizando Verdades, Superando Dicotomias" (Coimbra & Nascimento,2001) http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-37722001000300006

    O texto falo sobre essa dicotomia que existe entre Psicologia e Política. Sobre como a psicologia nasce com essa pretensão de neutralidade: "Tal compreensão tem reafirmado as práticas que separam radicalmente esses dois campos, pois se entende que a ciência psicológica não permite interlocuções com determinados temas, em especial os considerados políticos, não podendo ser conspurcada por questões consideradas tão distantes dela e que nada têm a ver com sua essência."
    E sobre como psicologia e política são"territórios que se cruzam, que se atravessam, que se complementam, que são múltiplos e impossíveis de serem apreendidos em sua totalidade.".

    Não vou ficar colando mais "pedacinhos" do texto aqui para não fazer esse post ainda maior. Mas acho muito válido a leitura completa.

    ( Natália Ferreira)

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