terça-feira, 12 de abril de 2011

A escolha, os outros e o psicólogo

Na última semana, durante nossa aula duas coisas me chamaram atenção. Começarei pela ultima, que por ter aparecido no final da aula não foi motivo de muita discussão, mas volto nele aqui para não cair no esquecimento. Quando nossas escolhas alteram não só nossa vida mas alteram a vida de inúmeras pessoas, num desencadear de novos rumos que podem fugir às expectativas futuras pensadas por nós num instante inicial. O que a meu ver parece que a cada momento, a cada nova escolha, alteramos significativamente o futuro anteriormente pensado no presente. Sobre este assunto, exemplifique em aula o filme efeito borboleta. Confesso um blockbuster nada original, mas a idéia de teoria do caos da física se mostra presente nele. Óbvio que não podemos mudar o passado e se pudéssemos, que final desejaríamos para nós? Será que mudar nossas escolhas anteriormente feitas mudaria as situações para o futuro que desejávamos? Mas como o filme não traz nada de original. Pensei em outro, um pouco mais alternativo, que tal “Corra Lola Corra”. Acompanhar a atriz Franka Potente num desencadear de escolhas minimalistas num curto período de tempo para salvar seu namorado no final, pode não ser o tema mais original também. Mas o barato do filme é ver os detalhes que a mudança de certas escolhas nossas podem desencadear numa simples pessoa que cruza em um instante nossa vida. Prestem atenção nas imagens de polaróides ao longo do que parecem cenas repetitivas de um filme corrido do começo ao fim, sem trocadilhos na palavra. Ah! Sim, aviso que o filme é alemão, a língua não é das piores, mas os gritos de Franka irritam. Mas é um bom filme sobre escolher e se pudéssemos mudar nossas escolhas, o que mudaria. Só para refletir mesmo.
O outro ponto que me chamou a atenção foi a questão levantada sobre o papel do psicólogo quando procurado para resolver as escolhas do sujeito. Não tem como negar que nós como psicólogos nos pomos numa relação de poder. Funcionamos como as regras que foram criadas pelas estratégias do poder. Muitos desses indivíduos nos chegam já com suas identidades fixas. Foucault diz que não pode haver uma interioridade substancializada. Esse eu que decide e escolhe é um ser produzido. Não se pode, portanto, falar de um desejo nosso singular, tudo é decidido nas relações. Nós estamos acostumados a pensar com Descartes e tomamos nosso eu como ponto de partida. Nossos desejos não são espontâneos, mas são produzidos. Mas aí vem a pergunta, o que fazer psicólogo? O psicólogo se apresenta como aquele que ínsita o desejo singular do sujeito, possibilitando que haja por parte dele uma resistência, isto é, a criação de um modo inédito de vida. Já que a liberdade é uma prática e não uma propriedade do humano. Esse indivíduo de identidade fixa não possui singularidade, já que ele é produção de poder. Quando falamos num singular dizemos algo anômalo que foge às malhas do poder. Se pôr como incompetente para estar a altura do que a sociedade exige do sujeito, pode gerar um sofrimento ao sujeito. O psicólogo está ali para que haja por parte do sujeito uma resistência ativa, isto é, poder dizer que não quer aquilo que lhe é exigido, e assim, poder se inventar, poder trazer para si a singularidade. Há sempre uma zona obscura que o poder não pode recobrir. É essa zona que funciona como potencial criador, que permite ao sujeito resistir criando. Acho que é essa a função do psicólogo, permitir ao sujeito encontrar sua forma de resistir criando a si próprio diante de suas escolhas.

Bruno Fontes.

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