terça-feira, 1 de junho de 2010

Implicação e culpa


Certo incomodo me acompanhava já há algum tempo, mas, de certo modo, ele ganhou forma nas discussões das últimas aulas – e me parece importante, pelas traduções que tenho feito, reportar-me a ele também aqui no blog. Não sei se serei clara em tudo que gostaria de dizer, mas muito do que escrevo tem relação com a busca de uma coerência conceitual.

Pôr em análise os processos de escolha é, ao invés de solucionar questão, tornar mais complexo o cenário (tirando a escolha do lugar de objeto e entendendo ela própria como um processo). Parte-se, então, de um entendimento sobre o sujeito, visto não como um individuo homogêneo dotado de uma essência dada de antemão e constante, mas como um agenciamento coletivo de enunciação, referindo-se a uma subjetividade que é indissociável da noção de produção. Um subjetividade que não é só particípio, mas gerúndio, à medida que ela não foi construída historicamente (e, portanto, concluída), mas está em se fazendo . Um sujeito que é, portanto, coletivo, que se constituis por / em uma multiplicidade de atravessamentos. E, nesse ponto, me parece prudente e interessante aproximar Deleuze e Guattari, Foucault e Latour, me apropriando das noções utilizadas por esse último, para dizer que esse sujeito é ele próprio uma rede ao mesmo tempo que também faz parte de uma rede. Um sujeito que é coletivo e que (na falta de uma palavra melhor) compõe um coletivo de humanos e não humanos.

É nesse âmbito que eu vejo com muita cautela que se possa dizer que, em última análise, tudo é escolha (até a escolha da escolha). Distanciar-me disso, entretanto, não significa afirmar que os processos se dêem em termos de determinismos históricos (que, a meu ver, parece um repaginamento da dualidade causa-efeito, deslocando o que determina, por exemplo, de uma essência humana para um social exteriorizado, separado em algum momento), desimplicando o sujeito e culpabilizando “o mundo”. Entender que tudo é escolha aloca no sujeito toda a responsabilidade. Sem se atentar, culpabiliza-se o sujeito, assumindo um entendimento, diria até, solipsista que apaga a dimensão coletiva, isola esse sujeito da rede de que ele faz parte. E, muitas vezes, negligencia até mesmo que esse sujeito é coletivo, é também ele uma rede de múltiplos agenciamentos, atravessamentos, nós. (E a discussão que Felipe e Veronica trazem se coloca também como muito importante)

Acho mais interessante pensar que em tudo há escolha, entendendo que toda ação é política, que todo sujeito está implicado, mas não como o único vetor ou como o vetor mais importante, mais substancial, por si só. Diz-se que o bater das asas de uma borboleta pode produzir um furacão do outro lado do planeta, mas isso, por acaso significa a necessidade da caçada e extermínio de todas as borboletas como prevenção? As ressonâncias da queda do muro de Berlim não se deram pela queda do muro em si, mas pelas articulações das quais esse muro era também um actante. Se o muro caísse hoje ou vários anos antes de 1989, as ressonâncias seriam as mesmas? As escolhas seriam as mesmas? E as condições de possibilidade? E os critérios? E esse sujeito que escolhe? É possível dizer que se tratava só de uma questão de escolha daquele que deu a primeira marretada no concreto? Ou, até mesmo, das escolhas em cadeia, ou melhor dizendo, escolhas relacionadas de todos os que escolheram derrubar uma parede e o que ela significava? Na falta de uma expressão melhor, acredito que há algo que está para além do sujeito, que ele não escolhe, mas com o qual ele está implicado macro e, sobretudo, micropoliticamente. Por em análise os processos de escolha é torná-lo mais complexo. Nem culpabilizar o sujeito, nem culpabilizar o mundo, mas entender a escolha em seus múltiplos atravessamentos – que implicam e que também estão para além do sujeito, sem naturalizações ou determinismos. É pensar que esse algo também compõe essa escolha que não é objeto, mas sim processo – e processo coletivo.


Jéssica David

17 comentários:

  1. Jéssica, acho que você pegou bem o ponto.
    Toda ação é política, não se dá por mero acaso.

    Estamos implicados em processos produtivos, do mundo e de nós mesmos. Utilizar o grupo como dispositivo (que é a aposta da AV e será melhor discutida na próxima aula) significa entender que este grupo é potente para revelar algumas linhas de força e de discursos que produzem o mundo como conhecemos. Que derrubar o muro de Berlim, escolher uma profissão, usar drogas, escutar um paciente psiquiátrico, selecionar um candidato a estágio, tudo isso é mais complexo do que parece. Está envolvido com processos maiores de produção. E também com nossas escolhas frente a isso tudo.
    Não é culpabilizar sujeito nem mundo. Para que essas dicotomias? Sujeito não individualizado, sujeito-agenciamento coletivo de enunciações. Onde acaba o individual e começa o coletivo em uma escolha, em um processo?
    essas categorias não são verdades a priori. Elas operam no mundo produzindo novas verdades, novos modos de existência.

    Há processos coletivos de construção das escolhas - que cada um de nós (que não é um eu individualizado mas uma multidão de discursos, desejos, histórias)está diretamente implicado, e escolhe o que faz com isso.



    Essa discussão não é nada fácil. participo do Projeto do pedro há quase um ano, e toda essa discussão me instiga novas duvidas, questões. ainda bem, porque não pretendo ter respostas prontas.

    Até terça!
    Luan

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  2. Jessica, achei excelente a sua colocação e concordo.
    E a partir de uns pontos que você levantou, me vi pensando em Sartre. Posso estar muito equivocada, até porque não acho que tenho conhecimento no assunto. Mas toda essa questão de se construir, de ser fazer, de estar e não ser, de não ter essência, como você colocou, me leva a ele. Assim como o fato de sempre escolhermos, muito presente nos debates da disciplina. Até mesmo quando não escolhemos ("tanto faz", "nada"), estamos escolhendo não escolher. E sim, a responsabilidade seria do sujeito que escolhe, mas acredito que essa escolha é permeada por seus atravessamentos.
    Seria possível, também uma aproximação com ele?

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  3. Bem Jessica, também gostei muito das suas colocações a respeito da discussão e confesso que ela clarificou bastante o meu entendimento sobre o assunto, mas ainda me vejo confusa quando considero uma escolha dentro de limites impostos, posto que uma pessoa que nasce recebendo tipos de imformações que sempre se confirmam,e vive a partir de atravessamentos que não a forçam uma visão diferente (se é que isso é possível!). Me ponho a pensar se a responsabilidade das escolhas deste indivíduo ainda seria deste, mesmo permeada por seus atravessamentos?
    Tudo isso me remete a uma situação: quando um indivíduo, nasce em uma favela, tem seu cotidiano com traficantes, desconhece a escola (no sentido de nunca a ter sido apresentado a esta de forma positiva). Me questiono até que ponto é uma escolha deste continuar a fazer o que vem presenciando e aprendendo durante toda a vida, se não houve nada diferente a ele apresentado? A responsabilização nesse caso, entendo que seria deste indivíduo,considerando sempre que tal escolha foi resultante de sua história, de seus atravessamentos... Mas retomo uma questão de uma outra aula: "Até que ponto uma escolha dentro de limites impostos, é uma escolha verdadeira?" Mesmo considerando o ato de escolher como algo inato, ainda assim não seria pertinente considerar que até para abrir mão das alternativas que lhes são impostas, é preciso que esse "abrir mão" seja lhe apresentado como uma possibilidade de escolha?

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  4. Este comentário foi removido pelo autor.

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  5. Vanessa, leio um livro chamado "Crianças do Tráfico", do Luke Dowdney, no qual ele fala um pouco sobre as escolhas destes jovens que optam pelo crime organizado. Segundo ele "'escolher' entrar para o tráfico pode ser redefinido como sendo 'a melhor alternativa entre opções limitadas'" (p.74). Este é o biopoder (Foucault, 1979), tecnologia de produção de subjetividades, onde as escolhas definidas a priori criam no sujeito a ilusão de que a eleição de um caminho resulta da escolha pessoal e é de responsabilidade individual. Provavelmente estes jovens possuem outras opções, porém segundo seus modos de análise das escolhas disponíveis, naquele momento, sua opção foi pelo tráfico, o que não quer dizer que ele não tenha escolhas, e que elas não possam ser trabalhadas com eles. Ontem vendo Jô Soares, um rapper chamado "Poeta dos Motoboys" versou uma frase que ficou na minha cabeça também "o crime não compensa, e o meu salário também não". A "escolha" destes jovens é limitada entre algumas opções produzidas, que acabam levando uma minoria deles, para o caminho ilícito. Também não sei até que ponto é uma "escolha verdadeira", me parece que em grande parte, esta escolha pelo crime não vem de uma profunda análise dos seus desejos, parece mais uma escolha "encomendada". Por isso é importante que nosso papel seja de lhes apresentar e possibilidar um novo universo de escolhas possíveis, ajudando-os a se inserirem como protagonistas de suas escolhas. Estagio no DEGASE, e lá pude ver de perto como os jovens podem se colocar como vítimas de uma situação onde eles não tinham escolha, onde o lugar deles foi produzido. É dilacerante ouvir certas histórias, você se deixa afetar, e pra mim em certas horas foi também difícil ver outras possibilidades, mas elas podem ser delineadas, e pudemos problematizar essa imposição de modos de vida.

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  6. Gente, queria dizer primeiro que fico feliz do Blog está se movimentando. (rsrs) . Acho que essa era a idéia inicial e que demorou a acontecer. Sou estagiária do Pedro há dois anos, e acho que todas essas discussões fazem com que a gente, da equipe, repense muitas coisas das nossas práticas, mas acho que acima de tudo, contribui para que todos nós repensemos nossas práticas enquanto psicólogos, algo que deveria acontecer mais vezes dentro e fora da universidade e que infelizmente não acontece. Quanto as discussões, achei muito interessante as colocações da Jéssica, e acho que elas tocam num ponto muito importante e que a meu ver, está perpassando por essas discussões que têm acontecido em sala: a questão da culpabilização ou responsabilização de um indivíduo. Se “a responsabilidade das escolhas deste indivíduo ainda seria deste“? Acho que o primeiro ponto é a gente tomar cuidado com a noção de indivíduo da qual estamos falando. Dentro de uma noção de processo, falar em indíviduo como uma noção fechada e, portanto culpabilizável é algo que não caberia. É que essa noção do sujeito foge a uma noção de sujeito centralizado, em que existe um EU que é constante, mas é falar de coletivo, de rede, de entrecruzamento de forças de várias espécies, que estão para além dele mas que o constituem.

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  7. E nesse sentido, acho que se falamos de um sujeito que não tem essência, uma natureza pronta, constante e a priori, acho também bastante complicado a afirmação de que o “ato de escolher é algo inato”. E concordo que afirmar que tudo é escolha, também é partir dessa responsabilização que individualiza esse agenciamento coletivo de enunciação e “que apaga a dimensão coletiva, isola esse sujeito da rede de que ele faz parte”. E a noção que a Jéssica trouxe de que nem tudo é escolha, mas em tudo há escolha, é pra mim uma excelente forma de falar sobre as escolhas. Pra mim, é partir de uma visão de mundo e apostar que é possível dentro de toda essa sociedade e de tantas complexidades que ela nos remete, a gente produzir novas maneiras de existir. Falar que em tudo há escolha, acho que é acreditar na idéia de movimento, de mudança, de processo, e não em determinações. Outro ponto que me chamou a atenção, é que falar no conceito de atravessamento, pelo que eu entendo, é diferente de falar em determinante histórico. A noção de produção de subjetividade como o efeito emergente de uma rede processual de vetores heterogêneos traz a idéia de rede-coletivo da qual esses vetores heterogêneos “surgem” mas traz também a idéia de emergência. Não é determinando a rede em que o sujeito está inserido que é possível determinar qual sujeito será construído. Entendo que afirmar que o sujeito que vive em determinado espaço e não tem escolhas porque só teve contato com aqueles determinantes históricos seria “culpabilizar” o mundo por definir os sujeitos, e mais uma vez cair na dicotomia entre o indivíduo/sociedade. Eu tava lendo os textos, e sei lá, fiquei me perguntando que favela é essa em que todos os sujeitos se relacionam com o tráfico de uma única maneira e que NENHUM sujeito NUNCA conheceu nenhuma outra maneira de viver? Me incomoda um pouco e parece as vezes que tal afirmação cai no reducionismo de que todos os moradores de favela, por não terem outras opções, tornam-se traficantes. O fato dos indivíduos que moram em favela morarem em uma favela não significa que exista uma única forma deles serem atravessados, deles serem construídos. Nesse sentido, não concordo que todas as limitações da favela, pegando o exemplo que foi citado, seja suficiente para construir os mesmos sujeitos naquele espaço. E no entanto, falar de tudo isso não é o mesmo que negar que tais limitações existam e que apareçam sim nas construções desses mesmos sujeitos, mas é afirmar que essas construções se dão de diferentes maneiras para cada sujeito. Como eu falei uma vez em aula, afirmar que existem escolhas e que é possível criar novas possibilidades não é criar um mundo utópico e dizer que todas as pessoas tem as mesmas possibilidades de escolha, mas é, acima de tudo, acreditar que os campos de possibilidades não são dados, mas são construídos, e que portanto podem se modificar.

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  8. Essa última frase da Flávia traduz bem a forma como eu entendi a proposta, acrescentando ainda a frase da Yasmim: "é importante que nosso papel seja de lhes apresentar e possibilidar um novo universo de escolhas possíveis, ajudando-os a se inserirem como protagonistas de suas escolhas". Quer dizer, não é como se a pessoa fosse tomar as rédeas do seu futuro e moldá-lo à sua vontade, mas sim mostrar como ela pode *construir* escolhas dentro das condições que o meio oferece, além daquelas escolhas que aparecem como prontas (por exemplo, entrar para o tráfico ou ganhar pouco).

    Ok, acho que entendi a proposta prática, mas confesso que ainda fico meio confuso com a teoria.

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  9. hehehe, é flávio....a teoria é bem complicada mesmo...mesmo nós estagiários que estamos em contato com isso há um tempo temos mts dificuldades com a teoria...dá até pra deixar maluco!!=)
    é legal a forma como você colocou e eu entendo isso mesmo...a pessoa nem se quisesse poderia tomar as rédeas do futuro dela pq ninguem sabe o q vai ser do futuro....não é prévio né?quando as situações vão se colocando a nossa frente é que nós agimos...
    eu só tomaria cuidado com duas coisas que você falou....o primeiro ponto é quando você fala que nós lhes apresentamos e possibilitamos...e sim, no fundo a gente possibilita...mas é que as veses pode ficar confuso: a gente não leva AS POSSIBILIDADES para eles, tipo não apresenta (você, fulano, tem essa essa essa opção de escolha) mas acho que o trabalho com o grupo e o encontro com outros formas de pensar e se relacionar com o mundo permite que eles percebam que sim, existem outras possibilidades....e essa percepção também não é uma garantia....
    o segundo ponto é de que existem escolhas dadas, porque a partir dessa concepção, até mesmo do subjetividade e história e tal, nada é dado e tudo é construído...sim, há limitações, mas essas limitações que chegam são construídas pela sociedade, pelas pessoas, pelas formas de pensar, pelas formas de agir....sim, aparecem para a pessoa como algo de fora, mas acho q justamente o que eu acho interessante é que as ações daquele sujeito estão implicadas com a construção ou descontrução dessa mesma sociedade...ações de uma pessoa estão articuladas com uma sociedade, assim como os efeitos das ações estão para além daquela pessoa....porque pessoa e sociedade se (re)constroem....as ações legitimam práticas e produzem formas de ver pensar e sentir o mundo....."toda ação é política, porque ou conserva ou transforma"...
    aff, muita coisa...rsrsrs
    beijos e até amanhã!

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  10. Volta e meia penso em alguma citação pra colocar aqui, mas a falta de tempo [e, confesso, a preguiça tb] me impedem. Até pq são algumas discussões que eu acredito ser muito mais interessantes em aula. Mas enfim...

    Flavinho (e quem mais interessar, obviamente) dessa vez eu não resisti. Acho que são trechos bons de por em jogo aqui - até pq retomam pontos que eu considero importantes de ser discutidos. São do texto "A cartografia como método de pesquisa-intervenção" de Eduardo Passos e Regina Benevides de Barros (que está no livro "Pistas do Metodo da Cartografia", organizado por Eduardo Passos, Virginia Kastrup e Liliana da Escóssia.)

    "(...)inseparabilidade entre conhecer e fazer, entre pesquisar e intervir: toda pesquisa é intervenção. Mas, se assim afirmamos, precisamos ainda dar outro passo, pois a intervenção sempre se realiza por um mergulho na experiência que agencia sujeito e objeto, teoria e prática, num mesmo plano de produção ou de coemergência - o que podemos designar como plano da experiência. A cartografia como método de pesquisa é o traçado desse plano da experiência, acompanhando os efeitos (sobre o objeto, o pesquisador e a produção do conhecimento) do próprio percurso da investigação." (p.17-18)

    "Defender que toda pesquisa é intervenção exige do cartógrafo um mergulho no plano da experiência, lá onde conhecer e fazer se tornam inseparáveis, impedindo qualquer pretensão à neutralidade ou mesmo suposição de um sujeito e de um objeto cognoscentes prévios à relação que os liga. Lançados num plano implicacional, os termos da relação de produção de conhecimento, mais do que articulados, aí se constituem. Conhecer é, portanto, fazer, criar uma realidade de si e do mundo, o que tem consequências politicas. Quando já não nos contentamos com a mera representação do objeto, quando apostamos que todo conhecimento é uma transformação da realidade, o processo de pesquisar ganha uma complexidade que nos obriga a forçar os limites de nossos procedimentos metodológicos. O método, assim, reverte seu sentido, dando primado ao caminho que vai sendo traçado sem determinações ou prescrições de antemão dadas. Restam sempre pistas metodologicas e a direção ético-politica que avalia os efeitos da experiência (do conhecer, do pesquisar, do clinicar) para dai extrair os desvios necessarios ao processo de criação.
    Tal processo se dá por uma dinâmica de propagação da força potencial que certos fragmentos da realidade trazem consigo. Propagar é ampliar a força desses germens potenciais numa desestabilização do padrão. Nesse sentido, conhecer a realidade é acompanhar seu proesso de constituição, o que não pode se realizar sem uma imersão no plano da experiência." (p. 30-31)

    Daí me vem a vontade de discutir a questão da invenção que Prigione e Stengers retomam, de onde a Virginia Kastrup tb parte,de uma criação que não é ex-nihilo, a partir do nada... Mas agora não vou poder, rs. Até pq, ao pensar o grupo como dispositivo, como o Luan disse, essas são questões que aparecerão e que poderão ser melhor discutidas.

    Abraços a todos.

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  11. Complexo isso, mas vamos lá...rs

    “o trabalho com o grupo e o encontro com outras formas de pensar e se relacionar com o mundo permite que eles percebam que sim, existem outras possibilidades....e essa percepção também não é uma garantia....”

    Então o indivíduo é ativo (porque toda ação é política), mas ao mesmo tempo existem limitações “construídas pela sociedade, pelas pessoas, pelas formas de pensar, pelas formas de agir”. Essas limitações seriam por tanto impostas pelo coletivo. Mas então fico pensando no caso de um sujeito (inserido no coletivo) que gostaria de fazer odontologia e não possui recurso financeiro para concluir o curso. Nesse caso, o sujeito vai buscar outras possibilidades ao se deparar com esse tipo de limitação. Mas então não consigo vê-lo como um agente no seu processo de escolha... É como se as limitações pudessem de fato mostrar o que ele não pode escolher. Então parece que olhar para o que não pode acaba sendo um critério de escolha que ele não escolheu, mas foi construído pelo coletivo (o qual ele faz parte). Até porque não cabe aqui um pensamento utópico onde todos podem tudo.

    Não sei se me fiz entender, mas com certeza está faltando alguma informação que eu preciso para corrigir esse raciocínio.

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  12. Nara, por tudo o que já entendi da matéria e das disucssões, todos nós temos limitações, sendo elas ou construídas pela sociedade, ou pelas pessoas, formas de pensar ou agir. Todos nós as temos, porém, não temos as mesmas. Cada sujeito possui as sua limitações e não necessariamente essas limitações tem que passar pela questão econômica. Pois algo que está muito marcado nessas discussões, é a questão ecônomica. Nem toda dificuldade e barreira que o sujeito tem em sua vida, é relativa ao dinheiro. Um sujeito pode não ter problema financeiro nenhum, mas pode ter limitações tão rígidas como. Contudo, como já foi falado anteriormente, em tudo há escolhas. Mesmo diante do fato desse estudante estar com dificuldades financeiras, tendo sua formação dificultada. A questão financeira é uma limitação para ele, porém, pode existir mais opções do que somente interromper o curso ou optar por outro. E aí, entra a "construção das escolhas", pois as escolhas dele, podem não estar limitadas apenas a essas óbvias.
    Fazendo-se uma análise, pode-se criar novas opções que antes não estavam sendo vistas. Porém, isso deve ser feito pelo sujeito, e nós de fora não podemos fazê-la por ele. Essa questão inclusive já foi bastante discutida em sala.
    E eu acho que é o que acontece com os estudantes da Maré, eles passam pelas mesmas limitações econômicas, porém, nem todos decidem pelas mesma escolhas, há aqueles que decidem, mesmo assim, tentar fazer medicina, por exemplo.

    Em tudo há escolha, pois você sempre pode escolher, dentro de suas limitações. As limitações existem, a meu ver, elas não foram negadas em nenhum momento, porém, diante delas, você continua tendo opções e ainda pode criar outras.
    Acho que ninguém pode escolher o que quiser, de maneira aleatória, porém, todos podem, sempre, escolher e criar novas opções que não estão sendo vistas.


    Gostaria só de falar que, por mais que essas discussões se tornem por muitas vezes repetitivas, elas estão sendo muito úteis para o meu entendimento do que está sendo abordado. Quanto mais é discutido, mais podemos elaborar nosso pensamento sobre o assunto e mais temos a oportunidade de entender ou reparar coisas que ainda não foram "bem digeridas".

    Espero que tenha sido clara.

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  13. Acho que é por aí mesmo Herika. As limitações acontecem sempre e das mais variadas formas. E, como vc disse, a importância que cada uma vai ter não dá para prever - e não dá mesmo. Existem coisas que acontecem que você não pode escolher, claro, mas você sempre pode escolher como lidar com elas. E é aí que entra a potência da construção, da singularização...

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  14. Gisele de Oliveira e Souza28 de junho de 2010 às 20:28

    Eu não compreendo ainda muito bem o vocabulário desta teoria que para mim aida parece bem complexa, mas consigo compreender a idéia que ela transmite. As limitações como foi dito existem, mas me parece que sempre existem maneiras de construir linhas de fuga. A criação de novas possibilidades de escolha, de se analisar os critérios que fazem os sujeitos optarem por este ou aquele caminho estão presentes. Me parece que o sujeito nunca está preso de tal forma que não haja a possibilidade de criar novas escolhas. Concordo com alguns dos comentários que não limitam o processo de escolhas seja por um fator econômico, ou qualquer outro fator, nenhum sujeito é atravessado da mesma forma pela história e pelo ambiente. É um sujeito coletivo, mas não por isso é determinado por esse coletivo. Penso que existem tantos atravessamentos que podem construir esse sujeito coletivo que não há como enquadrar ou delimitar um processo de escolhas de uma forma tão fechada, parece que há sempre brechas que precisam ser abertas para que possam construir novas possibilidades.

    Gisele de Oliveira e Souza

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  15. Concordo com as colocações da Hérika acerca do exemplo levantado anteriormente, sobre o estudante de odontologia, haja visto que estamos tratando de um embasamento teórico que se dá a partir de construções do sujeito e da sociedade que são indissociáveis. Nesse sentido acredito que seja complicado falar de limitações, entendendo elas como aquilo que impede a construção de algo, a conclusão do curso de odontologia como foi levantado, já que o sujeito que experiencia tal situação tem a possibilidade de realizar suas escolher a partir de atravessamentos históricos e singulares. Aqui, acho que vale a pena me remeter a Guattari e Rolnik, que no texto “Micropolítica – a cartografia do desejo”, fala do processo de singularização da subjetividade como aquele que “se faz emprestando, associando, aglomerando dimensões de diferentes espécies” e que pela minha interpretação se traduzem em formas coletivas de organização que apontam para uma autonomia em relação a escalas de valor dominante. Acredito que podemos até fala da produção de subjetividade capitalista que produz sujeitos em série e, talvez, nos remeter a esses exemplos que se colocam a limitações financeiras: eu tenho essa ou aquela possibilidade. Mas quando isso se coloca como um processo de singularização, em que o sujeito se apropria dessas demandas cotidianas, pode suscitar nesse processo de escolha uma série de ramificações, que acredito que seja difícil levantar quais sejam sem fazer parte dessa experiência. A partir de então, acredito que a última aula pôde introduzir as potencialidades tratadas pelo método cartográfico de pesquisa que defende que toda pesquisa é intervenção, ou seja, tratamos de produção de conhecimento a partir de um plano implicacional, onde há uma constante dinâmica dos processos de construção e reconstrução de escolhas e que nós enquanto psicólogos podemos suscitar problematizações nesses sujeitos que, por exemplo, passam pelos atravessamentos de uma escolha profissional. Afinal, estamos nesse campo e colocamos em análise também a maneira pela qual nossas implicações afetam o campo. Acredito que dessa forma, podemos falar de uma maneira mais enriquecedora das experiências, sem nos deter a exemplos que apenas ilustram.

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  16. Concordo com as colocações da Hérika acerca do exemplo levantado anteriormente, sobre o estudante de odontologia, haja visto que estamos tratando de um embasamento teórico que se dá a partir de construções do sujeito e da sociedade que são indissociáveis. Nesse sentido acredito que seja complicado falar de limitações, entendendo elas como aquilo que impede a construção de algo, a conclusão do curso de odontologia como foi levantado, já que o sujeito que experiencia tal situação tem a possibilidade de realizar suas escolher a partir de atravessamentos históricos e singulares. Aqui, acho que vale a pena me remeter a Guattari e Rolnik, que no texto “Micropolítica – a cartografia do desejo”, fala do processo de singularização da subjetividade como aquele que “se faz emprestando, associando, aglomerando dimensões de diferentes espécies” e que pela minha interpretação se traduzem em formas coletivas de organização que apontam para uma autonomia em relação a escalas de valor dominante. Acredito que podemos até fala da produção de subjetividade capitalista que produz sujeitos em série e, talvez, nos remeter a esses exemplos que se colocam a limitações financeiras: eu tenho essa ou aquela possibilidade. Mas quando isso se coloca como um processo de singularização, em que o sujeito se apropria dessas demandas cotidianas, pode suscitar nesse processo de escolha uma série de ramificações, que acredito que seja difícil levantar quais sejam sem fazer parte dessa experiência. A partir de então, acredito que a última aula pôde introduzir as potencialidades tratadas pelo método cartográfico de pesquisa que defende que toda pesquisa é intervenção, ou seja, tratamos de produção de conhecimento a partir de um plano implicacional, onde há uma constante dinâmica dos processos de construção e reconstrução de escolhas e que nós enquanto psicólogos podemos suscitar problematizações nesses sujeitos que, por exemplo, passam pelos atravessamentos de uma escolha profissional. Afinal, estamos nesse campo e colocamos em análise também a maneira pela qual nossas implicações afetam o campo. Acredito que dessa forma, podemos falar de uma maneira mais enriquecedora das experiências, sem nos deter a exemplos que apenas ilustram.

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  17. O dia em que aplicamos a “técnica da dificuldade” foi para mim o mais rico, pois pudemos colocar questões cruciais que ainda não estavam/estão bem resolvidas na cabeça de muitos de nós acerca da proposta da análise institucional aplicada aos processos de escolha.
    Começo minha reflexão aqui a partir de um comentário anterior, do Felipe Hauttequest, acerca do trabalhador de 12 horas diárias e da impossibilidade de se aplicar “a idéia de criar novos campos de possibilidade” independente da situação de vida do sujeito em questão.
    Quando nos remetemos a esse trabalhador, falamos de uma realidade completamente diversa da nossa. Mas não apenas no que se refere às escolhas possíveis. A diversidade reside também no modo de se relacionar, de se posicionar, e mesmo de entender a realidade. São modos singulares de estar no mundo. Tome como exemplo o esforço físico que entendo ser necessário para uma camada expressiva da população que vive da venda de sua força física, pela implicação dos corpos em atividade laboral desgastante. Tais tipos de atividades simplesmente não seriam uma opção para (me atrevo a dizer) muitos de nós – estudantes universitários de classe média. Isto pois temos estilos de vida diferentes, “atravessamentos” outros. Não apenas não teríamos condições físicas de roçar um terreno, como não teríamos a predisposição de acreditar que este seria um trabalho possível. As pessoas que trabalham nestes contextos só podem se sustentar neles por entenderem como natural este tipo de investimento, implicação de seu corpo no trabalho, naturalizando o desgaste físico. E isto só faz sentido dentro de sua própria realidade.
    O que queria levantar com isso tudo era o fato de que não podemos conhecer uma realidade a priori, pois partimos sempre de nossas preconcepções e leituras.
    Pois a nossa própria forma de entender a realidade em que nos inserimos, de nos remeter a ela, de compartilhar impressões... são construções sociais. São convenções, modos determinados e restritos, contingentes e circunscritos.
    O que me leva a outra questão, que é a da isenção de nossas leituras. Uma parcela do meu desconforto com a análise institucional se devia ao entendimento de que esta propunha uma crítica do instituído, observando sua contingência e historicidade, sem, contudo, aplicar isto a si própria. Mas isto era um equívoco meu, uma vez que os próprios autores que viemos trabalhando afirmam que não pretendem substituir uma leitura fechada do sujeito por outra. Não se trata de postular uma nova forma de produção da subjetividade/psique/mente válida para qualquer contexto. Mesmo os conceitos utilizados para se explicar essa realidade (o sujeito com um agenciamento coletivo de enunciação, o processo de produção de subjetividade...) são contingentes, estando sujeitos a transformações ou substituições condizentes com as transformações sociais que se sucedem.
    Não podemos confundir o processo de produção de subjetividades com uma socialização determinista. Não se trata de modos de interação que definem a subjetividade deles decorrentes, mas de uma variedade de influências (hegemônicas ou não) que atravessarão de modo diverso os diferentes sujeitos. Daí não podermos afirmar que sujeito é este que precisa trabalhar 12h por dia para sustentar uma família, ou aquele que mora numa favela e teve um acesso tortuoso à educação. De fato, não podemos saber como o sujeito se relaciona com estes atravessamentos até chegarmos ao sujeito. Pois corremos o risco de simplificar a situação a partir de um olhar estereotipado e localizado histórica, econômica e socialmente, para não mencionar outros diversos atravessamentos possíveis. É necessário, a meu ver, ir a campo, desprendido de nossas interpretações pessoais daquela realidade, aberto para observar os modos singulares de significação do vivido.

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