segunda-feira, 21 de junho de 2010

Jovem

Gostaria de postar aqui o trecho de um texto que fiz para meu blog pessoal. Nesse texto, eu falo sobre o processo de escolha profissional, no qual estamos envolvidos mesmo depois do vestibular. Acredito que a universidade intensifica esse processo de escolha. A universidade muda nossas cabeças, nossa forma de ver o mundo, e assim mudam os nossos caminhos.


Muita alergia. Poucas horas de sono. A expectativa foi grande. A ansiedade também. O medo nem se fala. Insegurança. Mas é aquela insegurança profunda, é algo como “o que estou fazendo aqui?”. Tantos imprevistos que parece que as coisas conspiram para dar errado. Mas aprendi a usar o imprevisto a meu favor. O imprevisto se tornou previsto. Mas o que eu não esperava era ver algumas pessoas saindo da sala no meio da apresentação. Será o tempo apertado? Ou será esse tema polêmico?

“Vá se acostumando”, ela disse. Acostumar-me? Mas nem sei se é isso que quero. Estou tomando outro caminho, quase sem querer. Um caminho não esperado, tenso, inseguro, que não me é prático, e eu tenho mania de prática. Talvez as duas escolhas sejam um erro. Ouvindo tanta gente falar, aqui, eu fico perdido e entediado. Às vezes não entendo o que essa gente fala. Dois mais dois é igual a quatro, e pronto.

Talvez a preferência por uma aparente praticidade e pelo supostamente certo e imediato retorno financeiro venha de uma cultura familiar, de certo modo de criação. Junto a essa preferência, está a idéia de que minha vida é curta demais para trilhar mais de um caminho e que escolher o trajeto errado é, portanto, um tempo perdido ou, mais do que isso, uma vida perdida. Contudo, num insight, me deparo com o fato, a evidência, de que ainda sou jovem, ainda tenho muito que viver e, portanto, tenho tempo e direito de trilhar caminhos errados.

Sim, por mais velho que às vezes possa parecer, eu sou jovem. E me sentindo jovem, torna-se mais leve o fardo do erro.


Rafael Reis.

5 comentários:

  1. Olá, Rafael! Percebo no seu texto o exemplo do que muitos vivenciam a partir das exigências recorrentes desse processo de escolha profissional. Interessante notar como é tão próximo de nós estudantes que, de algum modo, passou pela experiência de que profissão escolher. Isso a mim, particularmente, se deu mais cedo, como tive que escolher qual curso técnico deveria seguir e experienciar tal situação nos torna mais empáticos ao lidar com a esse aspecto enquanto futuros profissionais. Atualmente num contato que tive com uma ONG, que trabalha com turmas de nono- ano, me deparei com o seguinte questionamento dos coordenadores: “Nós precisamos selecionar alunos que queiram, de fato, fazer um curso técnico, pois essa é a única chance de especialização profissional que eles tem , já que são pessoas de baixa renda.” Aí pra mim se colocam duas questões, a primeira delas acredito que está bastante ligado ao imediatismo citado no seu texto, temos que escolher logo e certo. E isso se coloca de algum modo para esses jovens em uma série de instituições seja família, escola. E quando se pensa nessa oportunidade de ingresso do pré-técnico, isso é entendido pelos próprios organizadores como “a única chance”. Porque não como mais uma oportunidade?! Ou seja, além de um imediatismo, há também a limitação dirigida ao desempenho acadêmico desses jovens. Assim esses adolescentes por serem de baixa renda só seriam capazes de ingressar em cursos técnicos?! Isso me remete também aos vários exemplos citados em sala de aula, aquele aluno que quer fazer medicina, mas deve fazer biologia, que apesar de estarem no nível superior acadêmico também traduzem a questão daquele que é “incapaz”.

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  2. Gisel de Oliveira e Souza28 de junho de 2010 às 19:49

    A partir do seu texto, comecei a pensar em minhas práprias ações. Estou chegando ao final da faculdade, completei todos os créditos, fiz todas as horas de estágio, estou escrevendo a monografia... e aí. Entrei na faculdade com um pensamento de que não deveria "perder tempo", pois já havia "perdido" dois anos tentando entrar numa faculdade pública. A família pressionou e quase desisti de buscar por uma coisa que sempre quis. Agora estou terminando, e às vezes fico pensando se fiz as escolhas corretas, afinal, para quê essa pressa de terminar? Tudo bem, não vou ficar aqui para sempre. Mas será que tive tempo para pensar em outros caminhos? Será que analisei todas as possibilidades? Esta disciplina me fez pensar muito sobre meu próprio processo de escolhas dentro da universidade.

    Gisele de Oliveira e Souza

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  3. Pois é, Gisele. Está acontecendo o mesmo comigo. Acho que todos passamos por isso na faculdade, mas há momentos em que essa reflexão se torna mais crítica, mais forte. Eu chamo essa fase de "crise acadêmica" (rsrs). Acredito que a melhor forma de acalmar os ânimos é justamente 'ir devagar'. Não é fácil, pois, 'indo devagar', não estamos atendendo a essa demanda de que temos que estar sempre melhor preparados, cada vez mais cedo. É como se, mesmo capturados por uma norma, estivéssemos driblando essa norma, entende?

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  4. Ao realizar entrevistas de seleção de estagiários, é de praxe perguntar: Quais são suas pretensões futuras? O que você pretende fazer após a universidade? E os candidatos te apresentam todo um planejamento profissional, não só o que farão no momento imediato ao término da graduação, mas uma trajetória bem definida e demarcada. Ao nos depararmos com essas respostas costumamos encará-las com bons olhos, afinal o sujeito "sabe o que quer". Mas será que ele realmente sabe? Essa "crise acadêmica" nos faz pensar e analisar se o que estamos fazendo hoje, como por exemplo essa pressa para concluir o curso e a escolha da área de atuação, são apenas respostas as expectativas depositadas pelo próprio sujeito e por terceiros.

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  5. Exato. Dizer, por exemplo, que já sei qual é minha área de atuação pode significar justamente o contrário: pode significar que não sei, mas que faço uma escolha "forçada" diante da pressão de escolher.

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