quarta-feira, 30 de junho de 2010

Verbo SER

Que vai ser quando crescer?
Vivem perguntando em redor. Que é ser?
É ter um corpo, um jeito, um nome?
Tenho os três. E sou?
Tenho de mudar quando crescer? Usar outro nome, corpo e jeito?
Ou a gente só principia a ser quando cresce?
É terrível, ser? Dói? É bom? É triste?
Ser; pronunciado tão depressa, e cabe tantas coisas?
Repito: Ser, Ser, Ser. Er. R.
Que vou ser quando crescer?
Sou obrigado a? Posso escolher?
Não dá para entender. Não vou ser.
Vou crescer assim mesmo.
Sem ser Esquecer.

Carlos Drummond de Andrade


O que Drummond teria achado da Análise do Vocacional?
Poesia? Talvez...
Só sei que seria muito interessante fazer grupo com ele!


Livia Fortuna do Valle

11 comentários:

  1. Realmente, seria interessante fazer AV com ele, Livia!
    Acho que ele faz uma pergunta muito perspicaz: só se pode ser quando crescer? E agora? O que nós somos? Somos já crescidos para ser? E se ser for não-ser (como dito por Drummond "usar um outro nome, corpo e jeito?")?
    Quando falamos neste verbo, as perguntas podem ser inacabáveis. Incabíveis em 3 pequenas letras: s.e.r.
    Será que seremos?

    Ana Chacel

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  2. Fico aqui imaginando quantas vezes essa pergunta já foi feita por nós e por muitos outros. Já perdi boa parte do meu tempo imaginando Foucault se perguntado o que é ser, e por curiosidade sempre perguntava pra minha mãe o que ela queria ser quando criança, ela dizia "veterinária", vai saber quando a fobia dela por gatos pôs fim às suas bravas aspirações no reino animal. Sabe, as vezes escolher e pensar no que queremos ser não parece algo viável, mas o importante é ver que existem critérios e que alguns deles pesam mais sim e parecem até que não são escolhas por isso, mas não deixam de ser porque sempre poderia haver outro caminho, mas não somos isentos das conseqüências de uma escolha. Nossa, que pergunta essa do ser. Pensa quem existe, existe quem pensa, é quem existe, existe quem nasce, existe quem sente, existir é ser? É quem questiona, é quem faz? Quem pensa?... Que é ser? Essa pergunta diz muito mais do que qualquer tentativa de respondê-la. Eu gosto de sentir que algo sou ou que ao menos algo não sou, é bom ouvir "pensei em você quando escutei aquela música", precisamos nos diferenciar, perceber certos limites, mas o que são esses limites? De onde eles vem? Durante essa disciplina me questionei diversas vezes o que de fato quero da psicologia, o que sou enquanto aluna, o que quero. Acho que de alguma forma me sinto sendo, mas só de pensar quantas vezes mudei fico pasma e o pior é que quando percebo que mudei um estilo de vestir ou de prender o cabelo as vezes me sinto culpada, sem personalidade, volúvel e não falta quem ratifique esse pensamento. É ruim mudar? Se eu mudar eu deixo de ser quem era? Viro outra ou continuo no fundo a mesma? Que fundo é esse? Não sou definitiva, sou inacabada, posso me transformar e nunca ei de me finalizar em um produto enfim completo. Parece que nunca terei a resposta que tanto quero, a de quando e onde me tornei assim como "sou", é impossível saber o porque e os buracos de "não sou" que me fizeram. Mas acho sim que podemos questionar respostas cristalizadas e modos de pensar que nos parecem definitivos quando na verdade nada garante a fixidez de tais definições. Escolher nem sempre é verbo disponível, já escutei isso na aula. Mas questionar é possível, sempre. Tomar decisões dói, arcar com elas mais ainda, porém, não precisamos ser totalmente passivos em nossos processos de escolha, podemos quebrá-los, mastigá-los e nada garante respostas certas, afinal após questionar muito podemos chegar à mesma decisão que chegaríamos sem nada questionar, mas nossos critérios emergem e podemos escolher sim por um critério econômico, mas sabendo que ele não é o único. Ainda não sei dizer o que sou, mas desentendendo algo se faz entender (ou não)rs.

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  3. Livia, eu e a Isa estávamos pensando em uma dinâmica de fechamento para os grupos da Redes e ela sugeriu esse poema. Vamos fazer grupo com ele... =)

    Ana Luísa

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  4. O poema me fez lembrar a aula em que discutimos a construção da infância. O vídeo que vimos deixou várias coisas atravessadas na garganta, que se resumem na apresentação de uma infância idealizada, não sexualizada e apartada do trabalho. Discutindo sobre o vídeo com um amigo, fiquei na dúvida se era uma forma de incitar a fala ou se aquela era a percepção que se queria transmitir. Vou tentar expor meus incômodos e gostaria de que dialogassem com isso – aos 45 do segundo tempo, ainda tenho esperança de esclarecer algumas impressões.
    Haviam cenas em que as crianças dançavam "É o Tchan" ou assistiam a novelas e filmes com cenas eróticas na televisão. Outras cenas representavam em tom de denúncia o trabalho infantil (menino nordestino) ou a sobrecarga de atividades na infância (meninas paulistas). Ambas apresentavam igualmente denúncias à não preservação da infância, tornando crianças em pequenos adultos, tanto por estarem sendo sexualizadas quanto por não preservar seu direito à educação e lazer ao adentrarem o mundo do trabalho precocemente.
    Ora, mas não são estas dimensões que fazem parte da existência no mundo? Sei que lendo isso algumas pessoas podem torcer o nariz, mas é um ponto que eu não consigo “desconstruir” na minha visão pessoal do mundo: para estar existindo, precisamos nos implicar em alguma atividade, atrelada ou não a um grupo social mais amplo, afim de garantir nossa sobrevivência.
    Mas ainda que eu estivesse equivocada, cabe à crítica à representação implícita de um modo ideal de infância pelo vídeo. Estas cenas que descrevi poderiam estar evidenciando um paradoxo social, onde idealizamos a infância mas não produzimos estruturas que preservem sua pureza. Mas estariam estas cena colocando em questão a construção dessa infância e sua implicação na sociedade? Esta forma de representação da questão parece calar a naturalização de que sexualidade e trabalho não fazem parte da infância, que se inserem em nossas vidas apenas quando adentramos a idade adulta - ou quando ao menos colocamos um pé nesse status ao adentrar a adolescência. E talvez por isso a adolescência ocidental contemporânea seja o naturalizado momento da crise. É a crise de se aceitar uma sexualidade até então reprimida; é a crise de ter que começar a gostar de trabalho, o que até então era uma forma de punição. Aqui me recordo te ter lido ao longo da disciplina uma autora que já não me lembro o nome, mas chamava atenção para esta naturalização, passando a ser exceção o adolescente que não apresentasse os sintomas característicos da fase e sobre quem deveriam recair preocupações de pais e profissionais.

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  5. "Pensa quem existe, existe quem pensa, é quem existe, existe quem nasce, existe quem sente, existir é ser? É quem questiona, é quem faz? Quem pensa?... Que é ser? Essa pergunta diz muito mais do que qualquer tentativa de respondê-la. Eu gosto de sentir que algo sou ou que ao menos algo não sou, é bom ouvir "pensei em você quando escutei aquela música", precisamos nos diferenciar, perceber certos limites, mas o que são esses limites? De onde eles vem?"


    Cara... pois é, né? Eu me ferro pra sempre nesses questionamentos.


    "Vejamos, pois, o que podem fazer as palavras. Antes de tudo, poderás compreender-me se te disser que nunca soube o que sou? Meus vícios e minha virtudes, estou com o nariz em cima deles, não os posso ver nem recuar suficientemente para considerar-me um conjunto. Além disso, sinto a estranha sensação de ser uma matéria mole e movediça em que as palavras se atolam; mal tento nomear-me e já quem é nomeado se confunde com quem nomeia e é preciso recomeçar tudo. (...) Tu me vias, a teus olhos eu era sólido e previsível; meus atos e meus humores não eram mais que as conseqüências de uma essência fixa. Esta essência, é através de mim que a conhecias, eu a tinha descrito com as minhas palavras, eu te revelara fatos que ignoravas e que te tinham permitido entrevê-la. No entanto, tu é que a vias e só podia ver-te a vê-la. Durante um instante, foste o mediador entre mim e mim mesmo, o mais precioso do mundo a meus olhos, pois esse sólido e denso que eu era, que eu queria ser, tu o percebias tão simplesmente, tão vulgarmente, como eu te percebia. Porque eu existo, afinal, eu sou, mesmo não me sentindo ser; e não é suplício comum encontrar em si uma tal certeza sem o menor fundamento, um tal orgulho sem alicerces." [Sursis - J.P. Sartre]

    Eu acho que isso tem um pouco a ver. Ou não. Hihih.
    Eu sou, mesmo não me sentindo ser. Ele cita em outra parte:
    "era necessário eternamente que eu 'me fosse'; era o meu próprio fardo."

    Eu meio sempre que disse: "Ah! Eu não sou! Eu estou."
    E quanto isso pesa, por mais que eu queira 'estar', sei que sou algo que não sei que sou.
    Sei talvez que seja um 'estando'... quem sabe um 'vou estar estando', meio gerundismo de atendente de telemarketing mesmo.
    Mas que mesmo sendo esse agenciamento coletivo de enunciação, com essa sensação de "matéria mole e movediça em que as palavras se atolam", eu sinto uma alegria em um "pensei em você quando escutei aquela música", uma certeza sem alicerces me consola, pois aí eu sei que sou, mesmo que enquanto 'vou estar estando'... pois quem sabe... a música muda, a lembrança de mim muda, mas eu ainda 'vou estar estando', acho que aí eu me sou.
    Aí... eu ficou feliz pois me foi dado um limite que alegra o meu necessário 'me fosse', mas um limite fluido.
    Mesmo porque eu odiaria ser lembrada sempre pela mesma música. Parece que eu nasci essa música. Minha música enquanto essência. Ai, que medo. Posso ser outra? Posso? Posso? :p

    [fez sentido?]

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  6. "Pensa quem existe, existe quem pensa, é quem existe, existe quem nasce, existe quem sente, existir é ser? É quem questiona, é quem faz? Quem pensa?... Que é ser? Essa pergunta diz muito mais do que qualquer tentativa de respondê-la. Eu gosto de sentir que algo sou ou que ao menos algo não sou, é bom ouvir "pensei em você quando escutei aquela música", precisamos nos diferenciar, perceber certos limites, mas o que são esses limites? De onde eles vem?"


    Cara... pois é, né? Eu me ferro pra sempre nesses questionamentos.


    "Vejamos, pois, o que podem fazer as palavras. Antes de tudo, poderás compreender-me se te disser que nunca soube o que sou? Meus vícios e minha virtudes, estou com o nariz em cima deles, não os posso ver nem recuar suficientemente para considerar-me um conjunto. Além disso, sinto a estranha sensação de ser uma matéria mole e movediça em que as palavras se atolam; mal tento nomear-me e já quem é nomeado se confunde com quem nomeia e é preciso recomeçar tudo. (...) Tu me vias, a teus olhos eu era sólido e previsível; meus atos e meus humores não eram mais que as conseqüências de uma essência fixa. Esta essência, é através de mim que a conhecias, eu a tinha descrito com as minhas palavras, eu te revelara fatos que ignoravas e que te tinham permitido entrevê-la. No entanto, tu é que a vias e só podia ver-te a vê-la. Durante um instante, foste o mediador entre mim e mim mesmo, o mais precioso do mundo a meus olhos, pois esse sólido e denso que eu era, que eu queria ser, tu o percebias tão simplesmente, tão vulgarmente, como eu te percebia. Porque eu existo, afinal, eu sou, mesmo não me sentindo ser; e não é suplício comum encontrar em si uma tal certeza sem o menor fundamento, um tal orgulho sem alicerces." [Sursis - J.P. Sartre]

    Eu acho que isso tem um pouco a ver. Ou não. Hihih.
    Eu sou, mesmo não me sentindo ser. Ele cita em outra parte:
    "era necessário eternamente que eu 'me fosse'; era o meu próprio fardo."

    Eu meio sempre que disse: "Ah! Eu não sou! Eu estou."
    E quanto isso pesa, por mais que eu queira 'estar', sei que sou algo que não sei que sou.
    Sei talvez que seja um 'estando'... quem sabe um 'vou estar estando', meio gerundismo de atendente de telemarketing mesmo.
    Mas que mesmo sendo esse agenciamento coletivo de enunciação, com essa sensação de "matéria mole e movediça em que as palavras se atolam", eu sinto uma alegria em um "pensei em você quando escutei aquela música", uma certeza sem alicerces me consola, pois aí eu sei que sou, mesmo que enquanto 'vou estar estando'... pois quem sabe... a música muda, a lembrança de mim muda, mas eu ainda 'vou estar estando', acho que aí eu me sou.
    Aí... eu ficou feliz pois me foi dado um limite que alegra o meu necessário 'me fosse', mas um limite fluido.
    Mesmo porque eu odiaria ser lembrada sempre pela mesma música. Parece que eu nasci essa música. Minha música enquanto essência. Ai, que medo. Posso ser outra? Posso? Posso? :p

    [fez sentido?]

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  7. "Pensa quem existe, existe quem pensa, é quem existe, existe quem nasce, existe quem sente, existir é ser? É quem questiona, é quem faz? Quem pensa?... Que é ser? Essa pergunta diz muito mais do que qualquer tentativa de respondê-la. Eu gosto de sentir que algo sou ou que ao menos algo não sou, é bom ouvir "pensei em você quando escutei aquela música", precisamos nos diferenciar, perceber certos limites, mas o que são esses limites? De onde eles vem?"


    Cara... pois é, né? Eu me ferro pra sempre nesses questionamentos.


    "Vejamos, pois, o que podem fazer as palavras. Antes de tudo, poderás compreender-me se te disser que nunca soube o que sou? Meus vícios e minha virtudes, estou com o nariz em cima deles, não os posso ver nem recuar suficientemente para considerar-me um conjunto. Além disso, sinto a estranha sensação de ser uma matéria mole e movediça em que as palavras se atolam; mal tento nomear-me e já quem é nomeado se confunde com quem nomeia e é preciso recomeçar tudo. (...) Tu me vias, a teus olhos eu era sólido e previsível; meus atos e meus humores não eram mais que as conseqüências de uma essência fixa. Esta essência, é através de mim que a conhecias, eu a tinha descrito com as minhas palavras, eu te revelara fatos que ignoravas e que te tinham permitido entrevê-la. No entanto, tu é que a vias e só podia ver-te a vê-la. Durante um instante, foste o mediador entre mim e mim mesmo, o mais precioso do mundo a meus olhos, pois esse sólido e denso que eu era, que eu queria ser, tu o percebias tão simplesmente, tão vulgarmente, como eu te percebia. Porque eu existo, afinal, eu sou, mesmo não me sentindo ser; e não é suplício comum encontrar em si uma tal certeza sem o menor fundamento, um tal orgulho sem alicerces." [Sursis - J.P. Sartre]

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  8. Eu acho que isso tem um pouco a ver. Ou não. Hihih.
    Eu sou, mesmo não me sentindo ser. Ele cita em outra parte:
    "era necessário eternamente que eu 'me fosse'; era o meu próprio fardo."

    Eu meio sempre que disse: "Ah! Eu não sou! Eu estou."
    E quanto isso pesa, por mais que eu queira 'estar', sei que sou algo que não sei que sou.
    Sei talvez que seja um 'estando'... quem sabe um 'vou estar estando', meio gerundismo de atendente de telemarketing mesmo.
    Mas que mesmo sendo esse agenciamento coletivo de enunciação, com essa sensação de "matéria mole e movediça em que as palavras se atolam", eu sinto uma alegria em um "pensei em você quando escutei aquela música", uma certeza sem alicerces me consola, pois aí eu sei que sou, mesmo que enquanto 'vou estar estando'... pois quem sabe... a música muda, a lembrança de mim muda, mas eu ainda 'vou estar estando'.
    Acho que aí eu 'me sou'.

    Aí... eu ficou feliz pois me foi dado um limite que alegra o meu necessário 'me fosse'. Mas me dê um limite fluido.
    Mesmo porque eu odiaria ser lembrada sempre pela mesma música. Parece que eu nasci essa música. Minha música enquanto essência. Ai, que medo. Posso ser outra? Posso? Posso? :p

    [fez sentido?]

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  9. Este poema me remeteu à introdução do livro "Grupo: a afirmação de um Simulacro", feita por Eduardo Passos. Mais especificamente, à formulação de que os grupos seriam marcados por um paradoxo: a coexistência de fechamento e abertura, forma e força, unidade e processualidade. Em outras palavras, carecterizar-se-ia por um tensionamento
    entre a reprodução de padrões comportamentais, afetivos e intelectuais já dados de antemão, e a conseqüente redundância de se fazer o que se espera, e a configuração de um devir-grupo, caracterizado pela inventividade e a capacidade de recolocar as questões que lhes são feitas, no caso de se considerar que foram mal formuladas.
    Benevides se posiciona claramente como favorável a este segundo arranjo atitudinal de grupo, no qual mais que favorecer à imitação, à projeção de conteúdos previamente dados de um membro do grupo e, tem a potência de gerar novidade, surpresas, de permitir que o inesperado possa emergir.
    No caso de um grupo de Análise do Vocacional, pelo que pude perceber, muitas vezes o que está em jogo são os papeis cristalizados a serem cumpridos por cada um. Neste sentido, existe uma demanda a que seja traçada de maneira inequívoca uma rota de existência. Digo “existência” porque comumente a atuação profissional é tomada como signo da vida futura, o que pode ficar evidenciado nas frases "É preciso estudo para se ter futuro" e "Menino, estude para ser alguém na vida!"
    A partir dessas demandas,a potência do grupo pode se constituir como um esforço para singularizar, suscitando a atitude de uma constante criação e recriação de si mesmo, não se concebendo a profissão como um destino a ser descoberto, mas como um encantamento baseado na história sócio-cultural, familiar e individual do sujeito, bem como nas suas experiências de encantamento no momento presente...
    A partir disso, o sujeito pode ir se criando e se permitindo ser surpreendido por outros encantamentos...

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  11. gente, eu mesma exclui minha postagem anterior para refazê-la, ok? - só para esclarecer - Livia Fortuna.)

    Aline querida!

    Como seus questionamentos fazem parte de mim agora. Como suscitaram, como espelharam, como se enlaçaram com minhas questões.
    Pegando sua frase "Cara... pois é, né? Eu me ferro pra sempre nesses questionamentos." digo:

    "Cara... pois é, né? Eu me ferro pra sempre SENDO esses questionamentos."

    Sem dúvida, a busca pela delimitação/dissolução de fronteiras - não sendo nenhum pouco dicotômica ao entender a presença desses dois verbos no meu estar no mundo - é algo que me coloca para pensar eternamente na conceituação de sujeito. E mais uma vez, meu querido Drummond, vem para acalmar minhas angústias, e assim o cito para que ele também possa acalmar as suas:

    "(...)
    Sinto-me disperso,
    anterior a fronteiras,
    humildemente vos peço
    que me perdoeis".

    Que sensibilidade incrível é a desse poeta, e que pedido tão cheio de sinceridade: entender a dispersão que é o outro, que somos nós.
    Somos dispersos e anteriores a fronteiras. Talvez seja por isso que a questão da escolha seja tão difícil. Pois ela nos exige que façamos alguma fronteira, quando sabemos (sabemos?) que nosso coração é rizomático demais para isso.
    Já é difícl ser, saber como ser então... ihhh...
    Agora faz-se ideia saber o que é ser. Quanta ambição teve Sartre...

    Mas, para finalizar, queria acrescentar mais um escrito alheio:

    Acidente

    "Rasgaram meu circuito da eternidade
    e desencaparam-me os fios do nada,
    desse curto acidente fui empurrado
    sem nem passaporte pra carimbar a entrada.

    Não sei não,
    acho que cismaram comigo...
    Logo eu que estava lá
    muito bem,obrigado,
    pairando pelo infinito...

    Mãe, Pai, por que me evocaram
    pra curtir nessa realidade?
    Logo eu que estava sem prazo de validade!

    Comecei de puro iniciante,
    de todas as vidas fui primeiro
    desse eu meio torto, errante...

    Eu que era nada inventei só uma metade
    repetida e estofada de esquecimento.
    Era aquele tudo que a escolha apagou
    quando passeava de braços dados com o tempo...

    Mas tudo bem. Já que estou por aqui
    me deixo curtir no frasco perecível do verbo
    para destilar da minha inodora essência
    alguma coisa meio perfumada... (pontuada.)"

    J.P. Guéron


    Ao ler essa poesia, vejo toda nossa condição do estar no mundo: passando pelo ter que ser alguma coisa, atravessados somos pelas escolhas que temos que fazer sobre ser, enquanto os verbos, na verdade, são perecíveis, e nossa essência... nossa essência?
    Achei ótima a caracterização dela como inodora. Achamos que ela está lá, ou pelo menos acreditamos que ela possa estar, mas ela não dá pistas do que ela é.

    Abraços,
    Livia Fortuna do Valle

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