domingo, 27 de junho de 2010

Educação "Vestibulesca"

"Boa escola é aquela que segue os modelos dos cursinhos. Aquelas que não se ajustam estão condenadas à marginalização: instituições inúteis, não preparam para os vestibulares. (...)
Outras (inteligências), segundo denúncia de Hermann Hesse, são simplesmente assassinadas. Os exames vestibulares encontram-se entre os feiticeiros que fazem dormir muitos tipos de inteligência e entre os assassinos que matam muitas outras. são, assim, culpados de bruxaria e assassinato... (...)
Havendo (os alunos) desenvolvido com sucesso o tipo de inteligência necessária para passar nos vestibulares, que pressupõe haver sempre uma alternativa correta, entre as várias apresentadas, sua inteligência não conseguia conviver com uma situação de incertezas, em que cada decisão é sempre uma aposta (...)"

(ALVES, Rubem. Disponível em: www.rubemalves.com.br/vestibulodecoisanenhuma.htm)

Nira

7 comentários:

  1. "inteligência necessária para passar nos vestibulares, que pressupõe haver sempre uma alternativa correta, entre as várias apresentadas, sua inteligência não conseguia conviver com uma situação de incertezas, em que cada decisão é sempre uma aposta"

    Muito bom esse fragmento. Mas, fico me perguntando, até que ponto essa "inteligência da alternativa correta" é exigida somente no vestibular. Prefiro pensar o vestibular como um analisador na sociedade do que como um grande assassino, como coloca o autor.

    Na minha opinião, nos deparamos diariamente com a necessidade de ter respostas certas, que tamponem as incertezas, o não-saber. A universidade, por exemplo, muitas vezes assume o papel de nos preparar para responder corretamente às demandas do mercado. Ela, a universidade, falha duplamente, não somente por fazer muitos acreditarem em "dar respostas", mas também por incumbir-se de algo que fere o sentido último de sua existência: instaurar a dúvida.

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  2. Gisele de Oliveira e Souza29 de junho de 2010 às 23:12

    Vejo o sistema de vestibular como um dos divisores sociais mais visíveis. Isso me faz lembrar um pouco o documentário que foi passado na aula sobre o ato dos sem-teto no Rio Sul. Essa questão dos limites sociais que não estão visíveis, mas existem. O Vestibular me parece como uma expressão bem explícita da desigualdade social no nosso país, é como uma parede que só pode ser transposta por quem sabe a resposta correta, por quem foi preparado para dar respostas corretas. Aliás, esta questão do preparo na educação está fortemente demonstrada por este modelo educacional de cursinhos. Não se educa os alunos para refletir e criticar, e sim prepara para alguma coisa que vem depois, uma nova etapa. No entanto, a educação superior não é somente mais uma etapa, ela representa algo muito maior na vida dos sujeitos, representa uma profissão. Como está no texto do Tuiávii, a profissão é algo muito confuso para nós, ela delimita, dita o que iremos fazer para o resto de nossas vidas. Mas será que é assim mesmo que deve ser? A profissão com o uso que fazemos dela delimita nosso campo de possibilidades de escolha e muitas vezes nos impede de alargar este campo, fazendo com que não saibamos lidar com incertezas, muitas possibilidades só fazem confundir e trazer mais incertezas. Contudo, viver de forma a sempre saber qual será o próximo passo muitas vezes não é nada confortável, às vezes é preciso se arriscar e apostar em novas escolhas.

    Gisele de Oliveira e Souza

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  3. Uma das grandes dificuldades demonstradas pelos jovens verstibulandos seria o medo do fracasso, de fazer uma escolha errada dentre a gama de possibilidades que se apresentam. Esse não saber agir frente as incertezas não é um privilégio desses jovens, está presente na vida de todo ser humano em situações até mesmo cotidianas, sendo consequência do imaginário construído da existência de uma resposta certa, do planejável e do controlável que garantiria um posicionamento confortável da certeza, da segurança e não da dúvida.

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  4. Como disse a Luiza o não saber agir não é um privilégio apenas dos jovens vestibulandos é uma questão presente na vida de todos. Mas sabemos que o vestibular é socialmente a primeira escolha dita mais importante de nossas vidas. Lembro-me da aula de uma das estagiárias do Pedro Paulo que, infelizmente, não me lembro o nome, em que ela comentou que seu irmão escolheu não fazer vestibular ao sair da escola, escolheu trabalhar, não sei como foi na família dela a repercusão por isso, sei como seria em minha família, seria um choque, é um choque, meu irmão do meio disistiu da faculdade, começou a fazer, mudou de curso e depois abandonou, isso é um incômodo até hoje para o meu pai, um grande incômodo. Por ser a "primeira importante escolha de nossas vidas" é que acredito vir junto o medo do fracasso, pois comigo foi assim... o medo de fracassar vinha principalmente porque sabemos que as pessoas perguntam sobre o que escolhemos de curso para fazer na faculdade (e muitas vezes de forma cruel não respeitam a escolha do outro, ou porque o mercado está saturado, ou porque não dá dinheiro, ou porque se é pobre e essa escolha não lhe cabe, como muito bem sempre levantava o Pedro Paulo), porque perguntam como estamos indo nas provas, porque perguntam se passamos ou não e se não passamos pode vir a vergonha de falar que não, o sentimento de incapacidade por não ter conseguido, a vontade de tentar mais uma vez ou de não tentar... Eu não passei da primeira vez que tentei, senti tudo isso que disse acima e também escolhi tentar novamente, e não apenas mais uma vez, mais todas as vezes que fossem necessárias para atingir o meu objetivo que era fazer Psicologia na UFRJ, essa era a minha escolha, mesmo ouvindo muito que o mercado não era bom ou que a profissão de psicólogo não dá dinheiro, e o que mais ouvia era "porque vc não tenta engenharia, sei lá, algo que dá dinheiro?"
    E é baseada nessa "Educação Vestibulesca" do texto do Rubem Alves que as pessoas vivem perguntando as outras o que elas querem ser quando crescer, o que vão escolher... e recordando Foucault e o seu desagrado por couve-flor, não interessa a ninguém saber se as pessoas escolhem comer carne ou frango no almoço o que é uma escolha, no entanto uma escolha sem impacto social, e por isso escolhas desse tipo não são problematizadas.

    Marcelle Melo

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  5. Como disse a Luiza o não saber agir não é um privilégio apenas dos jovens vestibulandos é uma questão presente na vida de todos. Mas sabemos que o vestibular é socialmente a primeira escolha dita mais importante de nossas vidas. Lembro-me da aula de uma das estagiárias do Pedro Paulo que, infelizmente, não me lembro o nome, em que ela comentou que seu irmão escolheu não fazer vestibular ao sair da escola, escolheu trabalhar, não sei como foi na família dela a repercusão por isso, sei como seria em minha família, seria um choque, é um choque, meu irmão do meio disistiu da faculdade, começou a fazer, mudou de curso e depois abandonou, isso é um incômodo até hoje para o meu pai, um grande incômodo. Por ser a "primeira importante escolha de nossas vidas" é que acredito vir junto o medo do fracasso, pois comigo foi assim... o medo de fracassar vinha principalmente porque sabemos que as pessoas perguntam sobre o que escolhemos de curso para fazer na faculdade (e muitas vezes de forma cruel não respeitam a escolha do outro, ou porque o mercado está saturado, ou porque não dá dinheiro, ou porque se é pobre e essa escolha não lhe cabe, como muito bem sempre levantava o Pedro Paulo), porque perguntam como estamos indo nas provas, porque perguntam se passamos ou não e se não passamos pode vir a vergonha de falar que não, o sentimento de incapacidade por não ter conseguido, a vontade de tentar mais uma vez ou de não tentar... Eu não passei da primeira vez que tentei, senti tudo isso que disse acima e também escolhi tentar novamente, e não apenas mais uma vez, mais todas as vezes que fossem necessárias para atingir o meu objetivo que era fazer Psicologia na UFRJ, essa era a minha escolha, mesmo ouvindo muito que o mercado não era bom ou que a profissão de psicólogo não dá dinheiro, e o que mais ouvia era "porque vc não tenta engenharia, sei lá, algo que dá dinheiro?"
    E é baseada nessa "Educação Vestibulesca" do texto do Rubem Alves que as pessoas vivem perguntando as outras o que elas querem ser quando crescer, o que vão escolher... e recordando Foucault e o seu desagrado por couve-flor, não interessa a ninguém saber se as pessoas escolhem comer carne ou frango no almoço o que é uma escolha, no entanto uma escolha sem impacto social, e por isso escolhas desse tipo não são problematizadas.

    Marcelle Melo

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  6. Este comentário foi removido pelo autor.

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  7. O que fico me perguntando é de que educação estamos falando quando dizemos "educação vestibulesca"? Ou melhor, para quem se destina tal educação? Se considerarmos que o vestibular faz parte do destino comum de alguns poucos jovens, e por outro lado, configura-se como sonho ideal de uma maioria significativa, de que nos serve então questionar essa "Educação Vestiblesca"? Questionar a educação burguesa talvez...

    Camila Machado

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