quarta-feira, 19 de maio de 2010

Escolhas

Ana Meza
Na aula de ontem discutindo o processo de escolhas falamos, dentre outras coisas, sobre a dinâmica do sorvete e dos riscos implicados na escolha. Isto me fez lembrar de um texto que geralmente discutimos junto com a dinâmica citada:
Fazendo uma Escolha
Qualquer escolha, em última instância, resulta de um ato de coragem. Um ato de coragem leva em conta todos os indicadores possíveis. Pode acontecer o caso em que os indicadores apontam para determinado caminho e a pessoa escolhe o outro (seria uma escolha por desafio que também leva em conta os mesmos indicadores). A idéia de colocar todas as variáveis na balança para ver qual lado pesa mais não funciona (em nenhum caso de escolha), porque as variáveis tendem para o equilíbrio, isto é, se existe alguma desvantagem numa opção, a outra também apresentará desvantagens, e assim por diante.Não existe indicador capaz de apontar de antemão qual a melhor escolha, porque, se existisse, não ocorreria escolha. Uma escolha, na qual uma possibilidade é ótima e outra é péssima, não é uma escolha. Não existe escolha quando se compara uma Ferrari com um fusquinha.Escolher significa exatamente ter que se posicionar (tomar partido) entre as possibilidades colocadas que são igualmente atrativas e contêm também desvantagens. São possibilidades que brigam entre si. Por isso se diz que qualquer escolha implica conflito, ou melhor, escolher significa resolver conflito.Qualquer escolha implica risco. Não existe escolha sem risco. O autor chega a afirmar que escolha sem risco não é escolha. A insegurança faz parte de qualquer decisão.Qualquer escolha implica perda. É um mito dizer que só existe um caminho para cada pessoa. Ao contrário, existem vários, e por isso a perda faz parte da escolha. Escolher uma profissão implica a perda das outras, pelo menos nesse momento.Agora, pode-se ter um ato de coragem para escolher um sorvete. A pessoa se toma de coragem e, por exemplo, escolhe o X. Agora ela pode abrir a embalagem e verificar se a escolha foi "legal". Duas ou três conclusões são possíveis. Gostou, não gostou ou mais ou menos. Se a pessoa gostou, mas for muito "encucada", pode passar o resto da vida perguntando-se como seria se tivesse escolhido Y (jamais conseguirá esta resposta, mesmo que mais tarde decida fazer uma experiência com Y). Se não gostou, isso não quer dizer que teria necessariamente gostado mais de Y. E deve novamente realizar outra opção: muda ou permanece?Muitas pessoas acabam permanecendo para não ter que passar por outra experiência de escolha.Enfim, escolher algo, como uma profissão, pressupõe que a pessoa conheça a realidade que contextualiza a decisão, que se autoconheça e esteja informada a respeito das possibilidades. Sobre tudo isto terá o "ato de coragem", que é uma intervenção de ordem emocional, que envolve o bom-senso, a intuição e a vontade.


Fonte: Orientação Profissional: Uma Abordagem Sócio-Histórica (Sílvio Bock)

3 comentários:

  1. Ana Carolina Gomes Perez25 de maio de 2010 às 14:54

    Esse texto me faz pensar na angústia da escolha.
    Dá sentido real à toda complexidade, ansiedade, fantasias e medos que permeiam o sujeito que tem de se haver com o fenômeno de posicionar-se frente à multiplicidade de possibilidades que se colocam (ou não) à sua frente...

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  2. Boa noite!

    Não comento muito em blogs, mas essa discussão me chamou muita atenção porque eu vivi todo um momento de escolhas e decepções.

    Não vou fazer um levantamento de conceitos, venho trazer um depoimento pessoal.

    Eu estudei numa escola técnica e lá me formei em eletrônica, eu era uma boa aluna e tinha um total incentivo por parte da minha família pois é uma área deficiente do mercado onde todos têm "boas" oportunidades de trabalho, aí me deparo com o meu primeiro questionamento: o que são boas oportunidades de emprego? Bons salários? Baseadas em que as pessoas me incentivavam a seguir nessa carreira, uma vez que eu já tinha deixado claro o meu descontentamento com o que eu "tinha" que estudar?

    Após, mais uma vez atraída pelas "boas" oportunidades de emprego, fui direcionada (pelos meus pais) a fazer faculdade de Direito e fiz meu primeiro vestibular. Fui aprovada para uma boa universidade, no entanto, veio uma segunda decepção, antes mesmo de me matricular, eu percebi que eu não gostava daquilo, e larguei antes mesmo de começar.

    Até então todas as minhas escolhas estavam sendo direcionadas por outras pessoas e pelas expectativas dessas pessoas a quem eu tinha tanto medo de decepcionar. Aqui, me identifico com a questão do engajamento e da responsabilidade, pois eu depositava as minhas expectativas no que eu achava que o outro estava pensando de mim, não nos meus próprios sentimentos.

    Quando eu abandonei a segunda carreira, todos pararam de me “pressionar” e mandaram que eu escolhesse o que eu gostava. Não foi fácil! Como decidir do que eu gostava, uma vez que já estava acostumada a seguir o que os outros “gostavam“? Como são formados os processos de escolha dos filhos que seguem as carreiras dos pais a fim de assumir os negócios futuros?

    Nesse momento de confusão, eu quis fazer turismo, comunicação e letras. Por fim, segui na carreira de Letras e fui para a faculdade. Lá, eu tive uma terceira grande decepção. Além de descobrir que poucas coisas me atraíam no curso, encontrei problemas com o sistema que rege a faculdade e descobri que a Psicologia me atraía muito mais. Como largar a terceira carreira e começar do zero de novo? Como escolher, decidir? Quantas inquietações aparecem... Por exemplo a idade de formação (se é que existe uma), conseguir ou não um bom estágio e emprego? Escolher o quê, afinal? Eu quero me sentir realizada no meu trabalho, ou quero me formar logo e procurar um emprego, ou quero que as pessoas se orgulhem de mim, ou quero ganhar dinheiro...?

    Mais uma vez mudei, mas dessa vez, mudei parcialmente, fui para a Psicologia, mas não larguei letras, até hoje não sei quais critérios me mantêm lá, mas consigo compreender que foi uma escolha, certa ou errada, isso eu não faço a menor ideia...

    O meu interesse em descrever toda essa trajetória aqui, é refletir sobre como nós vivemos esse processo de escolhas também e trazer para todos aqui um exemplo real, para sairmos um pouco das especulações. Hoje eu consigo enxergar tudo isso, mas quando se tem 16 anos é muito difícil, assim, é o caso de pensarmos nessa idade que exige tantas decisões...

    Encerro com um trecho de um texto da Martha Medeiros com o qual eu me identifiquei assim que percebi que a vida é guiada pelas nossas escolhas, independente de como elas são feitas.

    "O jeito é curtir nossas escolhas e abandoná-las quando for preciso, mexer e remexer na nossa trajetória, alegrar-se e sofrer, acreditar e descrer, que lá adiante tudo se justificará, tudo dará certo. Algumas vidas até podem ser tristes, outras são desperdiçadas, mas, num sentido mais absoluto, não existe vida errada."

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  3. Lindo trecho do texto e muito legal seu comentário.
    Achei coincidência, pois também sou formada em eletrônica. E hoje faço Psicologia.

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