quarta-feira, 26 de maio de 2010

Diálogos


Em virtude das dúvidas surgidas no último encontro, venho trazer um capítulo de um livro que me ajudou a tirar as mesmas dúvidas que surgiram, é o capítulo "Políticas", do livro "Diálogos", do Deleuze e da Parnet.

As principais dúvidas foram referentes às possibilidades de construção de ‘linhas de fuga’ onde ‘linhas duras’ estão instaladas e difíceis de serem atravessadas, para usar os termos do texto. Às vezes pode parecer que a Análise Institucional propõe uma eterna desconstrução, e que vislumbra eternas possibilidades, e que parece se distanciar da difícil realidade cotidiana de segmentos endurecidos e naturalizados. Acho que este texto ajuda a entender como esta perspectiva não está nesse extremo “vamos sair desconstruindo tudo”, mas, de outro modo, possui uma outra proposta, longe dos extremos. É uma leitura que me proporcionou esclarecimento de muitas questões, e que sinto grande vontade de compartilhar. Não acho um texto muito difícil de ler, e embora use palavras rebuscadas, dá exemplos, e a leitura parece fluir.

Vou transcrever aqui uma parte do texto, somente a título de ilustração, mas ainda acho muito importante que se leia todo o capítulo, que vai da página 101, até a 120, nesta versão em pdf, disponível em: http://www.4shared.com/get/40615372/aa5effa2/Gilles_Deleuze_e_Claire_Parnet.html .

“De certa maneira, pode-se dizer que em uma sociedade o que é primeiro são as linhas de fuga, os movimentos de fuga. Pois estes, longe de serem uma fuga longe do social, longe de serem utópicos ou ideológicos, são constitutivos do campo social, cujo declive e fronteiras, todo o devir, eles traçam. Reconhece-se sumariamente um marxista quando ele diz que a sociedade se contradiz, se define por suas condições de classe. Nós dizemos, antes, que, em uma sociedade, tudo foge, e que uma sociedade se define por suas linhas de fuga que afetam massas de toda natureza (...). As grandes aventuras geográficas da história são linhas de fuga, ou seja, longas caminhadas, a pé, a cavalo, ou de barco: a dos hebreus no deserto, a de Genserico, o Vândalo, atravessando o Mediterrâneo, a dos nômades através da estepe, a longa caminhada dos chineses – é sempre sobre uma linha de fuga que se cria, não, é claro, porque se imagina ou se sonha, mas, ao contrário, porque se traça algo real, e compõem-se um plano de consistência. (...) Não se deve entender essa primazia da linha de fuga cronologicamente, mas tampouco no sentido de uma eterna generalidade.”

“Ainda mais que a segunda linha [de fuga] tem, ela mesma, seus perigos. Certamente não basta atingir ou traçar uma linha molecular, ser levado para uma linha flexível. (...) É o fenômeno buraco negro: uma linha flexível se precipita em um buraco negro de onde não poderá sair. (...) Fizeram com que disséssemos que, para nós, o esquizofrênico é o verdadeiro revolucionário. Nós acreditamos, antes, que a esquizofrenia, é a queda de um processo molecular em um buraco negro. (...) Não apenas as linhas de fuga, de maior declive, correm o risco de serem barradas, segmentarizadas, precipitadas em buracos negros, mas elas têm um risco particular a mais: virar linhas de abolição, de destruição, dos outros e de si mesma. (...) quais são suas linhas, indivíduo ou grupo, e qual os perigos sobre cada uma delas?”

“Não há nenhuma receita geral. Acabamos com todos esses conceitos globalizantes.”

“É sobre diferentes linhas de agenciamentos complexos que os poderes conduzem suas experimentações, mas onde surgem também experimentadores de uma outra espécie, frustrando as previsões, traçando linhas de fuga ativas, procurando a conjugação dessas linhas, precipitando sua velocidade ou sua lentidão, criando pedaço por pedaço o plano de consistência, com uma máquina de guerra que mediria, a cada passo, os perigos que ela encontra.”

Apenas uma parte do muito que o texto tem a dizer.

Quero colocar, ainda, que a Análise Institucional, é uma das formas de analisar as instituições e os seres que a compõem. Como foi dito também no último encontro. Cada pessoa possui uma abordagem que lhe é mais potente. O que importa, realmente, é utilizar os instrumentos, quaisquer sejam eles, que permitam a emergência das potencialidades.

Yasmim de Menezes França

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