terça-feira, 22 de março de 2011

Metamorfose

Hoje acordei devorador, um Aspirador de Pó.
Suguei tudo o que pude, não poderia ficar só.

Cresci as pernas, o tronco, os braços, me espreguicei e em uma Árvore me transformei.

Fui escovar os dentes, lavar o rosto, olhei no espelho e espantei! Em um lindo formato rosado, voluptuoso e sensual eu me tornei. Eu era uma Boca. Mas não qualquer uma, eu era a Minha boca. Não me incomodei. Gosto dela e neste dia, aliás, veio a calhar, já que estava sentindo que uma espinha em meu rosto ia nascer para raiar.

Ser uma Boca dá fome. Fui direto pra cozinha e liguei meu rádio sem nome. A pilha estava fraca, a música distante, mas deu pra ouvir que era eu ali cantando, a própria Janis Joplin estonteante.

Foi uma delícia ouvir minha voz, transgredir a mente, usar boca de sino e ser o final da Década de 60 novamente. Me agrada ser esta época. Poder rir, chorar, fumar um baseado e ninguém para me controlar.

Seriedade pra quê? Deixa pra lá!

Eu gosto mesmo é de me divertir, meio Mania de Infantilidade, meio mania de vontade.

A música acabou, o tempo passou e a água esquentou. Olhei pra panela e alguém me cozinhou. Eu era um Strogonoff. Desses no ponto, sem mais nem menos para estragar, sem mais nem menos para me azedar.

Quando acabei, em um Cachorro me transformei. Branquinho, fofinho, educado e dedicado. Eu sabia latir, sentir e até rir. Ria demais! Parecia o Mutley e minha risada não acabava jamais.

Para me segurar, em um Professor do IP eu encarnei. Pensei no crime, no poder, na desconstrução e em algum lugar cheguei. Fui parar na Europa. Quis ser caliente e a Espanha eu mapeei. Quis ser romântica e pela Itália eu tropecei. E para voltar? Em um Tênis me transfigurei!

Andei por terra, céu e mar e ninguém para me encontrar - “Meu nome é Zodíaco e eu vim aqui para matar!”

Não quis ser malvado. Mas quem disse que a morte tem a ver com um culpado?

Eu quero ser forte, estruturado, ser a religião Budista me bastaria um bocado.

Não quero chamar atenção, ser um Brinco diamante. Quero ser amado e regado, como uma Grama abundante.

Agora eu estou cansado e em uma poltrona eu vou sentar. Passo os dias lendo, escrevendo e não me canso de perguntar. Mando um “Beijo do Gordo” e um “Boa noite pra você”. Este sou eu, o Jô Soares da tevê.

Mas minha hora está chegando, tenho que ir, me deitar. Começo a sonhar e em Freud me transformar.

Penso nos dias, nas horas, no que eu fui e no que serei.
Penso no amado e no odiado, mas quer mesmo saber?
Eu não choro pelo leite derramado!
(Juliana Lara)

9 comentários:

  1. Este comentário foi removido por um administrador do blog.

    ResponderExcluir
  2. Prezada Juliana,

    Lendo esse seu post e o anterior, da Ana Marcela, pensei em algumas questões para perguntar a vocês e ao resto da turma, numa tentativa de elaborarmos isso tudo que está sendo experimentado:

    O que vocês sentiram partir da dinâmica proposta?
    O que esse texto fala a respeito do encontro do grupo para pensarmos a conceituação de sujeito?

    Vamos dando continuidade a isso até terça, sim?
    Aguardo comentários...

    Livia.

    ResponderExcluir
  3. A dinâmica proposta foi interessante. A partir dela pude confirmar o quão difícil é falar de nós mesmos. A cada pergunta que era feita, eu refletia sobre o que responderia se fosse dirigida a mim, e tentava imaginar outras tantas perguntas que poderiam ainda ser feitas. Parei para pensar na importância do autoconhecimento e no quanto é difícil o sujeito se definir através de uma palavra ou frase, dada a complexidade que o constitui.

    "Você faz suas escolhas, e suas escolhas fazem você." (Steve Beckman)

    Camila Roque

    ResponderExcluir
  4. Juliana, adorei o texto! Ficou excelente e super criativo!

    A cada semestre, os professores pedem para que nos apresentemos de forma que cada um diga seu nome, período e a área da psicologia que possui mais interesse. E quem ainda não definiu?
    Acredito que esta dinâmica fez com que todos ficassem focados e concentrados no que o outro tem a dizer, pensando em como se enquadraria em cada pergunta que foi feita. Foi um momento de reflexão em que todos paramos, pensamos e vemos que não é tão fácil assim falar de nós mesmos.

    Por isso, gostei muito da atividade proposta pela disciplina, por ter sido uma maneira de sair da rotina, de refletir, de inovar!

    (Lilian Calil)

    ResponderExcluir
  5. Ju! Eu também adorei o texto.. é como se cada um fosse se transformando no outro, e acho que um pouco desta metamorfose vai acontecer durante os nossos encontros, e atravessamentos no grupo.

    Assim como a Camila, eu também pensei que falar de nós mesmo é muito difícil. No entanto, pensei no ato de falar; enquanto tudo era pensamento, estava bem. Na hora de falar fiquei nervosa, senti o rosto queimar, sem saber direito o porquê. Talvez seja a dúvida de como vou me apresentar? O que vou falar de mim para que o grupo me reconheça?

    Lívia, eu adorei a dinâmica, achei muito divertida e engraçada. Porém, não consegui ver a "formação do grupo" que o Pedro Paulo tinha falado. Apenas me surgiram questionamentos sobre mim mesma, como por exemplo, será que eu realmente me conheço?

    (Kim)

    ResponderExcluir
  6. Que lindo Ju! Amei o texto. Nao conhecia essa sua veia poetica.
    Ele me passou uma ideia de unidade, algo que eu estava sentindo necessidade. Apos tantos fragmentos de cada um me senti impelida a encontrar nossa "liga", juntar os caquinhos e construir um vaso s'o.
    Acho que voce conseguiu fazer isso bastante bem, obrigada =D

    Gostei muito da dinamica,muito divertida e desafiante, nos tirando do lugar de conforto.
    O que mais me chamou atencao foi como muitas das perguntas pareciam ser feitas sob medida para aquelx a que se dirigiam, mesmo que as pessoas envolvidas nao se conhecessem.
    Senti isso a partir das respostas (inusitadas) que surgiam, que revelavam coisas muito profundas e particulares de cada um, como se aquela pergunta fosse a chave especifica, outra n serviria tao bem.
    (desculpem a grafia, teclado internacional)

    Aymara

    ResponderExcluir
  7. Nossa, gostei demais dos textos! Tanto o da Juliana,quanto o do Ana. Os dois se complementaram, e juntos nos fizeram refletir a cerca de cada resposta dita naquela dinâmica.


    Gostei bastante da dinâmica. Eu já tinha participado dessa dinâmica em um processo seletivo,e saí do processo falando dessa dinâmica para todos os meus amigos. Mas durante a dinâmica na aula,o sentimento que estava dentro de mim, era de ansiedade para saber o que poderiam me perguntar e o que eu iria responder sobre mim sem utilizar aqueles critérios subjetivação padrões. E nesse momento eu percebi que para mim era como se eu tivesse fazendo aquela atividade pela primeira vez, pois tudo era diferente, o ambiente, as pessoas, o objetivo daquela atividade, o meu objetivo em estar ali também era diferente de quando eu participava de um processo seletivo. E como para mim escolher algo para falar sobre mim era muito mais desafiador do que eu pensava, pois eu não teria uma resposta pronta elaborada com antecedência, essa resposta teria que sair na hora da forma mais sincera e natural.

    Compartilhar esse momento foi maravilhoso, cada resposta podia complementar a outra, e as escolhas para falar de si próprio fizeram parte de um grande grupo em formação que esta em um processo de se sentir constituído pelo outro,através do conhecimento e da sensação de se identificar com o outro.

    ResponderExcluir
  8. Alguém aqui em cima falou que não viu a formação do grupo, outra pessoa disse que o texto a ajudou a encontrar. Realmente, relembrar a aula como um todo me ajudou nesse sentido e foi interessante. Primeiro porque muitas coisas parecem especiais só por terem passado, se transformado em história (gosto de reviver lembranças, a cada vez algo novo pode surgir). Segundo porque gostei mesmo do como as pessoas estavam dispostas a falar de si, uns mais, outros menos, mais ninguém enrolou para não dizer nada.

    Logo eu, o Freud, acabei sentindo que não aproveitei minha pergunta para falar de mim, me apresentar. Mas acabei achando bom porque sei que falo demais de mim mesmo. Por muitas vezes isso me envergonha, mas por outras eu escolho ser assim. Porque as vezes ao fazer uma revelação, recebo outras em contrapartida, e é aí que a conversa fica boa para mim.

    Enfim, destaque especial para a grama. Achei bonita e corajosa a analogia.

    E obrigada a todos, por mostrarem um pouquinho de si, me levando a boas surpresas. Até.
    Carla Pessanha

    ResponderExcluir
  9. Ao fazer a dinâmica me vi sendo transportada para as respostas de cada um. me questionava e me implicava na resposta do outro.

    Os textos me deram essa idéia clara de atravessamentos, como todos formamos a todos em constante construção. Isso e os comentários me fizeram lembrar um trecho de uma música dos Beatles...

    I`am the Walrus
    (John Lennon, Paul McCartney)

    "I am he
    As you are he
    As you are me
    And we are all together"

    (Julia Torres)

    ResponderExcluir