Boas férias, pessoal!!
terça-feira, 5 de julho de 2011
O que vou levar dos nossos encontros
Boas férias, pessoal!!
terça-feira, 21 de junho de 2011
O telegrama...
Palavras para pintar
Paredes para pensar
Pessoas para polemizar
Pol'itica, Poesia, Psicologia!
Paula Rubea.
Poema Drummond
Telegrama e outras coizitas mais....
Caros companheiros,
Começando: cada cara calejada, cansada, caricaturada; conquanto cai. Cambaleia, caminha...Caiu-se!
Caiu-se cada comichão, cada confusão.
Canta!
Canta cura, canta carinho, canta contos camaradas. Cantam-se cara-a-cara; caras-a-caras...
Continuo, continuam, continuarão crer,com CORAÇÃO, caber.
Uma vez ouvi esta frase. E após ter essa fantástica experiência com vocês creio que ela se encaixe perfeitamente:
" Diz-se que, quando o ser humano se aproxima d'O Saber, ele crê que os rios são rios, as montanhas são montanhas e as nuvens são nuvens. Após profundo estudo e observação, ele compreende que os rios não são rios, as montanhas não são montanhas e as nuvens não são nuvens. Mas, quando realmente atinge a compreensão, finalmente vê que os rios não são mais do que rios nem menos do que rios, e por isso podem ser chamados de rios, o que acontece também com as montanhas e as nuvens." PADMA SANTEM
Também gostaria de compartilhar esse texto que, para mim confiavelmente, esboça o que foi (e é) o tão indeciso momento de uma escolha/aposta/risco da profissão ou de qualquer outra coisa significativa, em termos de sentido neste longo, insistente e pedante processo de deitar e levantar, mais conhecido como Viver:
Porém, passado o momento angustiante, Ela, pouco a pouco abre seus pequenos olhos. Olhos indefesos, desprovidos, ingênuos.
Começa a sentir o ar...Nota-o exacerbado. Faz uso de sua visão, no entanto, pouco ela poderá lhe oferecer. Tamanha claridade cega-a.
Ela é sensível, sente que seu lugar não é aqui.
Está inacabada tal qual canto sem música; fruta sem semente, flor sem aroma.
Passa o tempo em seu delírio, solidão.
Ela se tranca.
Cai em descanso profundo e põe-se a meditar.
Vem dia, vai dia...vem noite, vai noite...
Até que, então, a nostalgia que reservava em seu coração torna-se calmaria. Ela não deseja sucumbir no mar da incompreensão.
Não! Quer experimentar.
Sentir cada gota de orvalho a cair em sua face, vislumbrar a dança dos vaga-lumes no cair da noite, ouvir o falar dos pássaros.
Ora, vejam! Ela despertou!
Encontrou, enfim, a parte que lhe faltava.
Doravante poderá crer em todos os seres, achou a essência do seu viver, e por isso, Ela passa com formosura. Enfeitiça a todos que para Ela desviarem o olhar.
Agora permanecerá eternamente com esta forma. Gozará de tudo que esta vida possa lhe dar, vivendo intensamente todos os seus suspiros e alcançará a mais plena felicidade. Portanto, abandone a obscuridade, tente entendê-la, não tenha medo. Acredite em sua essência, não desconfie da vida.
Algum dia a vida revelar-te-á a parte que lhe falta, pequena lagarta.
Há de se transformar em uma admirável borboleta, e alcançará a mais plena felicidade!
CARLA DO EIRADO
segunda-feira, 20 de junho de 2011
Lembrei de vocês...
“De que valeria a obstinação do saber se ele assegurasse apenas a aquisição dos conhecimentos e não, de certa maneira, e tanto quanto possível, o descaminho daquele que conhece? Existem momentos na vida onde a questão de saber se se pode pensar diferentemente do que se pensa, e perceber diferentemente do que se vê, é indispensável para continuar a olhar ou a refletir. Talvez me digam que esses jogos consigo mesmo têm que permanecer nos bastidores; e que no máximo eles fazem parte desses trabalhos de preparação que desaparecem por si sós a partir do momento em que produzem seus efeitos. Mas o que é filosofar hoje em dia — quero dizer, a atividade filosófica — se não consistir em tentar saber de que maneira e até onde seria possível pensar diferentemente em vez de legitimar o que já se sabe” (Foucault, 1984 [1998]:13).
Fonte: Foucault, Michel. História da Sexualidade Vol. 2 (O uso dos prazeres). Trad. Maria Thereza da Costa Albuquerque. 8ª ed. Rio de Janeiro: Edições Graal, 1998 [1984].
Natália Ferreira
Meu telegrama para turma
Sabiá sábio sabia... sussurrar!!
Sim, senhores!
Sabemos ser "sinistro" saber sobre sábias sugestões...
Saibamos sugerir sobre surpresas sem sentido, sendo superações sensacionais!
Sorrindo, sóbrios...
Seguindo seus sonhos sem saber se só sonha, sem saber se sai...
Shanti Rodrigues
Para sonhar um mundo ao revés
Aymara
domingo, 19 de junho de 2011
Sobre nossas Conversas
Mais uma vez caminhos...
Um dia, resolvi abrir os olhos e ver a beleza da Psicologia. Suas múltiplas possibilidades de atuação e de criação. Me apaixonei. E como toda paixão que se preze tem seus momentos de amor e de fúria.
Nos meus momentos de fúria me vejo sem saber o que fazer com ela. Pra onde eu vou com isso? Que caminho eu sigo na Psicologia: Clínica, Hospitalar, Empresarial? Sinto necessidade de definição. O que estará escrito em meu cartão? Julia, psicóloga...... Preciso de um lugar para me amparar, de uma base de onde partir, de uma rumo para seguir.
No meio dessa loucura surge Regina Benevides. Que linhas são essas que me atravessam e que me fazem ter que ser apenas uma? É preciso colocar em análise essa angústia e promover bifurcações, novos caminhos, novos lugares. Desterritorializar o lugar de psicólogo. Por que só clínico ou só organizacional? Por que não inventar novas formas de ser e de fazer psicologia? Por que não ser múltiplo?
Nesses momentos lembro das pessoas que admiro. Nenhuma delas se deteve em seus papéis pré-determinados, muitas não se encontraram na primeira coisa que fizeram e hoje são pioneiras no que fazem. Entre elas Sandra Korman, psicóloga especialista em Empreendedorismo e Carolina Sanches, Jornalista e Pedagoga, com seu projeto Crianças de lá e de Cá, que promove a inclusão social de crianças por meio da literatura infanto-juvenil.
É, acho que isso... O caminho talvez seja caminhar e ir seguindo o que teu coração te diz e onde teus pés te levam.
Termino este post citando mais uma vez as sábias palavras de Paulinho Moska que sempre me consolam:
"Então me diz qual é a graça
De já sabero fim da estrada
sábado, 18 de junho de 2011
Chegamos ao Fim?
sexta-feira, 17 de junho de 2011
caminho alternativo
Desde o primeiro dia de aula quis dividir com vcs uns trechos do livro On the road do Jack Kerouac. Porque, muitas vezes, abordamos nas nossas discussões a questão de o caminho que escolhemos seguir ser uma escolha predeterminada pelos dispositivos do capitalismo, o que inclui o desejo da família, status, nossa própria vontade de seguir o rebanho ou não. E, por diversas vezes, quando falávamos de uma escolha alternativa, eu tinha a impressão que essa idéia já tinha sido englobada pela nossa sociedade de consumo.
Para mim, ir de fato contra alguns valores compartilhados pela atual sociedade, ainda que questionáveis, nem sempre é possível ou desejável. Ora por não prescindir da aceitação dos outros, ora por encontrar esses valores no meu "âmago" (profissão, casa, marido e filhos), ora por não ter coragem, por não ter esperaças. Voltando ao livro, como disse em sala, eu não consegui ler mais que a metade, porque não me identificava com aquela falta de ideal, de rumo, de compromisso dos personagens. Mas alguns amigos alouqueceram com o livro, que por sinal é um marco da geração Beat (último grito de oposição do status quo segundo Heloisa Buarque de Holanda).
" Eu estava curtindo uma temporada exuberante e o mundo inteiro abria-se na minha frente porque eu não tinha sonhos."
" Veja só, cara, a gente envelhece e os problemas se acumulam. Um dia você e eu acabaremos percorrendo becos, ao pôr-do-sol, revirando latas de lixo.
Você quer dizer que acabaremos como velhos vagabundos?
Por que não, bicho? Claro que sim, se quisermos. Não há problema algum em acabar dessa maneira. Basta você passar toda uma vida de não-interferência nos desejos dos outros, incluindo políticos e ricos, sem se envolver jamais com esses anseios angustiados, aprimorando sua ação pelo não fazer, que então ninguém te incomoda e você segue em frente, livre, leve e solto_ para fazer o que quiser."
Eu acho essa visão muito forte. Assim como cada vez que passo por um mendigo tenho vontade de salvá-lo. Se pudesse lhe daria aquilo mesmo que sonho para mim, profissão, casa, família e banho (esse último eu já tenho). Mas nem sempre ele está nessa condição por falta de escolha. Talvez seja possível a não-interferência dos desejos dos outros, mas talvez o preço seja o isolamento. Com isso, quero dizer que acredito ser de enorme valor rever tantas coisas que naturalizamos, mas tem um limite: vivemos em sociedade e dependemos dos outros. Até onde? Enfim, será que não vão ler meu único post porque ele é muito grande?
Carla Pessanha
quinta-feira, 16 de junho de 2011
aquela poesia com a 1ª letra do nome...
Pra vocês, grupo que findará na próxima semana...
Achado!
Acredito Assim.
Aceitar, amargar, ansiar, afetar, aimentar!
Arranjar anônima aspiração.
Avaliar atos, atingir atitudes.
Angustiada, alimento alucinações auditíveis - amarradas aos aliados.
Aglutinar amáveis alegres adiciona antiga atitude a ações antes alienadas...
Agora avisto alguma astúcia antes algemada a antigas ações acatadas!
Amém!
Ana Marcela
Psicologia, sua linda!
Depois de me enrolar com embriologia, estatística, práticas que eu mal lembro o nome... A psicologia revelou para mim quem ela realmente é! Diferente do que eu achava, a psicologia veio para me confundir ainda mais, para me mostrar que as pessoas são muuuito mais complexas "do que o esperado" e que nenhuma faculdade vai te ensinar a ser ótima com elas. A safada da psicologia me mostrou também que não existem métodos perfeitos e aplicáveis a todos, diferentemente do que muitos amigos e parentes me disseram quando entrei pro curso (quem não ouviu "aee! vai poder cuidar da família toda agora!" ?!).
A verdade é que depois da psicologia eu nunca mais vou ser como eu era antes do curso (ignorante no meu mundinho lilás! rs). Eu nunca mais vou conseguir me alienar, fingir que não sou afetada todos os dias por várias pessoas. A psicologia me fez ter um olhar diferente das pessoas ao meu redor, me fez ser mais cautelosa com as coisas que falo e ter mais cuidado com os meus. Pode ter sido coisas que vieram com a idade, não com a faculdade, mas tenho dúvidas se viriam se o curso fosse de paisagismo ou economia doméstica por exemplo (NADA CONTRA!).
E é por isso que eu só tenho que agradecer a essa danada da psicologia, que me deixa sempre mais confusa, me fazendo questionar coisas que antes eram tão naturalizadas. Agradecer por esse espírito inquieto, desafiador e muitas vezes opositor!! E não me venham com ritalina!!! Eu quero mesmo é contaminar o máximo de pessoas que eu puder para que a idéia de Orientação do Vocacional perca sempre espaço para a Análise do Vocacional, joguinho de palavras tão sutil mas que faz tanta diferença!!
Shanti Rodrigues - no auge de suas desconstruções.
sábado, 11 de junho de 2011
Um pouco de Brecht e política
Dois poemas de Bertold Brecht, pra refletir!
I
Eu vivo em tempos sombrios.
Uma linguagem sem malícia é sinal de
estupidez,
uma testa sem rugas é sinal de indiferença.
Aquele que ainda ri é porque ainda não
recebeu a terrível notícia.
Que tempos são esses, quando
falar sobre flores é quase um crime.
Pois significa silenciar sobre tanta injustiça?
Aquele que cruza tranqüilamente a rua
já está então inacessível aos amigos
que se encontram necessitados?
É verdade: eu ainda ganho o bastante para viver.
Mas acreditem: é por acaso. Nado do que eu faço
Dá-me o direito de comer quando eu tenho fome.
Por acaso estou sendo poupado.
(Se a minha sorte me deixa estou perdido!)
Dizem-me: come e bebe!
Fica feliz por teres o que tens!
Mas como é que posso comer e beber,
se a comida que eu como, eu tiro de quem tem fome?
se o copo de água que eu bebo, faz falta a
quem tem sede?
Mas apesar disso, eu continuo comendo e bebendo.
Eu queria ser um sábio.
Nos livros antigos está escrito o que é a sabedoria:
Manter-se afastado dos problemas do mundo
e sem medo passar o tempo que se tem para
viver na terra;
Seguir seu caminho sem violência,
pagar o mal com o bem,
não satisfazer os desejos, mas esquecê-los.
Sabedoria é isso!
Mas eu não consigo agir assim.
É verdade, eu vivo em tempos sombrios!
O Analfabeto Político
"O pior analfabeto é o analfabeto político.
Ele não ouve, não fala, nem participa dos acontecimentos políticos.
Ele não sabe que o custo de vida, o preço do feijão,
do peixe, da farinha, do aluguel, do sapato e do remédio
dependem das decisões políticas.
O analfabeto político é tão burro que se orgulha e estufa o peito dizendo que odeia
a política. Não sabe o imbecil que da sua ignorância política nasce a prostituta,
o menor abandonado, e o pior de todos os bandidos que é o político vigarista,
pilantra, o corrupto e lacaio dos exploradores do povo."
(Ana Marcela Terra)
quinta-feira, 9 de junho de 2011
Educação, Profissão e Confusão
quarta-feira, 8 de junho de 2011
Ser ou não ser, eis a profissão...
A discussão de ontem e o texto do Papalagui foram essenciais para mim como forma de sintetizar vários aspectos do trabalho que viemos desenvolvendo no grupo. O Tuiávii estranha o papalagui, olha, com olhos de homem que é, uma outra forma de ser humano, a forma do papalagui, do ocidental, a nossa forma de ser no mundo.
Ao nos observar, Tuávii percebe que a profissão é um aspecto muito importante de nossas vidas, central e paradoxal. Nós podemos dizer aqui que é uma forte forma de subjetivação a que estamos submetidos. Ao nos olhar, porém, ele o faz de um lugar de fora e pode dizer o que significa a profissão em nossas vidas e na nossa sociedade sem possuir as raízes históricas que nos atravessam dando-nos uma falsa impressão de naturalidade para esse fenômeno.
Ele fala do imperativo de se ter uma profissão, afirmando que somente ela seria capaz de lhe conferir o direito de ter uma atividade no mundo. Em que medida nós estamos presos a isso? Será que nós também não acreditamos e agimos como se somente nos fosse dado o direito de agir no mundo de acordo com nossas profissões? Será que não contestamos aquele que se atreve a plantar sem ser jardineiro ou outro que ousa cantar sem ser músico profissional, alegando que tudo isso seria perda de tempo, que eles deveriam mesmo era fazer todos os dias e praticar exaustivamente suas profissões, e somente elas? Será que nós não estamos nos reduzindo e reduzindo o outro a uma profissão? E, se isso for realmente verdade, já pararam pra pensar quanto vida estamos aniquilando a cada dia? Preciso pensar mais nisso...
Paula Rubea.
segunda-feira, 6 de junho de 2011
Quanto a proposta de termos uma aula para pensarmos sobre a escolha que teremos de fazer para ingressarmos no mercado de trablaho como psicólogos
Em primeiro lulgar peço desculpas sobre a falta de conhecimento de como manusear o blog que me impediram de responder comentando as colocações que fizeram sobre minha proposta. Então vou tentar responder com uma nova postagem.
Quando me referi a usar as técnicas de análise do vocacional, apenas pensei que poderíamos tirar do centro de nosso grupo de análise, a própria temática análise do vocacional ou aquela proposta pelo professor para aquele dia de aula e nos colocarmos no centro.
Nos colocarmos no centro do grupo para analisar a demanda de escolha que nos é necessário ao concluirmos a formação em psicologia. Ou melhor, pensar sobre a escolha que teremos de fazer acerca do ramo de atuação, quanto psicólogo, que exerceremos no mercado de trabalho assim que sairmo da graduação.
É somente isto.
Luciana Pucci Santos
quarta-feira, 1 de junho de 2011
Siddhartha
"E com isso te comunico uma doutrina que te fará rir, ó Govinda: tenho para mim que o amor é o que há de mais importante no mundo. Analisar o mundo, explicá-lo, menosprezá-lo, talvez caiba aos grandes pensadores. Mas a mim interessa exclusivamente que eu seja capaz de amar o mundo (...) O gesto da tua mão me importa mais do que as suas opiniões. Não é nos seus discursos e nas suas idéias que se me depara a sua grandeza, senão unicamente nos seus atos e na sua vida".
muito boa noite!
Debora Navarro
conservação a qualquer custo??
Nesse ponto eu perguntei a ela: mas me diz, que emprego que vai me fazer tirar a roupa para provar que eu não tenho tatuagem ou coisa assim?
E ela disse: As forças armadas! Olha só, um CONCURSO PÚBLICO que você não pode mais fazer por uma burrice dessas!!!
...eu respondi: Mãe, já parou para pensar que talvez eu não queira trabalhar pras forças armadas??!!
Engraçado o esforço niilista pela conservação que vem como primeiro "impulso" frente a uma situação de risco. Esse elemento "concurso público" parece ter sido fisgado meio do nada, da gama de planos B que ficam boiando na mente dos nossos pais (e muitas vezes nas nossas) a fim de garantir a sobrevivência do filho (ou nossa) a qualquer custo.
Tudo bem, talvez fosse interessante ser psicóloga de uma instituição peculiar dessas, mas me submeter ao regime militar?? Acho que prefiro minha tattoo! Outras coisas são tão interessantes quanto. E quem disse que concurso público por si só é algo que irá me satisfazer? Só porque implica estabilidade financeira? Talvez eu prefire me mudar para um trailer e fazer psicologia pelo mundo afora, vivendo pela troca, os pacientes pagando o que puderem por aquela sessão dentro do trailer ou nas praças do mundo. Isso me parece muito mais instigante e vivo do que saber que meu pagamento está hibernando lá na minha conta corrente para sempre.
Talvez essa imagem pareça um sonho distante e juvenil, mas se investido tempo, dinheiro e paixão nisso, quem sabe não dá certo? Pode ser uma escolha da escolha, alternativa à psicologia sedentária que conhecemos (tanto clínica quanto institucional). O importante é tentar, certo? Ou melhor: o que importa é afirmar a vida. E se começa definindo o que é vida para nós...
Debora Navarro
segunda-feira, 30 de maio de 2011
"Prefiro não"
Vamos Cartografar?
terça-feira, 24 de maio de 2011
E quando é e não é o nosso caso
Já discutimos como é complicado lidar com a escolha do outro quando esta confronta seus princípios, mas como é lidar com a necessidade de escolher pelos outros, sem saber o que pode ser melhor ou pior, o quanto de discernimento aquela pessoa já possui pra poder ou não escolher sozinho alguma coisa e ter de fazer tudo isso sabendo que cada escolha gerará um impacto na vida deste outro?
Já culpei meus pais várias vezes por coisas como "eu queria ter feito um esporte quando pequena, vocês não me colocaram!" e meu pai já me disse que ele colocou sim, ele ofereceu sim, mas não é fácil convencer crianças de fazer o que elas não querem. E é verdade, imagino bem a cena. É muito difícil impor uma escolha à uma criança porque você acredita que é o melhor pra ela e ela só vai entender no futuro (e não adianta falar isso pra elas que só dá raivinha).
Enfim, não tenho bem uma conclusão sobre esse post, mas pensei muito nisso nas últimas semanas (não estou grávida não tá, gente hehe) e queria dividir esses pensamentos com vocês.
Rafaela Cruz
Uma proposta ao grupo
Luciana Pucci Santos
segunda-feira, 23 de maio de 2011
Crise nas escolas?
A idéia é que agora o Brasil é comprometido a ter escolas inclusivas. Que ótimo! Eu queria muito que isso fosse verdade. No entanto, eu acho que as escolas brasileiras não estão preparadas para receber estes alunos, ainda mais estes, que já estão acostumados com a escola especial. As escolas não estão preparadas fisicamente, os professores não estão preparados.
Ainda que as escolas brasileiras estivessem preparadas para receber estes alunos, e realmente incluí-los (não apenas "anexá-los"), ainda assim as crianças e seus pais não poderiam escolher ficar na escola especial?
As crianças do Benjamin estão bem. Alguém perguntou pra elas se elas querem ser "incluidas" na escola regular? Isso é uma questão para elas? Elas se sentem excluídas?
Não sei.
Uma amiga minha faz estágio no IBC, e disse que os pais estão apavorados, com medo de que seus filhos parem de estudar; as crianças estão desesperadas dizendo que não querem ir para a escola regular.
Um outro amigo meu disse que essa história de " as escolas e professores não estarem preparados" é só uma maneira de empurrar com a barriga, agora as coisas vão ser feitas. Será?
De qualquer forma acho que já começou errado, simplesmente querendo fechar as escolas especiais.
Enfim, sei que é um assunto pra muita pauta! Mas eu fecho meu pensamento com a primeira frase do livro que temos que ler para a disciplina:
"Talvez o maior de todos os desafios para nós, humanos, seja o de desnaturalizar o mundo que nos cerca"
e faço um link dessa frase com um vídeo curtinho, é a propaganda de empresa de energia elétrica francesa, mas seria como se nós tivessemos as dificuldades que os deficientes encontram no nosso dia-a-dia.
www.youtube.com/watch?v=X-905MT2Cl4
Kim
quinta-feira, 19 de maio de 2011
Uma experiência em pré-vestibular
A única vez que apareceu uma psicóloga no meu pré-vestibular, chamou-me para conversar numa sala, só ela e eu. Sua atuação se aproximou da tradicional estratégia clínica. Como se minhas dificuldades de escolher fossem exclusivas, como se meus colegas de curso não estivessem atravessados pelas mesmas linhas que eu. Nossa "sessão" acabou sendo eu a entrevistando sobre o tal curso de Psicologia. Era como se a Psicologia pudesse ser uma profissão certa pra mim, só esperando eu a descobrir.
Infelizmente, imagino que a maioria dos pré-vestibulares se limita a adotar uma orientação vocacional clínica ou mesmo estatística. Olhando pra trás, penso em quão interessante teria sido problematizar meus critérios de escolha junto aos outros alunos para construírmos juntos linhas de fuga menos hegemônicas, desindividualizando nossa demanda.
Camila Roque
terça-feira, 17 de maio de 2011
Aprendendo a lidar com o encontro da Clínica com a Política
Enfim, esses pensamentos tem borbulhado em minha mente durante esses dias, pois em certos momentos me sinto "pressionada" por saber que devo dar um resultado final sobre a evasão para ONG, mas ao mesmo tempo vou realizando os meus encontros um de cada vez sem pensar nessa finalização obrigatória, e faço daquele grupo que também faço parte um dispositivo único para o surgimentos de diversas questões que fazem tanto sentido para aqueles alunos, que passam também a fazer sentido para mim. E dessa forma vou "trabalhando" a questão da permanência desses alunos no pré-vestibular através de dispositivos que possam me permitir a imersão ou não da problemática da evasão.
Paula Maynarde
1984 e a Análise Institucional
Espero que gostem do texto, que se encontra no endereço eletrõnico: http://webcache.googleusercontent.com/search?q=cache:A6HjSaBQLhoJ:analiseinstitucional.wordpress.com/+%22aN%C3%81LISE+INSTITUCIONAL%22&cd=1&hl=pt-BR&ct=clnk&gl=br&source=www.google.com.br
Luciana Pucci Santos
__________________________
Sobre o Estado:
maio 10, 2009
A INSTITUCIONALIZAÇÃO DO ESTADO PARTINDO DA PERSPECTIVA DE GEORGE ORWELL NO LIVRO 1984
Taís Ziegler e Bárbara Bezerra[1]
A Análise Institucional surge nos anos 70 como uma abordagem que propõe, através da articulação de conceitos e instrumentos de análise, a partir da emergência de dispositivos que venham a provocar os sujeitos constitutivos de tal instituição, a transformação dessas instituições e suas ações. Traremos então, o Estado futurista imaginado por Orwell no livro 1984 como nossa instituição.
A Obra traz uma reflexão acerca dos estados totalitários no momento pós-guerra que acabam tomando conta de vários países instituindo com o nazismo, stalinismo, fascismo e comunismo, regimes de governo antidemocráticos. Entendendo o conceito de Estado como sendo um processo coletivo onde a nação é esta coletividade limite, a “comunidade das comunidades” como coloca Burdeau e o Estado como sendo a “instituição das instituições” segundo Maurice Hauriou, então, temos a primeira contradição acerca da coletividade que inexiste no Estado de Orwell, pois a coletividade só existe quando os indivíduos estão implicados na formação desse coletivo, uma vez que o Estado posto em análise, se instaura de forma autoritária utilizando a repressão para que não houvesse qualquer tipo de manifestação coletiva, onde até a relação entre pessoas de sexos opostos era “proibida” (o relacionamento, homem-mulher, era visto como sendo funcional, pois deveria ser apenas com objetivo da procriação, o amor era subversivo), transformando os indivíduos em peças para servirem ao estado através do controle total.
Georges Burdeau, trazendo a idéia de que a institucionalização não seria um fato sociológico e sim um ato jurídico, criador do Estado, afirma que o Estado se forma quando o poder assenta numa instituição e não num homem, surgindo assim a segunda contradição, pois no estado criado por Orwell o poder maior é dado a uma figura humana, o Grande Irmão (Big Brother), que passa a dominar a população através de práticas de controle, como a utilização de teletelas para vigiar a sociedade, a redução do idioma (novilingui), e extirpando a memória da população para que não se tenham referências históricas para que se desenvolvam críticas, nivelando assim a sociedade de acordo com os interesses de dominação, onde apenas uma única pessoa comandava a todos. O Estado serviria para a manutenção de um status quo.
Como ferramenta da instituição totalitária que é o Estado governado pelo grande irmão, o partido IngSoc, se materializa passando da superestrutura para a infra-estrutura, na forma de quatro ministérios. Ministério da Verdade, responsável pela falsificação de documentos e construção de uma realidade favorável ao partido, no qual o personagem Winston, que é o personagem principal dessa ficção, trabalha e percebe essa distorção da realidade fazendo com que uma série de questionamentos o levem a resistir a essa simulação de realidade criada pelo grande irmão; o Ministério do Amor, responsável pelo controle rigoroso de seus cidadãos, ironicamente atende por esse nome, pois a descrição do prédio em que funcionava esse ministério era assombradora, sendo lá o local onde eram levados os dissidentes, traidores, subversivos. Os recursos do aparelho repressor do estado totalitário do Grande Irmão eram inúmeros, a paranóia social e a patrulha ideológica transformavam todos os cidadãos em possíveis vigilantes e carrascos; havia ainda o Ministério da Paz, responsável também ironicamente pela Guerra, pois no livro, a guerra é considerada um instrumento de manutenção do poder do Grande Irmão. As regras do partido eram: Guerra é Paz, liberdade é escravidão, Ignorância é força. Encontrar no outro distante um inimigo faz com que não se questionem as contradições dentro do estado totalitário e cria um sentimento coesivo típico de uma sociedade em que o estado permeia todos os níveis de relações sociais. O último é o Ministério da Fartura, que costumeiramente divulgava uma serie de boletins das produções materiais da Pista Número 1 (nome do país fictício de Orwell). Esses boletins vinham com números adulterados para simular uma possível produção excessiva dos bens e dar uma impressão de comodidade aos cidadãos. Mais uma maneira de distorção da realidade por aparelhos estatais, não muito diferentes do que faz a imprensa hoje em dia.
Numa acepção sociológica, Marx e Engels explicam o Estado como fenômeno histórico passageiro, oriundo da aparição da luta de classes na sociedade, desde que da propriedade coletiva se passou à apropriação individual dos meios de produção. Portanto, trata-se de instituição que nem sempre existiu e que nem sempre existirá, estando fadado a desaparecer, enquanto poder político. Estando aqui bem claras as concepções de autodissolução empregados na Análise Institucional, o Estado é o poder organizado de uma classe para opressão de outra, estando esses dois em movimento dialético, então, “Se toda a história é história da luta de classes é porque a história sempre foi a mesma coisa, numa palavra, pré-história.”
Uma vez que o livro foi escrito em 1948, estamos a sessenta anos à frente das previsões que George Orwell teceu em seu livro. Na época, ele fazia uma crítica de acordo com o que eles estavam vivendo, ou seja, uma crítica ao Comunismo, que teria surgido com o objetivo de dar outra solução diferente do capitalismo. Acreditando que hoje vivemos num mundo bem diferente do exposto acima, longe das sombras “terríveis do comunismo”, percebemos ao analisar a obra de George, que o nosso sistema capitalista não é muito diferente da crítica do livro, instaura-se numa produção de alienação, falta de sentido, uma verdadeira crise de identidade e que, revestida de uma pseudo-democracia, vivemos aparentemente em uma sociedade livre, a obscuridade e sutileza com que somos dominados produz uma apatia frente ao pensar, e são impostos modelos que devemos seguir. Nossas escolas muitas vezes são vistas como aparelhos ideológicos, com a finalidade de reproduzir a submissão frente a uma ideologia dominante, onde produzir, criar e até errar são desvalorizados, pois a criatividade gera transformação e o Estado necessita de uma manutenção dessa ordem. O sistema em que vivemos é pautado numa lógica esquizofrênica, pois ele não consegue ser sustentável, de maneira que a procura desenfreada por acumulação de lucros está baseada no capital intensivo e este é intimamente ligado aos recursos naturais, uma vez que esses recursos são esgotáveis, em que as variáveis econômicas não incluem os fatores sociais e ecológicos, estando portanto fadada ao fracasso. Hoje ao lermos o livro que é uma distopia, que ao contrário da utopia, é uma situação de anormalidade e traz numa forma irônica, mas muito coerente e real, um alerta ao estado capitalista em que vivemos hoje: “Capitalismo é o espaço de contradição paradoxal entre impacto do processo de circulação do capital e mecanismos de controle e disciplina normalmente vinculados ao estado, à família, às instituições.” (2008, p. 142). O mundo globalizado perde referências e a memória acaba por se esvair ao longo de tantas normatizações. Ainda não conseguimos provocar mudanças significativas na história, ainda vivemos em um mundo pautado numa lógica que foi tão institucionalizada e incrustada no nosso pensamento, que não conseguimos provocar fissuras para que esse modelo seja reestruturado e a partir daí, que realmente façamos uma revolução de paradigmas. Já que “os indivíduos conhecem, pensam e agem segundo os paradigmas inscritos culturalmente neles. Os sistemas de idéias são radicalmente organizados em virtude dos paradigmas.” (MORIN, 1991 p.188).
Vários autores e pensadores como Geoffrey Chew, Fritjof Capra, David Bohm entre tantos outros, tentam agora desenvolver novas teorias filosóficas que reúnam condições de criar novas visões de mundo, a filosofia bootstrap, ao cindir com a visão antiga que procura elementos fundamentais e leis que regem certos tipos de movimentos, buscando explicações exatas, verdades e certezas, traz essa nova visão do universo como sendo uma teia de relações onde não existe centro e sim processos dinâmicos inter-relacionados. Alberto Guerreiro Ramos extrapolando essas pesquisas para o campo das relações sociais e políticas junto com a visão sistêmica dos sistemas administrativos, procura demonstrar a importância de processos descentralizadores, cooperativistas e ecológicos.
Vimos nesta análise que a experiência histórica socialista ruiu, vítima de sua pragmática identificação com o progresso material (isso vale para o Estado e as pessoas), o comunismo empenhou-se em desenvolver a infra-estrutura, e não na formação da sociedade civil e na democratização da estrutura política. Tanto o capitalismo como o comunismo, estão inseridos na perspectiva materialista da construção de riqueza, em que esse capital estaria norteando suas ações. Uma sociedade que entendesse que esse conjunto inter-relacionado de pessoas, sistemas e organismos vivos, deveriam estar de acordo com os movimentos da vida, como na visão biocêntrica, que a vida seja o centro dando conta de todas as variáveis sociais e ecológicas, assim, permitindo que nada fosse centralizado e nada fosse excluído das condições que exigissem a perpetuação da VIDA em todas as suas formas. A igualdade seria atingida num nível de cooperação entre os seres ligados nessa teia dinâmica, onde a liberdade de pensar e criar daria condições para “evoluirmos” de forma coletiva e não individualista, através do cooperativismo e não competitivamente, como propõe a autogestão.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ARANTES, P.E. O que está vivo e o que está morto no manifesto comunista? Estud.av. vol.12 no.34 São Paulo Spt./Dec. 1998. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0103-40141998000300017&script=sci_arttext
CAPRA, Fritjof. Sabedoria Incomum. Editora Cultrix – São Paulo. 1990.
BURDEAU, Georges. O Estado. São Paulo: Martins Fontes, 2005
HAURIOU, Maurice. Principíos de derecho público y constitucional. Trad. de Carlos Ruyz del Castilho. 2. ed. Madrid : Instituto Editorial Reus, [s.d.].
MORIN, Edgard. Introdução ao pensamento complexo. Lisboa: Instituto Piaget, 1991.
RAMOS, A.G. A nova ciência das organizações. Uma reconceituação da riqueza nas nações. Rio de Janeiro, Fundação Getúlio Vargas, 1981.
E aí?
O problema começa quando começamos a pensar, a pensar na escolha da escolha, a pensar que somos seres políticos, a pensar que diariamente reproduzimos modelos de comportamento (e de pensar) pré-determinados. Ao compreendermos isso poderemos voltar à pergunta inicial: e aí? O que fazer com isso? Como agir de forma não ingênua, entendendo que nossas atitudes não são tão livres como nós havíamos pensado até então? Podemos então, finalmente, nos perguntar: a que interesses estamos servindo? As respostas, nós sabemos, não são fáceis de achar, mas talvez só o fato de não termos mais tanta certeza já seja um bom sinal...
Paula Rubea
segunda-feira, 16 de maio de 2011
terça-feira, 10 de maio de 2011
Política
“É impossível que fujamos da Política. É possível, obviamente, que desliguemos a televisão, se nos aparecer algum político dizendo algo que não estamos interessados em ouvir. Isto, porém, não nos torna “apolíticos”, como tanta gente gosta de falar. Torna-nos, sim, indiferentes e, em última análise, ajuda a que o homem que está na televisão consiga o que quer, já que não nos opomos a ele. O problema é que, por ignorância ou apatia, às vezes pensamos que estamos sendo indiferentes, mas na verdade estamos fazendo o que nos convém. (...) Quando alguém diz,como é freqüente lermos em entrevistas aos jornais, que “não liga para a Política”, está naturalmente exercendo um direito que lhe é facultado pelo sistema político em que vive. Ou seja, em última análise, está sendo um político conservador, não vê necessidade de mudanças. Então não é apolítico, no máximo, falta-lhe a consciência de seu significado e papel político. (...) A Política não é, pois, apenas uma coisa que envolve discursos,promessas, eleições e, como se diz freqüentemente, “muita sujeira”. Não é uma coisa distinta de nós. É a condução da nossa própria existência coletiva, com reflexos imediatos sobre nossa existência individual, nossa prosperidade ou pobreza, nossa educação ou falta de educação, nossa felicidade ou infelicidade.
É claro que uma pessoa pode não se preocupar com a Política e os políticos. Trata-se de uma escolha pessoal perfeitamente respeitável. Mas, quando se age assim, deve-se ter consciência das implicações, pois se trata de uma atitude de passividade que sempre favorece a quem, em dado momento, está numa situação de mando dentro da sociedade.”
(Laura Bloch)
PS: Parênteses em homenagem à Aymara ;P
"Escovar a história a contrapelo"
Fiquei com uma frase marcada e achei interessante relacioná-la com uma poesia do Manoel de Barros.
Lívia contava-nos sobre um de seus atendimentos na Maré. Num deles, o adolescente diz querer ser alguém na vida. Achei a intervenção da Lívia brilhante: “E o que é ser alguém na vida?” (Acho q foi mais ou menos assim. Foi o que me ficou marcado.)
Mas enfim, sua intervenção lembrou-me o poema de Manoel de Barros "Uma didática da invenção". Para quem não o conhece, aí está:
"Desinventar objetos. O pente, por exemplo. Dar ao pente funções de não pentear.
Até que ele fique à disposição de ser uma begônia. Ou uma gravanha.
Usar palavras que ainda não tenham idioma."
Por que ser alguém na vida é necessariamente ter uma profissão, ser graduado em alguma coisa, ganhar muito dinheiro, enfim... Por que aceitamos este modo-indivíduo sem questioná-lo ou sem tentar “desinventá-lo”?
Sobre a intervenção da Lívia, achei brilhante, pois muitos responderiam a este jovem, que sim, que dele deve estudar, ser médico, atingir um fim específico, um status, enfim, alguém que se enquadre nos moldes da subjetividade capitalística.
Devemos “escovar a história a contrapelo” (Walter Benjamin). Subverter a função do pente é um meio de escovar a história a contrapelo. É claro que não podemos voltar ao tempo, nem fingir que esquecemos o que sabemos, mas o que podemos fazer é localizar a pergunta no uso que se faz do que sabemos. Assim, o que fazemos da Psicologia? Este grupo tem me feito questionar o uso que faço deste saber, o poder que temos sobre ele, e de que forma podemos inventar outras práticas, sem reproduzir normas, padrões imersos em nossa subjetividade.
(Maria Luiza Iusten)
sexta-feira, 6 de maio de 2011
O Grupo como instituição
Na última aula, os depoimentos das estagiárias acerca do trabalho de análise do vocacional na Maré evovou esta ambiguidade que li no texto da Regina sobre Grupo.
De um lado, foi muito vívido e transparente a importância que tem na experiência de cada estagiária a realização da intervenção, na forma de grupo, nos cursos comunitários.
Entrentanto, a enunciação de seus discursos me fez ser atravessada por inúmeras advertências de Foucault sobre a reprodução automática dos valores de criminalização de classe preconizados em nossa sociedade do controle.
Parece-me que não é o dispositivo grupo a via de despojamento dos processos de subjetivação enunciados em nosso cotidiano, pois pude perceber o quanto de assistencialismo e de paternalismo nos constitui quando se quer pensamos ou agimos em ambientes desassistidos.
Muito da fala das estagiárias me mostrou o quanto não está presente uma equidade entre estas e os moradores da Maré, o quanto há de um nós e um eles, um de lá e um de cá. Em que ponto se perdeu a capacidade de se entender que somos todos um, uma espécie entre tantas outras convivendo no mesmo espaço e na mesma época a compartilhar sua expressão individual, que nada mais é do quo social.
Pois é na sociedade e no grupo que se deve buscar uma explicação para a vida individual. Estará, a partir daí, implantada a ideia de um amente (ou consciência) coletiva que se diferenciará da mente (ou consciência) individual, sendo que é a primeira que dá existência à segunda. O indivíduo pensado fora da sociedade e/ou do grupo é uma abstração (Durkheim).
Contudo, parece enigmático considerar que promovemos um reducionismo absurdo dos grupamentos sociais a que pertencemos a ponto de eliminarmos a noção de todo e passarmos a ser incapazes de rever este postulamos e nos percebermos como iguais, como um todo e assim podermos nos posicionarmos lado a lado.
(Luciana Pucci Santos)
terça-feira, 3 de maio de 2011
Grupo
Saindo um pouco do tema das escolhas e falando sobre o tema "grupo", gostaria de compartilhar algumas ressonâncias que o nosso trabalho tem causado sobre mim.
Eu sempre fui meio "anti-social", só gostava de brincar sozinha, comigo e com a minha imaginação louca, e sempre tive um certo medo de interagir. Na medida em que fui fazendo amigos, esse medo cessou um pouco, mas logo foi voltando devido a más experiências com "amigos" que me magoaram de vários modos, em grupo - seja voltando as pessoas contra mim, seja dois grupos de amigos diferentes se juntando e se "esquecendo" de mim. Na faculdade, encontrei um ambiente no qual eu podia me sentir a vontade e querer de fato conversar com as pessoas, e conhecê-las, me conectar com elas - coisa que, apesar de tudo, é o que considero nosso maior bem como humanos, viver pela riqueza da partilha. Ainda assim, me resguardava no quesito trabalho em grupo, e tive bastante dificuldade de lidar com a idéia de formar um grupo para esta matéria. Nem me importei com a questão de se expôr, porque acho que é isso que é belo de se fazer (é aí que se dá a comunhão da partilha, da troca...).
Gostaria de dizer que simplesmente me apaixonei por essa abordagem de deixar fluir a discussão no grupo, sem objetivo a ser alcançado, estar totalmente aberto às questões que surgem ali, no momento. Achei isso tão simples, tão essencial, tão mágico: exatamente porque traduz o lindo universo caótico no qual pulsa a vida, sempre em movimento, eterna autopoiese de destruição e construção. Analogicamente, na mitologia indiana, esse método traduz Shiva na sua maior expressão. Nos afastando de pretensões científicas de progresso, nos aproximamos de uma forma mais viva de terapia - não de um tratamento propriamente dito, mas de uma forma de lidar com o caos de cada dia, produzindo subjetividades de modo criativo. Assim, multiplica-se a vitalidade naquele espaço, e esse vibrar da borboleta pode ser ouvido do outro lado do mundo.
Em resumo, esta disciplina me ajudou (e está me ajudando) a descobrir uma nova forma de enriquecer a vida em geral: o borbulhar do grupo disposto a se colocar de dentro para fora, de modo que a individualidade deixe de ter essa importância fumegante que caracteriza nossos dias de hoje. Essa "transcendência" se mostrou, para mim, algo que Nietzsche remete ao que deveria significar vida para todos nós: um quadro que eu gostaria que se repetisse para a eternidade.
aula síntese?
Confesso que sempre saio da aula pensando mil coisas, mas quando sento na frente do computador parece que não consigo mais refazer as linhas de pensamento que se seguiram anteriormente. No entanto, hoje a aula foi tão "palpável" que consegui sentar e começar a escrever.
Eu gostei muito da aula de hoje, ela me pareceu uma síntese porque retomou muito do que já havíamos discutimos anteriormente, exemplificou o trabalho em si e, além disso, surgiram novas temáticas que não tinham passado na minha cabeça dentro do tema "Análise do Vocacional". Achei até engraçado quando a Lívia falou que óbvio que ela esperava que em algum momento surgisse a temática do tráfico, das armas, etc"; mas em nenhum momento isto passou na minha cabeça. Nesse sentido é que me dei conta do quão importante é o levantamento das questões na dinâmica "a minha maior dificuldade". Quando nós fizemos essa dinâmica durante a aula, eu não tinha entendido desta forma. Inclusive, quando a Aline falou que possivelmente abram um grupo de discussão sobre sexualidade, porque estas são as questões que estão sendo demandadas no grupo, achei sensacional! Porque foi aí que percebi o trabalho como algo que para além da diferença da orientação profissional, e realmente entender quando o Pedro Paulo fala "quem é esse sujeito que escolhe?". Quem é ele? Quais as suas questões? Quais as suas demandas? Conseguirá ele viver no mundo das incertezas? Ou como disseram o Pedro e a Flavinha, é muito importante "apostar" e deixar espaço para que o inesperado ocorra (ou foi quase isso hehe)..
Para fechar meu pensamento, lembrei de uma frase que li num texto sobre Fenomenologia da Yolanda Forghieri:
"Viver é muito arriscado" afirma um dito popular; por isso, como diz o filósofo Tillich (1972), é preciso ter-se "coragem para ser", coragem para viver a nossa vida, diante de tantas inseguranças e dos perigos que continuamente nos ameaçam.
(Kim)
terça-feira, 26 de abril de 2011
reflexões pós grupo
Entendo que não somos neutros e que devemos lidar com esse fato. E só se aprende a lidar com isso na prática, não tem jeito! Acho que ainda vamos levar muita porrada até aprender (desculpem o termo!).
Creio que um passo importante e inicial nesse caminho desafiador - de tentar entrar no mundo do outro/a e entender com ele/a como faz pra desatar os nós da vida - é a gente entender qual é o lugar que ocupamos no mundo.
Acredito que se entendendo melhor (dos gostos, desejos, sabores, classes...) a gente consegue saber até onde podemos ir no relacionamento com o outro/a que nos pede essa "ajuda" ingrata que a Psicologia demanda.
Lembrei desse vídeo-clip engraçado, mas que mostra muito da realidade em que a maioria de nós vive e do lugar de onde muitas vezes falamos!
http://www.youtube.com/watch?v=d8O0Zk5N-e8 (não consigo inserir o vídeo aqui! se alguém conseguir coloca aqui por favor!)
Divirtam-se, refletindo!
(Ana Marcela Terra)
Analise do Vocacional
Neste quadro se encontra uma política social que abandonou progressivamente a meta de reformar a sociedade e, em lugar disso, se preocupa em supervisionar a vida dos pobres. A forma de ação destas políticas, na verdade paternalistas, é a de sustentar os pobres ao mesmo tempo em que exigem que eles funcionem, oferecendo mais esperança de melhorar a pobreza do que fazer mais - ou menos - em favor dos pobres. A melhor reposta à pobreza não é subvencionar as pessoas ou abandoná-las: é dirigir sua vida... (Wacquant.
Neste sentido, o Estado deveria fazer respeitar diretamente os comportamentos essenciais à ordem pública através da repressão as violações da lei, convocando os que estão prestando serviço militar e assim por diante.
Entretanto, a fim de reafirmar a influência moral da sociedade, a criminalização dos pobres, principalmente dos jovens torna-se prática convencionada. Deste modo, estes passam a maus pobres, por serem dotados de passividade pela educação disciplinar do trabalho são submetidos a remodelagem autoritária de seu estilo de vida disfuncinoal e dissoluto, não lhes cabendo qualquer tipo de escolha.
Neste sentido a atuação da análise do vocacional tomada pelo seu caráter libertário pode imputar o exercício da escolha mesmo quando este verbo não está disponível.
Luciana Pucci Santos
sexta-feira, 22 de abril de 2011
Um incômodo
Fazer a "escolha da escolha" é, para mim, uma atitude que demanda a todo tempo uma reavaliação por parte da pessoa que a fez. Sei que em aula colocamos que fazer a escolha da escolha pode ser, até mesmo, escolher ser "igual a todo mundo", "entrar no padrão". Até aí, tudo bem(?). O grande problema é quando a escolha se dá no fluxo contrário.
Eu acredito que seja muito mais difícil porque é mais complicado fugir da norma e manter-se fora dela por muito tempo. Isso porque a rapidez que domina nossa sociedade, cria e recria a todo momento novos rótulos, novas maneiras de ser.Como na letra dos Titãs, qualquer banda pode se tornar "a melhor banda de todos os tempos da última semana", qualquer livro, o melhor e qualquer artista, um ícone a ser seguido. E se, uma dessas pessoas passa a se vestir/ comportar ou falar sobre coisas que você já fazia há muito tempo, isso rapidamente vira uma moda, e você que era o "estranho", o desviante, passa a ser o normal.
Em aula, entramos num "acordo" de que a "escolha da escolha" se caracteriza pelo reconhecimento de critérios. Mas quando essa situação acima acontece, o que fazer? Os nossos critérios estabelecidos apenas para nós mesmos continuam valendo? Sei que posso estar dando valor demais ao que os outros pensam, mas ser uma hippie por opção, porque desfruta dos valores preconizados pelo movimento continua sendo igual quando a nova moda é se vestir desse jeito? A opção de ir contra o sistema continua intacta ou o fato de milhares de outras pessoas estarem iguais a você sem pensar na filosofia que o levou a decidir isso altera alguma coisa?
Em alguns momentos, já passei por essas situações. Não vestia rosa nem saia porque acreditava que assim mostraria que menina não precisa usar essas coisas. Vestia preto e aí, todo mundo passou a vestir. Passei a usar roupas hippies e não gostar de nada que viesse dos EUA. Era assim que eu mostrava como pensava sem nem precisar abrir a boca. E aí, os saiões viraram hit devido a uma novela. Adorava usar all-star e me negava a usar qualquer tipo de melissa. E ai, a Nike comprou o All-Star e ele agora tem salto... O que fazer? Continuar seguindo?
Em alguns momentos, parei de fazer. Não queria estar na moda, não queria compartilhar a maneira de me vestir, se minha maneira de pensar era diferente. Teria sido essa a melhor escolha?
Agora, estabeleci que meus critérios devem ser outros. E muitos. Mas nunca tenho certeza se são os apropriados. Não tenho certeza se o que eu fazia antes (embora ainda presente de certa forma nos critérios de hoje)era mais apropriado. E aí os questionamentos sobre a necessidade de certeza, de existência de caminho certo a seguir, e de outras dúvidas mais sobre o que/como escolher me atravessam e me incomodam e constituem assim as minhas atitudes/pensamentos/comportamentos/escolhas angustiante e incessantemente...
Imira Fonseca
terça-feira, 19 de abril de 2011
dos rumos e devaneios
"A utopia está lá no horizonte. Me aproximo dois passos, ela se afasta dois passos. Caminho dez passos e o horizonte corre dez passos. Por mais que eu caminhe, jamais alcançarei. Para que serve a utopia? Serve para isso: para que eu não deixe de caminhar"
(Eduardo Galeano)
Há umas semanas nosso grupo me fez lembrar desse trecho de Galeano (não se assustem se eu citá-lo muito por aqui, sou meio viciada!)
Foi o dia do papelzinho que dizia qual era a maior dificuldade em se fazer uma escolha.
Lembro que entramos numa discussão sobre objetivos, critérios de escolha, o que se fazer quando não temos escolha...
Me deparei com uma certa objetividade materialista que me assola. Escolho uma coisa porque tenho tal objetivo. Acho que esse é meu principal critério... o fim, onde quero chegar.
Fiquei um pouco angustiada quando me deparei com mais esse pouquinho do que eu sou. Mas depois de ir mais fundo lembrei que tenho muitos objetivos, e eles mudam e, e, e... no fim, eu quero mesmo é caminhar, é não ficar parada! Gosto de ter um caminho a trilhar e isso não é necessariamente ruim. Acho que continuo vivendo intensamente!
Galeano, como de costume, traduziu pra mim!
Pra terminar, mas uma do mesmo autor pra gente refletir no feriado:
"Dos medos nascem as coragens; e das dúvidas, as certezas. Os sonhos anunciam outra realidade possível e os delírios, outra razão.
Somos, enfim, o que fazemos para transformar o que somos."
(Ana Marcela Terra)
segunda-feira, 18 de abril de 2011
Tudo depende de mim
"Hoje levantei cedo pensando no que tenho a fazer antes que o relógio
marque meia-noite.
É minha função escolher que tipo de dia vou ter hoje.
Posso reclamar porque está chovendo... ou agradecer às águas por
lavarem a poluição.
Posso ficar triste por não ter dinheiro... ou me sentir encorajado para administrar minhas finanças, evitando o desperdício.
Posso reclamar sobre minha saúde... ou dar graças por estar vivo.
Posso me queixar dos meus pais por não terem me dado tudo o que eu queria.... ou posso ser grato por ter nascido.
Posso reclamar por ter que ir trabalhar.... ou agradecer por ter trabalho.
Posso sentir tédio com as tarefas da casa... ou agradecer a Deus por ter um teto para morar.
Posso lamentar decepções com amigos... ou me entusiasmar com a possibilidade de fazer novas amizades.
Se as coisas não saíram como planejei, posso ficar feliz por ter hoje para recomeçar. O dia está na minha frente esperando para ser o que eu quiser.
E aqui estou eu, o escultor que pode dar forma.
Tudo depende só de mim."
Charles Chaplin.
(Lilian Calil)
quarta-feira, 13 de abril de 2011
terça-feira, 12 de abril de 2011
Um grupo em formação...
Na segunda aula, já conseguia nos visualizar como um grupo se constituindo através da apresentação de cada um. Cada história contada, através do objeto eleito para apresentação, me atravessou de alguma maneira...
Hoje o que vi foi mais do que um grupo se constituindo, mas um grupo que de fato se apropriou daquele espaço como próprio....Como um espaço, inclusive, para compartilhar as próprias angústias....
Confesso, que quando o grupo de hoje tomou um rumo muito pessoal, fiquei pensando se esse seria um espaço de trazer experiências de ordem tão particular...Mas depois pensei “ por que não trazê-las?” ou melhor “ como não trazê-las?”.
Natália Ferreira
A escolha, os outros e o psicólogo
O outro ponto que me chamou a atenção foi a questão levantada sobre o papel do psicólogo quando procurado para resolver as escolhas do sujeito. Não tem como negar que nós como psicólogos nos pomos numa relação de poder. Funcionamos como as regras que foram criadas pelas estratégias do poder. Muitos desses indivíduos nos chegam já com suas identidades fixas. Foucault diz que não pode haver uma interioridade substancializada. Esse eu que decide e escolhe é um ser produzido. Não se pode, portanto, falar de um desejo nosso singular, tudo é decidido nas relações. Nós estamos acostumados a pensar com Descartes e tomamos nosso eu como ponto de partida. Nossos desejos não são espontâneos, mas são produzidos. Mas aí vem a pergunta, o que fazer psicólogo? O psicólogo se apresenta como aquele que ínsita o desejo singular do sujeito, possibilitando que haja por parte dele uma resistência, isto é, a criação de um modo inédito de vida. Já que a liberdade é uma prática e não uma propriedade do humano. Esse indivíduo de identidade fixa não possui singularidade, já que ele é produção de poder. Quando falamos num singular dizemos algo anômalo que foge às malhas do poder. Se pôr como incompetente para estar a altura do que a sociedade exige do sujeito, pode gerar um sofrimento ao sujeito. O psicólogo está ali para que haja por parte do sujeito uma resistência ativa, isto é, poder dizer que não quer aquilo que lhe é exigido, e assim, poder se inventar, poder trazer para si a singularidade. Há sempre uma zona obscura que o poder não pode recobrir. É essa zona que funciona como potencial criador, que permite ao sujeito resistir criando. Acho que é essa a função do psicólogo, permitir ao sujeito encontrar sua forma de resistir criando a si próprio diante de suas escolhas.
Bruno Fontes.
Exercer a escolha numa sociedade disciplinar
Neste contexto, escolher torna-se um processo automatizado, já que não se dá de modo livre por não ser possível, ao indivíduo, se desprender da disciplina que o funda e subjaz como eixo de organização do mesmo.
Não conseguiríamos sequer nos imaginar como sujeitos fora da disciplina. Ela toca naquilo que nos é mais caro, nossa corporeidade, o que somos como sujeitos. Não sendo possível pensar a liberdade sem a disciplina. O importante de entender na formação discursiva é o efeito que ela produz: outra verdade, transitória, que carrega os conceitos de dado momento.
Porém, podemos transformar o processo de decidir, num movimento de reconhecimento da subjetivação disciplinante que há em nós, e de posse deste conhecimento, fazer circular o poder disicplinar para que se possa sair de um lugar de passividade para um atividade, em termos de enunciante de formações discursivas e assim, escolher.
Luciana Pucci Santos
segunda-feira, 11 de abril de 2011
Pensando um pouco sobre arte.
José Eduardo Belmonte (cineasta brasileiro), em entrevista ao Segundo Caderno do jornal “O Globo” sobre seu novo longa metragem, “Billi Pig”, 11/04/2011: “Gosto do nonsense. Daí o porco de borracha que fala. Comédia é bom para anarquizar. Mas eu não sei se anarquizar é a palavra para o que busco nos meus filmes. Prefiro falar em liberdade. Tento manter um espaço de liberdade, de invenção, (...). Um filme tem que ser bom também no processo.”
Ingenuamente posso me inclinar a crer que o processo criativo exprime a mais límpida liberdade do ser (criação=libertação). Como se a criação fosse um objeto em si, impermeabilizado e hermeticamente cerrado em relação aos devires da história – “posso fazer sempre o que eu quiser!” – Neste sentido, o mesmo valeria para a liberdade. Porém, ao tentar digerir esta primeira idéia fico logo engasgado: a criação é a criação do que? A partir e diferente do que? É criação por quê? Etc.
Criação me remete à singularidade e diferença.
A noção de liberdade que gostaria de compartilhar com vocês é a seguinte: liberdade é a sensação de uma possível transformação do dado. Liberdade, por exemplo, é o que o poeta Manoel de Barros exerce em relação à gramática: ele parte dum apriori (a língua portuguesa), mas cria uma singular form’outra de se expressar. Ao exercer esta “liberdade” ele inventa outros possíveis, sugere diferentes caminhos-sujeitos. Mas será que há uma escolha nisso?
Não sei se posso chamar de escolha, mas existe sim, em sua obra, uma postura ativa em relação ao que se apresenta como feito, já produzido. Felizmente, ou infelizmente, a nossa existência se da no âmbito do entre: entre o que está e o que pode vir a ser. Não é só do instituído que me constituo. Existe algo que me sobra e que ao mesmo tempo me falta, um espaço para a criação. Não me refiro a criação do NOVO, afinal, o que é o novo?
A partir de agora gostaria de poder criar: quero chamar esta mínima sensação de potência de escolha. Poder nomear esta ínfima possibilidade de ação do sujeito por liberdade. Quero crer que Manoel escolhe suas palavras-formas e assim se liberta.
Somos produzidos enquanto desejos, mas também produzimos, e não só reproduzimos, quando desejamos. Será que esta recíproca é verdadeira?
Para iluminar, um pouco da arte manoelesca através de fragmentos do “Livro sobre nada” (1996): “(...) Arte não tem pensa:/ O olho vê, a lembrança revê, e a imaginação transvê./ É preciso transver o mundo./ Isto seja:/ Deus deu a forma. Os artistas desformam./ É preciso desformar o mundo:/ Tirar da natureza as naturalidades./ Fazer cavalo verde, por exemplo. (...)”. Na primeira parte deste mesmo livro, nos deparamos com o seguinte excerto: “A voz de meu avô arfa. Estava com um livro debaixo dos olhos. Vô! o livro está de cabeça para baixo. Estou deslendo.”
(João Pedro)