segunda-feira, 30 de maio de 2011

"Prefiro não"

Quando falamos em possibilidades de escolha, penso que o importante seria não deixarmos nos prender à escolhas já pré-postas a nós. Portanto, resta-nos criar a nós mesmos quando fazemos escolhas. Logo, quando criamos estamos resistindo, como diria Deleuze. Resistir pode se apresentar como um poder não fazer (potência de não ser), como ocorre na figura do escriturário Bartleby na obra de Herman Melville, ao dizer sempre que lhe perguntado: "prefiro não". Mas o que significa resistir? Responde Agamben: "é antes de tudo ter a força de des-criar o que existe, des-criar o real, ser mais forte do que o fato que aí está. todo ato de criação é também um ato de pensamento, e um ato de pensamento é um ato criativo, pois o pensamento se define antes de tudo por sua capacidade de des-criar o real". (AGAMBEN, imagem e memória). Fica o pensamento para refletirmos sobre as possibilidades de nos criar ao escolhermos.

Bruno Fontes.

Vamos Cartografar?

"Seleção para Projeto De cartografia da Evasão em Pré-Vestibular Comunitário"

No que se constitui o projeto?

A equipe trabalha com o método da Cartografia sobrepondo-se ao tema do fenômeno de evasão em um pré-vestibular comunitário. O projeto de pré-vestibular é um de alguns projetos realizados pela ONG Eu penso no futuro, cujo objetivo se entende por transformação social através dos alunos que nela se envolvem. O método cartográfico visa o estudo das forças que podem emergir dentro do campo, através do dispositivo grupo, já conhecido por nós desta disciplina. Entendemos que nós somos parte daquele grupo, e que como dispositivo, temos o papel de produzir transformações e conhecimentos assim como também somos o plano ao qual queremos acessar e intervir.

Qual o público-alvo?

A equipe do projeto trabalha com 2 turmas de alunos de pré-vestibular, cuja a faixa etária em sua maioria atinge de 16 a 23 anos.

Como é a rotina das atividades?

A equipe realiza atividades com os alunos de 15 em 15 dias. São dinâmicas que visam a integração e o trabalho de temas demandados pelos alunos.
As atividades possuem um horário reservado de 18:50 às 22:00 para trabalhar com as duas turmas e a equipe realiza ainda uma reunião por mês em um sábado com todos os professores e coordenadores das turmas de pré-vestibular.
Local: Comunidade Rio das Pedras - Jacarepaguá.

No que este projeto pode me acrescentar?

Além de estar trabalhando com uma das formas de pesquisas mais novas e irreverentes da psicologia, que é a cartografia, a convivência com os alunos pode desenvolver questões importantes como a escuta, a atenção e o trabalho com o inesperado.

Aos interessados favor enviar email para: paulamaynarde@gmail.com
Assunto: Cartografia ONG.

Sintam-se a vontade para virem tirar dúvidas mais especificas sobre o projeto comigo!

Obrigada!


Beeijos
Paula Maynarde

terça-feira, 24 de maio de 2011

E quando é e não é o nosso caso

Estava pensando sobre o que conversamos sobre desconstrução de certas ideias, como "você só vai ser alguém na vida se for pra escola" (depois muda pra universidade, pós e etc.). Concordo muito com esse tipo de desconstrução e acho que devemos pensar nas verdadeiras motivações para fazer certas coisas. Mas eu comecei a pensar numa coisa...E se meu filho chega pra mim e fala que quer sair da escola, que não tem nada pra fazer lá e etc?? Sinceramente, me vejo ficando maluca e falando que é pra ele ser alguém na vida. Pelo menos num primeiro momento de susto. Realmente não sei como eu lidaria com essa situação e é claro que existem diversos fatores envolvidos, mas comecei a pensar que aparecen nesse tipo de cason uma questão que influencia demais certas escolhas e pessoas e que eu nunca tinha parado pra pensar nas aulas: a questão de você ter pessoas dependentes de você e, logo, das suas escolhas e decisões.

Já discutimos como é complicado lidar com a escolha do outro quando esta confronta seus princípios, mas como é lidar com a necessidade de escolher pelos outros, sem saber o que pode ser melhor ou pior, o quanto de discernimento aquela pessoa já possui pra poder ou não escolher sozinho alguma coisa e ter de fazer tudo isso sabendo que cada escolha gerará um impacto na vida deste outro?

Já culpei meus pais várias vezes por coisas como "eu queria ter feito um esporte quando pequena, vocês não me colocaram!" e meu pai já me disse que ele colocou sim, ele ofereceu sim, mas não é fácil convencer crianças de fazer o que elas não querem. E é verdade, imagino bem a cena. É muito difícil impor uma escolha à uma criança porque você acredita que é o melhor pra ela e ela só vai entender no futuro (e não adianta falar isso pra elas que só dá raivinha).

Enfim, não tenho bem uma conclusão sobre esse post, mas pensei muito nisso nas últimas semanas (não estou grávida não tá, gente hehe) e queria dividir esses pensamentos com vocês.

Rafaela Cruz

Uma proposta ao grupo

Pessoal, vocês achariam válido que tivêssemos uma aula presencial no grupo para aplicação de técnicas de analise do vocacional sobre a necessária escolha que faremos em breve de a qual campo de atividade concentraremos nossa prática como psicólogos, ou seja, se iremos atuar na clínica e sob o resguardo de qual abordagem terapêutica, ou então, se atuaremos na psicologia hospitalar ou organizacional ou na saúde mental entre muitas outras possiblidades?

Luciana Pucci Santos

segunda-feira, 23 de maio de 2011

Crise nas escolas?

Nestes últimos dias, alguns pensamentos tem me atravessado de maneira muito forte. Depois da aula passada, em que falamos que precisamos de uma crise para colocar em análise as instituições, eu recebi um e-mail para assinar uma petição para que não fechem o Insituto Benjamin Constant (para cegos) e o Insituto Nacional de Educação para Surdos; então pensei, temos a crise!
A idéia é que agora o Brasil é comprometido a ter escolas inclusivas. Que ótimo! Eu queria muito que isso fosse verdade. No entanto, eu acho que as escolas brasileiras não estão preparadas para receber estes alunos, ainda mais estes, que já estão acostumados com a escola especial. As escolas não estão preparadas fisicamente, os professores não estão preparados.
Ainda que as escolas brasileiras estivessem preparadas para receber estes alunos, e realmente incluí-los (não apenas "anexá-los"), ainda assim as crianças e seus pais não poderiam escolher ficar na escola especial?
As crianças do Benjamin estão bem. Alguém perguntou pra elas se elas querem ser "incluidas" na escola regular? Isso é uma questão para elas? Elas se sentem excluídas?
Não sei.
Uma amiga minha faz estágio no IBC, e disse que os pais estão apavorados, com medo de que seus filhos parem de estudar; as crianças estão desesperadas dizendo que não querem ir para a escola regular.
Um outro amigo meu disse que essa história de " as escolas e professores não estarem preparados" é só uma maneira de empurrar com a barriga, agora as coisas vão ser feitas. Será?
De qualquer forma acho que já começou errado, simplesmente querendo fechar as escolas especiais.
Enfim, sei que é um assunto pra muita pauta! Mas eu fecho meu pensamento com a primeira frase do livro que temos que ler para a disciplina:
"Talvez o maior de todos os desafios para nós, humanos, seja o de desnaturalizar o mundo que nos cerca"
e faço um link dessa frase com um vídeo curtinho, é a propaganda de empresa de energia elétrica francesa, mas seria como se nós tivessemos as dificuldades que os deficientes encontram no nosso dia-a-dia.
www.youtube.com/watch?v=X-905MT2Cl4


Kim

quinta-feira, 19 de maio de 2011

Uma experiência em pré-vestibular

Há cinco anos, depois de um dia de trabalho, o destino das minhas noites era o pré-vestibular comunitário. Entre muitos questionamentos, eu oscilava entre profissões beeem diferentes: a Psicologia e a Oceanografia. Buscava conhecê-las melhor, mas como é difícil conhecer um curso sem tê-lo cursado!! Não bastava fazer pesquisas sobre elas ou ouvir relatos de quem já tinha cursado. É meio como comprar um sapato sem ter experimentado.

A única vez que apareceu uma psicóloga no meu pré-vestibular, chamou-me para conversar numa sala, só ela e eu. Sua atuação se aproximou da tradicional estratégia clínica. Como se minhas dificuldades de escolher fossem exclusivas, como se meus colegas de curso não estivessem atravessados pelas mesmas linhas que eu. Nossa "sessão" acabou sendo eu a entrevistando sobre o tal curso de Psicologia. Era como se a Psicologia pudesse ser uma profissão certa pra mim, só esperando eu a descobrir.

Infelizmente, imagino que a maioria dos pré-vestibulares se limita a adotar uma orientação vocacional clínica ou mesmo estatística. Olhando pra trás, penso em quão interessante teria sido problematizar meus critérios de escolha junto aos outros alunos para construírmos juntos linhas de fuga menos hegemônicas, desindividualizando nossa demanda.

Camila Roque

terça-feira, 17 de maio de 2011

Aprendendo a lidar com o encontro da Clínica com a Política

Retornando ao nosso último encontro quando debatemos o momento que a clínica se encontra com a política, ou melhor como a clínica é o tempo todo permeada pelas ações políticas.Eu faço um trabalho de cartografia em uma ONG, com um grupo de estudantes de pré-vestibular em uma comunidade carente, do Rio das Pedras,e essa demanda chegou até nós, para que pudéssemos trabalhar o motivo da evasão dos alunos do curso pré-vestibular, e a partir disto resolvemos por realizar um trabalho cartográfico com a abordagem da análise institucional. Bom, após essa aula comecei a pensar como era feito este meu trabalho na ONG, como a minha "clínica" (cartografia) estava sendo atravessada constantemente pela política (ONG),como a instituição estava engendrada ao meu trabalho, pois a demanda veio a partir da instituição e por mais que quiséssemos realizar um trabalho sem questões pré-estabelecidas, essas questões já nos estavam dadas. E isto começou a me causar um incomodo muito grande, pois nos encontros que realizo com os alunos, não levo questões prontas, demandas pensadas por mim, pelo contrário eu espero que surja a partir dos alunos as questões que realmente são importantes para eles e essas sim , deverão ser questões importantes para serem trabalhadas no campo. Mas ao mesmo tempo que realizo esses trabalhos com os alunos, tenho o compromisso com a instituição de buscar os motivos pelo qual ocorre a evasão, porque essa questão é a que atravessa a instituição de forma mais enfática, mas que para mim não é a principal questão dos alunos. Esse encontro "forçado" da clínica com a política,entendendo política de um modo geral como discutimos no grupo, aquilo que preza pelo "bem maior", como a Marcela falou, muitas vezes nos imobiliza, pois somos cobrados a mostrar resultados finais quando em muitas situações esses resultados não a aparecem ou não nos é importante, pois o decorrer dos acontecimentos e os atravessamentos que ocorrem nesses momentos são mais produtivos que a objetivação de resultados finais.


Enfim, esses pensamentos tem borbulhado em minha mente durante esses dias, pois em certos momentos me sinto "pressionada" por saber que devo dar um resultado final sobre a evasão para ONG, mas ao mesmo tempo vou realizando os meus encontros um de cada vez sem pensar nessa finalização obrigatória, e faço daquele grupo que também faço parte um dispositivo único para o surgimentos de diversas questões que fazem tanto sentido para aqueles alunos, que passam também a fazer sentido para mim. E dessa forma vou "trabalhando" a questão da permanência desses alunos no pré-vestibular através de dispositivos que possam me permitir a imersão ou não da problemática da evasão.

Paula Maynarde

1984 e a Análise Institucional

Pessoal, encontrei este texto na internet e apesar de ser longo, achei muito interessante por apresentar a análise institucional a partir do livro de ficção científica: 1984 de Orwell. Além do mais, contemplar a produção acadêmica de graduandas em psicologia de outra universidade federal, a meu ver, pode favorecer diálogos interinstitucionais.

Espero que gostem do texto, que se encontra no endereço eletrõnico: http://webcache.googleusercontent.com/search?q=cache:A6HjSaBQLhoJ:analiseinstitucional.wordpress.com/+%22aN%C3%81LISE+INSTITUCIONAL%22&cd=1&hl=pt-BR&ct=clnk&gl=br&source=www.google.com.br

Luciana Pucci Santos

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Sobre o Estado:
maio 10, 2009

A INSTITUCIONALIZAÇÃO DO ESTADO PARTINDO DA PERSPECTIVA DE GEORGE ORWELL NO LIVRO 1984

Taís Ziegler e Bárbara Bezerra[1]

A Análise Institucional surge nos anos 70 como uma abordagem que propõe, através da articulação de conceitos e instrumentos de análise, a partir da emergência de dispositivos que venham a provocar os sujeitos constitutivos de tal instituição, a transformação dessas instituições e suas ações. Traremos então, o Estado futurista imaginado por Orwell no livro 1984 como nossa instituição.

A Obra traz uma reflexão acerca dos estados totalitários no momento pós-guerra que acabam tomando conta de vários países instituindo com o nazismo, stalinismo, fascismo e comunismo, regimes de governo antidemocráticos. Entendendo o conceito de Estado como sendo um processo coletivo onde a nação é esta coletividade limite, a “comunidade das comunidades” como coloca Burdeau e o Estado como sendo a “instituição das instituições” segundo Maurice Hauriou, então, temos a primeira contradição acerca da coletividade que inexiste no Estado de Orwell, pois a coletividade só existe quando os indivíduos estão implicados na formação desse coletivo, uma vez que o Estado posto em análise, se instaura de forma autoritária utilizando a repressão para que não houvesse qualquer tipo de manifestação coletiva, onde até a relação entre pessoas de sexos opostos era “proibida” (o relacionamento, homem-mulher, era visto como sendo funcional, pois deveria ser apenas com objetivo da procriação, o amor era subversivo), transformando os indivíduos em peças para servirem ao estado através do controle total.

Georges Burdeau, trazendo a idéia de que a institucionalização não seria um fato sociológico e sim um ato jurídico, criador do Estado, afirma que o Estado se forma quando o poder assenta numa instituição e não num homem, surgindo assim a segunda contradição, pois no estado criado por Orwell o poder maior é dado a uma figura humana, o Grande Irmão (Big Brother), que passa a dominar a população através de práticas de controle, como a utilização de teletelas para vigiar a sociedade, a redução do idioma (novilingui), e extirpando a memória da população para que não se tenham referências históricas para que se desenvolvam críticas, nivelando assim a sociedade de acordo com os interesses de dominação, onde apenas uma única pessoa comandava a todos. O Estado serviria para a manutenção de um status quo.

Como ferramenta da instituição totalitária que é o Estado governado pelo grande irmão, o partido IngSoc, se materializa passando da superestrutura para a infra-estrutura, na forma de quatro ministérios. Ministério da Verdade, responsável pela falsificação de documentos e construção de uma realidade favorável ao partido, no qual o personagem Winston, que é o personagem principal dessa ficção, trabalha e percebe essa distorção da realidade fazendo com que uma série de questionamentos o levem a resistir a essa simulação de realidade criada pelo grande irmão; o Ministério do Amor, responsável pelo controle rigoroso de seus cidadãos, ironicamente atende por esse nome, pois a descrição do prédio em que funcionava esse ministério era assombradora, sendo lá o local onde eram levados os dissidentes, traidores, subversivos. Os recursos do aparelho repressor do estado totalitário do Grande Irmão eram inúmeros, a paranóia social e a patrulha ideológica transformavam todos os cidadãos em possíveis vigilantes e carrascos; havia ainda o Ministério da Paz, responsável também ironicamente pela Guerra, pois no livro, a guerra é considerada um instrumento de manutenção do poder do Grande Irmão. As regras do partido eram: Guerra é Paz, liberdade é escravidão, Ignorância é força. Encontrar no outro distante um inimigo faz com que não se questionem as contradições dentro do estado totalitário e cria um sentimento coesivo típico de uma sociedade em que o estado permeia todos os níveis de relações sociais. O último é o Ministério da Fartura, que costumeiramente divulgava uma serie de boletins das produções materiais da Pista Número 1 (nome do país fictício de Orwell). Esses boletins vinham com números adulterados para simular uma possível produção excessiva dos bens e dar uma impressão de comodidade aos cidadãos. Mais uma maneira de distorção da realidade por aparelhos estatais, não muito diferentes do que faz a imprensa hoje em dia.

Numa acepção sociológica, Marx e Engels explicam o Estado como fenômeno histórico passageiro, oriundo da aparição da luta de classes na sociedade, desde que da propriedade coletiva se passou à apropriação individual dos meios de produção. Portanto, trata-se de instituição que nem sempre existiu e que nem sempre existirá, estando fadado a desaparecer, enquanto poder político. Estando aqui bem claras as concepções de autodissolução empregados na Análise Institucional, o Estado é o poder organizado de uma classe para opressão de outra, estando esses dois em movimento dialético, então, “Se toda a história é história da luta de classes é porque a história sempre foi a mesma coisa, numa palavra, pré-história.”

Uma vez que o livro foi escrito em 1948, estamos a sessenta anos à frente das previsões que George Orwell teceu em seu livro. Na época, ele fazia uma crítica de acordo com o que eles estavam vivendo, ou seja, uma crítica ao Comunismo, que teria surgido com o objetivo de dar outra solução diferente do capitalismo. Acreditando que hoje vivemos num mundo bem diferente do exposto acima, longe das sombras “terríveis do comunismo”, percebemos ao analisar a obra de George, que o nosso sistema capitalista não é muito diferente da crítica do livro, instaura-se numa produção de alienação, falta de sentido, uma verdadeira crise de identidade e que, revestida de uma pseudo-democracia, vivemos aparentemente em uma sociedade livre, a obscuridade e sutileza com que somos dominados produz uma apatia frente ao pensar, e são impostos modelos que devemos seguir. Nossas escolas muitas vezes são vistas como aparelhos ideológicos, com a finalidade de reproduzir a submissão frente a uma ideologia dominante, onde produzir, criar e até errar são desvalorizados, pois a criatividade gera transformação e o Estado necessita de uma manutenção dessa ordem. O sistema em que vivemos é pautado numa lógica esquizofrênica, pois ele não consegue ser sustentável, de maneira que a procura desenfreada por acumulação de lucros está baseada no capital intensivo e este é intimamente ligado aos recursos naturais, uma vez que esses recursos são esgotáveis, em que as variáveis econômicas não incluem os fatores sociais e ecológicos, estando portanto fadada ao fracasso. Hoje ao lermos o livro que é uma distopia, que ao contrário da utopia, é uma situação de anormalidade e traz numa forma irônica, mas muito coerente e real, um alerta ao estado capitalista em que vivemos hoje: “Capitalismo é o espaço de contradição paradoxal entre impacto do processo de circulação do capital e mecanismos de controle e disciplina normalmente vinculados ao estado, à família, às instituições.” (2008, p. 142). O mundo globalizado perde referências e a memória acaba por se esvair ao longo de tantas normatizações. Ainda não conseguimos provocar mudanças significativas na história, ainda vivemos em um mundo pautado numa lógica que foi tão institucionalizada e incrustada no nosso pensamento, que não conseguimos provocar fissuras para que esse modelo seja reestruturado e a partir daí, que realmente façamos uma revolução de paradigmas. Já que “os indivíduos conhecem, pensam e agem segundo os paradigmas inscritos culturalmente neles. Os sistemas de idéias são radicalmente organizados em virtude dos paradigmas.” (MORIN, 1991 p.188).

Vários autores e pensadores como Geoffrey Chew, Fritjof Capra, David Bohm entre tantos outros, tentam agora desenvolver novas teorias filosóficas que reúnam condições de criar novas visões de mundo, a filosofia bootstrap, ao cindir com a visão antiga que procura elementos fundamentais e leis que regem certos tipos de movimentos, buscando explicações exatas, verdades e certezas, traz essa nova visão do universo como sendo uma teia de relações onde não existe centro e sim processos dinâmicos inter-relacionados. Alberto Guerreiro Ramos extrapolando essas pesquisas para o campo das relações sociais e políticas junto com a visão sistêmica dos sistemas administrativos, procura demonstrar a importância de processos descentralizadores, cooperativistas e ecológicos.

Vimos nesta análise que a experiência histórica socialista ruiu, vítima de sua pragmática identificação com o progresso material (isso vale para o Estado e as pessoas), o comunismo empenhou-se em desenvolver a infra-estrutura, e não na formação da sociedade civil e na democratização da estrutura política. Tanto o capitalismo como o comunismo, estão inseridos na perspectiva materialista da construção de riqueza, em que esse capital estaria norteando suas ações. Uma sociedade que entendesse que esse conjunto inter-relacionado de pessoas, sistemas e organismos vivos, deveriam estar de acordo com os movimentos da vida, como na visão biocêntrica, que a vida seja o centro dando conta de todas as variáveis sociais e ecológicas, assim, permitindo que nada fosse centralizado e nada fosse excluído das condições que exigissem a perpetuação da VIDA em todas as suas formas. A igualdade seria atingida num nível de cooperação entre os seres ligados nessa teia dinâmica, onde a liberdade de pensar e criar daria condições para “evoluirmos” de forma coletiva e não individualista, através do cooperativismo e não competitivamente, como propõe a autogestão.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ARANTES, P.E. O que está vivo e o que está morto no manifesto comunista? Estud.av. vol.12 no.34 São Paulo Spt./Dec. 1998. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0103-40141998000300017&script=sci_arttext

CAPRA, Fritjof. Sabedoria Incomum. Editora Cultrix – São Paulo. 1990.

BURDEAU, Georges. O Estado. São Paulo: Martins Fontes, 2005

HAURIOU, Maurice. Principíos de derecho público y constitucional. Trad. de Carlos Ruyz del Castilho. 2. ed. Madrid : Instituto Editorial Reus, [s.d.].

MORIN, Edgard. Introdução ao pensamento complexo. Lisboa: Instituto Piaget, 1991.

RAMOS, A.G. A nova ciência das organizações. Uma reconceituação da riqueza nas nações. Rio de Janeiro, Fundação Getúlio Vargas, 1981.

E aí?

E aí? Essa pergunta vem depois... Vamos começar do início: o disparador do último grupo. Somos seres políticos, nesse sentido somos afetados pelo ambiente social onde nascemos, pela classe social de nossos pais, pelas instituições que atravessaram as nossas vidas. Podemos, então, dizer que fazemos parte de uma torcida de determinado time de futebol e não de outro, que somos de uma comunidade tal e não de outra, que somos da Zona Norte o e não da Zona Sul... Talvez possamos dizer isso e permanecermos tranqüilos de pertencer a determinado grupo e sentirmo-nos superiores com relação aos demais que compõem outros grupos. É exatamente essa forma de pensar “tranqüilizadora” que permitiu a emergência de um holocausto como o que ocorreu na Guerra do Kosovo (1996), onde antigos vizinhos de várias gerações começaram a se reconhecer como inimigos pela disseminação de determinados discursos racistas e segregadores, pelo medo do outro. Também nós, se nunca pararmos para pensar em tudo aquilo que engendra nossas ações, podemos passar toda a nossa vida alienados daquilo que, muitas vezes, nos determina.

O problema começa quando começamos a pensar, a pensar na escolha da escolha, a pensar que somos seres políticos, a pensar que diariamente reproduzimos modelos de comportamento (e de pensar) pré-determinados. Ao compreendermos isso poderemos voltar à pergunta inicial: e aí? O que fazer com isso? Como agir de forma não ingênua, entendendo que nossas atitudes não são tão livres como nós havíamos pensado até então? Podemos então, finalmente, nos perguntar: a que interesses estamos servindo? As respostas, nós sabemos, não são fáceis de achar, mas talvez só o fato de não termos mais tanta certeza já seja um bom sinal...
Paula Rubea

segunda-feira, 16 de maio de 2011

Para dormir sobre a aula de amanhã:

Um vídeo maravilhoso do Galeano sobre a política, a vida cotidiana ou a política na vida cotidiana... Vale (muito) a pena ver.

Mas antes de ir... sobre os nomes novamente... Quando derrepente o comentário sobre o "Anônimo" apareceu no fim da última aula, me reacendeu os sentimentos da primeira vez que entrei no blog. Ainda era um momento de estranhamento do "dever", postar em um blog como forma de avaliação de uma disciplina ?!? Praticamente uma revolução! Meu primeiro sentimento foi de pura alegria e alívio, mas logo me veio a lembrança, de quando, durante uma aula o próprio Pedro comentou como surpreendentemente houveram muitas reclamações sobre o novo modo de avaliação. Pensando agora acho que era a sementinha...
Ao escrever meu (primeiro) post me deparei com um (grande) problema. As assinaturas, primeiro ponto: eu NÃO queria assinar! Comecei a tramar a "contra revolução". Seria muito mais interessante se o post fosse anônimo, sendo o foco apenas o conteúdo,e o autor... bom, se descobriria (ou não) durante as conversas nas aulas. Se era uma questão de vergonha ou uma vontade revolucionária autentica eu não sei, só sei que me incomodou a tal ponto que os nomes entre parênteses foram um ultraje para mim.
Se havia uma obrigatoriedade de se identificar, afinal essa seria sua "prova", colocar entre parênteses o nome era uma forma de....de passar a perna no meu incômodo! Era como fingir que só importava o texto, afinal o que entra no parêntesis poderia muito bem não estar lá, mas está, ainda assim está! Foi esse meio termo que me enfureceu, esse em cima do muro.
Há que se ter um autor, pois bem, que seja pleno. Que não se esconda a obrigatoriedade.
Agora lendo o texto de amanhã, gosto de pensar que em realidade buscava levar a luta as últimas conseqüências, e que talvez as reclamações do outro semestre sobre o blog também o eram (ou não, afinal não sei sobre que exatamente estas versavam.) Só sei que, como dor de injeção, passou, pelo menos assim eu achava até aula passada...

Isso tudo porque fui convocada uns posts abaixo e porque alguém postou essa foto fantástica aqui embaixo, sem colocar o nome! Urra! um legítimo anônimo! Seja quem for, mantenha a resistência e não se identifique! brincadeira.

Aymara
sem parêntesis
Andando por Salvador, deparei-me com uma placa interessante:

terça-feira, 10 de maio de 2011

Política

Hoje na aula me lembrei muito de um livro do João Ubaldo Ribeiro que se chama "Política - quem manda, por que manda, como manda." Transcrevo abaixo alguns trechos que discutem essa questão da inevitável implicação política de todos nós e dos perigos de se pensar apolítico...

“É impossível que fujamos da Política. É possível, obviamente, que desliguemos a televisão, se nos aparecer algum político dizendo algo que não estamos interessados em ouvir. Isto, porém, não nos torna “apolíticos”, como tanta gente gosta de falar. Torna-nos, sim, indiferentes e, em última análise, ajuda a que o homem que está na televisão consiga o que quer, já que não nos opomos a ele. O problema é que, por ignorância ou apatia, às vezes pensamos que estamos sendo indiferentes, mas na verdade estamos fazendo o que nos convém. (...) Quando alguém diz,como é freqüente lermos em entrevistas aos jornais, que “não liga para a Política”, está naturalmente exercendo um direito que lhe é facultado pelo sistema político em que vive. Ou seja, em última análise, está sendo um político conservador, não vê necessidade de mudanças. Então não é apolítico, no máximo, falta-lhe a consciência de seu significado e papel político. (...) A Política não é, pois, apenas uma coisa que envolve discursos,promessas, eleições e, como se diz freqüentemente, “muita sujeira”. Não é uma coisa distinta de nós. É a condução da nossa própria existência coletiva, com reflexos imediatos sobre nossa existência individual, nossa prosperidade ou pobreza, nossa educação ou falta de educação, nossa felicidade ou infelicidade.
É claro que uma pessoa pode não se preocupar com a Política e os políticos. Trata-se de uma escolha pessoal perfeitamente respeitável. Mas, quando se age assim, deve-se ter consciência das implicações, pois se trata de uma atitude de passividade que sempre favorece a quem, em dado momento, está numa situação de mando dentro da sociedade.”

(Laura Bloch)
PS: Parênteses em homenagem à Aymara ;P

"Escovar a história a contrapelo"

Gostaria de voltar a uma aula passada, não me lembro qual foi.
Fiquei com uma frase marcada e achei interessante relacioná-la com uma poesia do Manoel de Barros.
Lívia contava-nos sobre um de seus atendimentos na Maré. Num deles, o adolescente diz querer ser alguém na vida. Achei a intervenção da Lívia brilhante: “E o que é ser alguém na vida?” (Acho q foi mais ou menos assim. Foi o que me ficou marcado.)
Mas enfim, sua intervenção lembrou-me o poema de Manoel de Barros "Uma didática da invenção". Para quem não o conhece, aí está:

"Desinventar objetos. O pente, por exemplo. Dar ao pente funções de não pentear.
Até que ele fique à disposição de ser uma begônia. Ou uma gravanha.
Usar palavras que ainda não tenham idioma."

Por que ser alguém na vida é necessariamente ter uma profissão, ser graduado em alguma coisa, ganhar muito dinheiro, enfim... Por que aceitamos este modo-indivíduo sem questioná-lo ou sem tentar “desinventá-lo”?
Sobre a intervenção da Lívia, achei brilhante, pois muitos responderiam a este jovem, que sim, que dele deve estudar, ser médico, atingir um fim específico, um status, enfim, alguém que se enquadre nos moldes da subjetividade capitalística.
Devemos “escovar a história a contrapelo” (Walter Benjamin). Subverter a função do pente é um meio de escovar a história a contrapelo. É claro que não podemos voltar ao tempo, nem fingir que esquecemos o que sabemos, mas o que podemos fazer é localizar a pergunta no uso que se faz do que sabemos. Assim, o que fazemos da Psicologia? Este grupo tem me feito questionar o uso que faço deste saber, o poder que temos sobre ele, e de que forma podemos inventar outras práticas, sem reproduzir normas, padrões imersos em nossa subjetividade.

(Maria Luiza Iusten)

sexta-feira, 6 de maio de 2011

O Grupo como instituição

O grupo se configurando como uma instituição, na qual se destaca o círculo, o laço e o número restrito de participantes, erige uma tentativa de solução para o impasse entre o indivíduo e a sociedade? Terá ele conseguido romper o dualismo paternalista de nosso tempos? Estará habitando o entre aquilo que pode devir dos encontros ou, ao contrário, terá ele também sucumbido ao antagonismo substancializador do indivíduo e/ou da sociedade? (Regina Benevides de Barros)
Na última aula, os depoimentos das estagiárias acerca do trabalho de análise do vocacional na Maré evovou esta ambiguidade que li no texto da Regina sobre Grupo.
De um lado, foi muito vívido e transparente a importância que tem na experiência de cada estagiária a realização da intervenção, na forma de grupo, nos cursos comunitários.
Entrentanto, a enunciação de seus discursos me fez ser atravessada por inúmeras advertências de Foucault sobre a reprodução automática dos valores de criminalização de classe preconizados em nossa sociedade do controle.
Parece-me que não é o dispositivo grupo a via de despojamento dos processos de subjetivação enunciados em nosso cotidiano, pois pude perceber o quanto de assistencialismo e de paternalismo nos constitui quando se quer pensamos ou agimos em ambientes desassistidos.
Muito da fala das estagiárias me mostrou o quanto não está presente uma equidade entre estas e os moradores da Maré, o quanto há de um nós e um eles, um de lá e um de cá. Em que ponto se perdeu a capacidade de se entender que somos todos um, uma espécie entre tantas outras convivendo no mesmo espaço e na mesma época a compartilhar sua expressão individual, que nada mais é do quo social.
Pois é na sociedade e no grupo que se deve buscar uma explicação para a vida individual. Estará, a partir daí, implantada a ideia de um amente (ou consciência) coletiva que se diferenciará da mente (ou consciência) individual, sendo que é a primeira que dá existência à segunda. O indivíduo pensado fora da sociedade e/ou do grupo é uma abstração (Durkheim).
Contudo, parece enigmático considerar que promovemos um reducionismo absurdo dos grupamentos sociais a que pertencemos a ponto de eliminarmos a noção de todo e passarmos a ser incapazes de rever este postulamos e nos percebermos como iguais, como um todo e assim podermos nos posicionarmos lado a lado.

(Luciana Pucci Santos)

terça-feira, 3 de maio de 2011

Grupo

(Debora Navarro)

Saindo um pouco do tema das escolhas e falando sobre o tema "grupo", gostaria de compartilhar algumas ressonâncias que o nosso trabalho tem causado sobre mim.

Eu sempre fui meio "anti-social", só gostava de brincar sozinha, comigo e com a minha imaginação louca, e sempre tive um certo medo de interagir. Na medida em que fui fazendo amigos, esse medo cessou um pouco, mas logo foi voltando devido a más experiências com "amigos" que me magoaram de vários modos, em grupo - seja voltando as pessoas contra mim, seja dois grupos de amigos diferentes se juntando e se "esquecendo" de mim. Na faculdade, encontrei um ambiente no qual eu podia me sentir a vontade e querer de fato conversar com as pessoas, e conhecê-las, me conectar com elas - coisa que, apesar de tudo, é o que considero nosso maior bem como humanos, viver pela riqueza da partilha. Ainda assim, me resguardava no quesito trabalho em grupo, e tive bastante dificuldade de lidar com a idéia de formar um grupo para esta matéria. Nem me importei com a questão de se expôr, porque acho que é isso que é belo de se fazer (é aí que se dá a comunhão da partilha, da troca...).

Gostaria de dizer que simplesmente me apaixonei por essa abordagem de deixar fluir a discussão no grupo, sem objetivo a ser alcançado, estar totalmente aberto às questões que surgem ali, no momento. Achei isso tão simples, tão essencial, tão mágico: exatamente porque traduz o lindo universo caótico no qual pulsa a vida, sempre em movimento, eterna autopoiese de destruição e construção. Analogicamente, na mitologia indiana, esse método traduz Shiva na sua maior expressão. Nos afastando de pretensões científicas de progresso, nos aproximamos de uma forma mais viva de terapia - não de um tratamento propriamente dito, mas de uma forma de lidar com o caos de cada dia, produzindo subjetividades de modo criativo. Assim, multiplica-se a vitalidade naquele espaço, e esse vibrar da borboleta pode ser ouvido do outro lado do mundo.

Em resumo, esta disciplina me ajudou (e está me ajudando) a descobrir uma nova forma de enriquecer a vida em geral: o borbulhar do grupo disposto a se colocar de dentro para fora, de modo que a individualidade deixe de ter essa importância fumegante que caracteriza nossos dias de hoje. Essa "transcendência" se mostrou, para mim, algo que Nietzsche remete ao que deveria significar vida para todos nós: um quadro que eu gostaria que se repetisse para a eternidade.

aula síntese?

Oi gente!

Confesso que sempre saio da aula pensando mil coisas, mas quando sento na frente do computador parece que não consigo mais refazer as linhas de pensamento que se seguiram anteriormente. No entanto, hoje a aula foi tão "palpável" que consegui sentar e começar a escrever.
Eu gostei muito da aula de hoje, ela me pareceu uma síntese porque retomou muito do que já havíamos discutimos anteriormente, exemplificou o trabalho em si e, além disso, surgiram novas temáticas que não tinham passado na minha cabeça dentro do tema "Análise do Vocacional". Achei até engraçado quando a Lívia falou que óbvio que ela esperava que em algum momento surgisse a temática do tráfico, das armas, etc"; mas em nenhum momento isto passou na minha cabeça. Nesse sentido é que me dei conta do quão importante é o levantamento das questões na dinâmica "a minha maior dificuldade". Quando nós fizemos essa dinâmica durante a aula, eu não tinha entendido desta forma. Inclusive, quando a Aline falou que possivelmente abram um grupo de discussão sobre sexualidade, porque estas são as questões que estão sendo demandadas no grupo, achei sensacional! Porque foi aí que percebi o trabalho como algo que para além da diferença da orientação profissional, e realmente entender quando o Pedro Paulo fala "quem é esse sujeito que escolhe?". Quem é ele? Quais as suas questões? Quais as suas demandas? Conseguirá ele viver no mundo das incertezas? Ou como disseram o Pedro e a Flavinha, é muito importante "apostar" e deixar espaço para que o inesperado ocorra (ou foi quase isso hehe)..
Para fechar meu pensamento, lembrei de uma frase que li num texto sobre Fenomenologia da Yolanda Forghieri:

"Viver é muito arriscado" afirma um dito popular; por isso, como diz o filósofo Tillich (1972), é preciso ter-se "coragem para ser", coragem para viver a nossa vida, diante de tantas inseguranças e dos perigos que continuamente nos ameaçam.

(Kim)